Capítulo I

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O que estaria escondido debaixo da cama?
E se houvesse algo dentro do armário?
Tudo estava tão escuro...
O pequeno Benício vivia estarrecido, devido aos pesadelos que o perseguiam todas as noites, e aos monstros que habitavam neles. Todo cuidado era pouco. Os irmãos mais velhos resolveram que, querendo ou não, ele dormiria no quarto de hóspedes, sozinho. Quando as crises de pânico atormentavam-no, os olhos reviravam, o suor gelado descia pelo rosto, e o corpo começava a se contorcer em cima da cama, tudo que eles mais queriam era distância do caçula. Paulo, o mais velho, era quem mais perturbava o pequeno. Já não bastasse os sustos pelos quais o garoto passara, Paulo se dava ao trabalho de, todas as noites, jogar pedras em sua janela, provocando um temor absurdo.
A noite estava gelada... o vento soprava com intensidade. Assim, a vela a qual dona Josefina, a mãe de Benício, deixara em cima da mesa de cabeceira, não duraria muito tempo. E assim foi feito!
O quarto tornou-se completamente escuro. Era o esconderijo perfeito para as mais terríveis criaturas.

Beniiiiicio

- Eu disse pra ir embora, babaca! Eu já sou um homem agora. Fiz dez anos semana passada.

- Isso é o que você acredita, ou o que disseram a você?

- Faz diferença?

- Não parou pra pensar que eles podem estar te enganando? Só querem se ver livres de você. Deixaram-no sozinho aqui!

- Eu não quero ouvir.

O pior dos monstros encontrou o garoto naquela noite: a ansiedade.

- Te deixaram aqui porque és um fardo para eles!

- É MENTIRAAAAAAA!

Levantou-se da cama o mais rápido que pôde, adentrando o corredor escuro, à procura do quarto dos pais. Há cinco noites eles não dormiam, mas aquela parecia ser diferente. Um casal com seis filhos raramente conseguiam tempo só para eles. Relembrar os velhos tempos, quando a vida parecia ser mais fácil, era tudo que eles mais apeteciam no momento. Porém... sempre tem um porém...

TOC-TOC-TOC!

- Benício! - disse senhora Josefina - vai dormir, eu estou cansada.

- Como sabe que sou eu? - perguntou o garoto.

- Quem mais bateria à porta do quarto a esta hora da noite?

- Eu posso dormir com vocês hoje?

- Já conversamos sobre isso! - disse Olavo, o pai do garoto.

- É que tá sendo difícil se acostumar ao novo quarto...

- Eu vou lá, já volto - disse Josefina, com um olhar sonolento, tentando se levantar.

- Você não pode fazer tudo que esse garoto pede.

- Esse garoto é o nosso filho, e ele precisa de mim.

Antes que ela pudesse se levantar, Olavo puxou-a pelo braço.

- Depois não reclame quando eu me aventurar por aí!

- Faz o que você quiser!

Soltando-se rapidamente, Josefina partiu rumo à porta. Ao abri-la, viu que Benício estava com os olhos marejados.

- Eu vou dormir com você, tudo bem?

- E quanto ao papai?

- Ele sabe se virar sozinho.

- Eu também sei.

- Se soubesse mesmo, não teria me procurado.

Era uma mulher forte, que já passara por diversas desventuras, mas que sempre carregava um sorriso no rosto. Porém, aquela noite, ela não conseguiu disfarçar o desânimo. Tratou o filho da melhor forma que pôde, mas a frieza era perceptível em seu olhar. Benício nem se importava, só queria ter a presença da mãe consigo.
Ao chegarem ao quarto, Josefina deitou-se com o garoto na cama, acendendo a vela novamente.

O PenúltimoWhere stories live. Discover now