- O que estás a fazer?

- Procurava isto. - Scarlett diz assim que retira o meu maço de cigarros do bolso e o abana à frente dos meus olhos. Arregalo os olhos, devido ao espanto, sem saber muito bem o que prenunciar. Não esperava vivenciar este momento visto que não somos assim tão chegados. - O que foi? - Ela questiona, confusa.

- Chegaste aqui e nem sequer pediste. Grande lata que tu tens!

- Obrigada, sabia que compreenderias.

Scarlett senta-se nos dos degraus de pedra existentes à entrada da porta principal e aproveito para me sentar a seu lado. Ela não parecia ter grande receio em fumar aqui, perante os jovens estudantes e perante os encarregados de educação que, coitados, esperavam dentro das viaturas pelos irresponsáveis dos seus filhos. Normalmente, os adolescentes precisam de se trancar numa das cabines de casa de banho públicas, ou então de irem para quelhos, para conseguirem fumar à vontade, sem receio de serem apanhados. Eu, tal como Scarlett, não tenho necessidade de me esconder pois, de qualquer das formas, a minha avó não iria aparecer por aqui, fosse em que circunstância fosse.

O olhar claro da rapariga estava colocado no maço de tabaco, divertindo-se com a abertura nova e, a meu ver, mais prática do mesmo. Sorrio encantado ao olhá-la enquanto um sentimento caloroso parece querer queimar o interior do meu corpo. Do interior do pacote, Scarlett retira dois cigarros acabando por partilhar um comigo.

- Tão querida. Obrigado por partilhares os meus cigarros comigo.

- Sempre às ordens.

Retiro o isqueiro do bolso esquerdo das minhas calças e atiro-o para Scarlett. O mesmo, inacreditavelmente, acaba por cair nas suas pernas fazendo-me festejar com a minha pontaria certeira. A morena agarra no mesmo e não é capaz de acender o cigarro, que segurava entre os seus lábios, sem antes acender o lume por apenas diversão. Admito que, por vezes, em noites solitárias e sombrias me vejo na mim próprio a girar a roldana de metal do isqueiro apenas para puder contemplar a chama proveniente do mesmo.

- Obrigada. - Scarlett agradece e logo me devolve o isqueiro. Deixo o material ardente queixar a ponta do cigarro e logo me antecipo a inalar o fumo tóxico. Aguardo um pouco com o fumo no interior da minha boca, para que o mesmo não irritasse a minha garganta e, uma vez que o levo até aos meus pulmões, deixo o fumo escapar-se de forma natural.

Scarlett parecia apreciar o seu cigarro sendo por isso a última a finalizar a ação. O seu corpo acaba por ir contra o meu e, quando dou conta, tenho a sua cabeça pousada sobre o meu ombro. Ela remexe-se, prova de que não se encontrava lá muito confortada, e tento também ajustar-me um pouco pois não queria, de todo, perder o contacto com o seu corpo. Honestamente, eu sempre pensei que ela iria ser muito mais rude do que Kylie.

É estranho compará-la a Kylie pois, ainda que conheça Scarlett há menos tempo, sinto o contrário. Além disso, nunca Kylie se atreveria a sair comigo por iniciativa própria.

Scarlett entrelaça os seus dedos nos meus, fazendo-me notar a diferença de temperaturas a que os nossos corpos estavam. Ambos tínhamos as mãos quentes mas, agora que é possível comparar, posso concluir que as minhas mãos fervilhavam. Scarlett, escondida pelos seus cabelos compridos, acaricia a minha pele com o seu polegar.

- Tens as mãos muito quentes.

- E tu tens um coração muito frio.

- É um facto. - Ela comenta, sem sequer negar a minha afirmação. Não queria, de forma alguma, que ela tivesse levado a sério. Eu apenas queria que ela brincasse com a situação, ou até, que me dissesse algo sarcástico.

- São dois factos sendo assim. - Eu digo, incluindo a citação dela para com o estado das minhas mãos.

Scarlett prime a tecla de desbloqueio do seu telemóvel, unicamente para ver as horas. O contacto é perdido quando a mesma se levanta e acabo por copiar a sua ação. O maço de tabaco é me entregue e, juntamente do isqueiro, guardo no bolso direito do meu casaco.

- Onde vamos agora?

- Para a coisa mais interessante do mundo! - Ela diz cheia de animação.

- Sexo? - Digo parecendo esperançoso, ainda que fosse apenas e unicamente para brincar com ela.

- Quase, mas não. Teatro! - Ela diz, cheia de energia.

Admito que quando Scarlett disse teatro não pensei mesmo que ela se estivesse a referir a isso. Neste momento, estou de braços cruzados e sentado numa das cadeiras de plástico brancas, que havia à disposição em frente ao pequeno palco da escola. Apenas não estou a mexer no telemóvel pois, apesar de tudo, eu quero impressionar Scarlett e mostrar-me interessado para com as suas coisas.

Não é muito grande o número de pessoas inscritas nesta atividade extracurricular e, pelo que sou capaz de retirar disto aqui, cada vez me dá mais certezas de que rugby é o desperto perfeito para eu praticar.

Uma vez que os alunos pegam nos pequenos guiões e começam a dramatizar, algo diferente se faz surgir. Scarlett parecia encarar verdadeiramente a personagem e, para um estúpido como eu o notar, é porque a encenação está realmente bem-feita. Claro que Scarlett não está com as roupas de espetáculo que provavelmente irá usar no dia da apresentação, mas a forma como ela citava as falas da peça de teatro, é deveras esplêndido e impressionante. Vê-se mesmo que ela tem gosto no que faz.

Por vezes, a jovem morena de lábios carnudos e, habitualmente, retocados com um gloss acenava-me, ou então, piscava-me o olho. Sei que apenas o fazia para me notificar de que não se havia esquecido de mim. As suas picardias constantes no desenrolar da hora e meia foram o que e fizeram ficar até ao fim. Coisa que eu não pensava conseguir.

Inconsciência  》 irwinWhere stories live. Discover now