Capítulo VIII

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Anastácia e Billy estavam sentados em suas respectivas camas conversando acerca do plano que os livraria do manicômio. Pelo que ouviram através das paredes minutos atrás, podiam confirmar que os enfermeiros viriam ao encontro deles, provocando-lhes desafortunos e retardando a estratégia de fuga. Não obstante, quando se passara mais de meia-hora, a teoria de que não voltariam corroborou-se. Eles teriam sossego pelo menos por essa noite.
Não havia como medir o tempo, pois as paredes eram despidas de relógios ou qualquer outra decoração que os pudesse entreter. Era uma noite estranha, a lua se escondera muito bem atrás das grandes nuvens acinzentadas.

- Entendeu o esquema? - indagou Anastácia, quebrando o silêncio após decidirem a hierarquia de acontecimentos que culminaria em burlar o sistema de segurança e ir muito além dos muros do manicômio. Billy estava distante, seus olhos tinham um brilho diferente. Todavia, não era alegria que denotavam, mas sim receio e medo.

- Entendi, sim - respondeu Billy - , mas não tenho certeza se é isso que eu quero. Quando eu sair daqui, não sei o que será de minha vida.

- Pode ter certeza de que serão bem mais cruéis com você aqui. Já sofri o suficiente na mão daqueles desgraçados a ponto de conhecer a pior face da humanidade. Mas há quem diga que outros pacientes sofreram torturas a níveis patológicos e irreversíveis. Não quero ter de descobrir isso na prática...

- Mas eu não tenho um lugar para onde voltar, entende? Minha genitora apunhalou-me mais com seu discurso de ódio do que com a tentativa de homicídio.

- Eu também não tenho para onde ir, casa não é uma alternativa. Também tenho um passado assustador com meus parentes. Quero cursar moda, sempre foi o meu maior sonho. A patroa da minha mãe colocou-me nas melhores escolas, não posso negar que tive um ensino de qualidade. Ela depositou em mim todo o amor da filha que nunca teve. Mas não a tenho mais...

- Sinto muito por isso - disse Billy, com um aperto no peito - Para falar a verdade, eu não sou totalmente sozinho... - Após ver que Anastácia estava abrindo-se com ele, resolveu contar sobre seus últimos alentos - pretendo tirar minha irmã Rose das garras daquela mulher perversa. Mas para isso preciso de uma casa e estabilidade financeira. O problema é que não me vejo fazendo outra coisa da vida senão desenhando. É quando eu me liberto, sinto que nasci para isso. Quero levar alegria às pessoas mesmo nas épocas mais difíceis. Soube de um estúdio de animação que está fazendo isso no momento. Não são só desenhos... tem sentimento, um propósito mais abrangente.

Anastácia estava maravilhada com os sonhos de Billy, seus olhos adquiriam um brilho intenso quando falava de suas aspirações. Dando continuidade, Anastácia disse:

- Também pretendo ajudar as pessoas, caso realize os meus sonhos. O capitalismo tem nos explorado com ardor, principalmente o proletariado. Minhas peças chegarão a todos, até aos que não podem comprá-las, me encarregarei disso - dando uma pausa, Anastácia refletiu por um tempo - mas não antes de resolver meus problemas internos. A magia existe e eu vou provar.

- Anastácia, eu estava pensando... posso ir com você até a casa desse alquimista? Também preciso resolver esses problemas.

- Mas é claro que pode! - Anastácia ficou entusiasmada, tudo que mais queria no momento era alguém com quem dividir um sonho - Aliás, você deve. Não estou completamente certa acerca da veracidade dos poderes desse homem, mas com certeza ele nos entenderá. É bem afrontoso, veio do Canadá para os Estados Unidos sozinho quando tinha dezesseis anos. Desde então, vive engajado em causas sociais. Certa vez foi preso por estragar um evento famoso no qual as celebridades esbanjavam joias e roupas caras. Era absurdo fazer isso durante a primeira guerra mundial... tinha tanta gente passando fome. E agora estamos vivendo isso de novo.

O PenúltimoWhere stories live. Discover now