6. Asas de Ferro

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O plano que meu pai criou era bom, mas como eu estaria mais seguro fora do esconderijo do que dentro? E ele ficaria ali, inseguro, junto com o Rei? Me perguntei até mesmo se aquilo estava ultrapassando da palavra "estranho", mas meu pai não iria me deixar desprotegido. Qualquer ideia ou plano que saía do que é considerado a segurança do Rei, era muito suspeito. Por que eu? Por que não o Rei?

Espantei todos aqueles pensamentos da cabeça, provavelmente Luka ou os outros estariam ouvindo, e segui meu pai à cozinha. Esperamos alguns dos cozinheiros se afastarem de uma parede próxima a um armário onde, provavelmente, era a passagem ao primeiro andar.

— Max, quero dizer algo antes — ele começou aparentando tristeza e preocupação. — Quero antes de tudo que saiba que te amo, você me faz lembrar de sua mãe todos os dias em que me olha com esses olhos cinzas — disse acariciando meu rosto e ressaltando uma característica marcante da mamãe. — Aconteça o que acontecer, confie em Scarletty.

— Irei — ressaltei sem compreender.

— Em qualquer situação quero também que a proteja, como sempre fizeram. Se um dia quiser casar com ela, você tem minha permissão e bênção.

— O que? — disse arregalando os olhos, ele estava brincando comigo? Afinal, eu nem gostava de Scarletty ao ponto, eu acho.

— Prometa que não se esquecerá do que disse, nunca, e que me guardará em seu coração junto com sua mãe.

— Pai?

— Max, por favor — observava seus olhos lacrimejarem, mas eu não queria aceitar o que ele estava pensando.

— Prometo — disse espantado e hesitando meus pensamentos.

— Mais uma coisa, Max — ele disse apertando uma sequência de pedras na parede que eu fui incapaz de decorar. — Sua mãe dizia algo para me encorajar, "quanto sou capaz de ser, se não sei quem sou?" — citou sorrindo e olhando fixamente em meus olhos. — Quero que, daqui para frente use essa frase, "quanto sou capaz de ser, se não sei quem sou?", e quero também que coma todos os Barry Cheesecakes, assim como sempre fez.

— Eu vou — as únicas palavras que saíram da minha boca antes que eu me jogasse em seus braços o mais forte que pude.

— Feliz aniversário, meu filho — suspirou profundamente. — Conquiste Ellarion, olhinhos cinzas — concluiu após me colocar na passagem e fechar a porta.

A escuridão era levemente iluminada por tochas distantes umas das outras, mas para mim não faziam diferença.

Subi os degraus lentamente, minha força me abandonou no instante que aquela porta havia se fechado. Talvez eu devesse voltar, bater naquela porta e dizer tudo o que queria, pedir perdão por cada sobremesa roubada, por cada frustração que causei, dizer que o amo. O único conforto que senti foi a sensação de que ele sabia tudo isso, cada sentimento, ele sabia sem que eu precisasse falar.

"Max, vai ficar tudo bem, os outros não sabem o que aconteceu" ecoou a voz de Luka em minha mente. "Obrigado", respondi com a primeira palavra que veio à mente e me soltei no degrau. As lagrimas não caíam, insistiam com a esperança de que tudo ficaria bem, mas, naquele momento, aceitei o que estava por vir. Por vezes sonhei com situações em que minha mãe estaria me acompanhando, meus aniversários, meus amigos, minha coroação, minha vida. Em cada detalhe tentava imaginar ela, olhos cinzas, um vestido azul claro simples e com algumas delicadas flores, poucas joias, longos cabelos ondulados da mesma cor que o meu, ou talvez mais escuros, e um doce sorriso. Não a tive por muitas vezes, mas tinha meu pai, com aquele cavanhaque, seu cabelo grisalho com alguns fios escuros, um pouco mais arrumado e curto que o meu, seus olhos, castanhos claros com uma linha preta em volta, como a que eu também possuía em volta de meus olhos, porém seu olho esquerdo possuía uma mancha cinza, sentia que isso era parte da mamãe que adentrou sua alma.

Espadas & MagiaWhere stories live. Discover now