Capítulo dois

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POV. ANY

Embora o protesto fosse sincero, Any tinha que admitir que apenas observara o vizinho algumas poucas vezes e nos raros momentos em que ele saía para apanhar o carro que deixava estacionado no pátio dos fundos da casa.

Tratava-se de pelo menos 1,80m de puro músculo, que a maioria das mulheres poderia taxar como potencial masculino rudimentar. Não era à toa que ele exibia um visual de autoconfiança. Mesmo à distância, ele parecia irradiar testosterona por todos os poros e despertar os instintos femininos de que o estivesse observando. Não que fosse o caso de Any. Bem... Não tanto... Felizmente, ela agora se sentia imune a homens daquele tipo. Arrogantes e presunçosos. Dos que consideram as mulheres como objetos de satisfação temporária. Homens como Caio, que se infiltrara na vida dela um ano antes com aquele sorriso charmoso, roupas caras e mãos espertas. E, três meses depois, desaparecera, levando com ele uma parte de seu coração e muito do seu amor próprio.

E, desde que isso acontecera, Any jurou para si mesma nunca mais se deixar enganar por homens ricos e bonitos.

O que ela precisava era alguém que fosse íntegro e honesto. Um homem que a amasse e respeitasse e que desejasse compartilhar a vida com ela, da maneira como Any sempre sonhava.

Joalin bufou irritada, interrompendo os devaneios de Any:

- Ainda não entendo... Não seria mais fácil apenas perguntar para ele sobre aquele estúpido gato?

Any sentiu um calor subir para seu rosto.

- Eu até tentei nas poucas vezes em que o vi. Mas ele anda tão apressado que eu precisaria ser uma corredora olímpica para alcançá-lo!

Joalin respirou fundo e manteve os dedos entrelaçados, as palmas das mãos voltadas para cima e sua posição de apoio.

- Está bem. Faça como quiser. Só não me culpe se acabar sendo apanhada pelo dono da casa.

- Pare de ser medrosa! Any exclamou enquanto apoiava o pé direito nas palmas das mãos da amiga. - Acho que ele nem mesmo está em casa. Além do mais, serei rápida e silenciosa. Ele nunca saberá que estive no jardim da casa.

- Silenciosa? - Joalin repetiu. - Você é incapaz de fazer qualquer coisa de maneira silenciosa!

- Não é verdade! Eu consigo ser discreta quando eu quero. - Any devolveu.Pelo menos era o que pretendia, pensou, enquanto impulsionava o corpo e se agarrava no topo do muro. No processo, a camiseta que usava acabou sendo arrastada até quase o pescoço, deixando o torso completamente exposto. A iluminação provinda do poste mais próximo refletia sobre sua pele morena e destacava a cor vermelha do sutiã de cetim que ela vestia.

- Que droga!

- O que foi agora? - Joalin sussurrou.

- A camiseta está tão justa que descobre o meu seio cada vez mais que levanto os braços.

- E daí?

- Daí que vai arruinar meu disfarce.

- E o que pretende fazer?

- Vou tirar o sutiã. Quem sabe, assim, o tecido da camiseta não deslise tanto.

- Mas, se tirar as mãos do muro, poderá se desequilibrar e cair!- Joalin advertiu.

- Não se preocupe. Eu seu um jeito especial de fazer isso. - E, dizendo aquilo, Any abriu o fecho da peça íntima com uma das mãos e desatou os lacinhos delicados que prendiam as alças. Depois, com as pontas dos dedos retirou o sutiã pela abertura de uma das mangas da camiseta e jogou para Joalin pegar.

Joalin observou a peça por um instante e murmurou:

- Não sei por que tem tanto fascínio por roupas íntimas extravagantes...

- Está dizendo isso porque tem inveja dos meus seios grandes - Any replicou e tornou a agarrar-se no muro. Ergueu a cabeça e analisou por um momento o arbusto espesso do outro lado enquanto ensaiava estender uma das pernas.

- Ainda não acredito que terá coragem de fazer isso - resmungou Joalin.

- É preciso. Você sabe o quanto a senhora Valdermeyer adora aquele gato.

A verdade era que Any sabia que devia muito mais para aquela senhora do que simplesmente a promessa de encontrar o gato. Quando sua mãe, Pricila, anunciou, 5 anos antes, que havia encontrado finalmente o "amor de sua vida", Any decidiu não acompanhá-la. E, aos 16 anos de idade, viu-se sozinha e terrivelmente assustada na cidade de Londres. Felizmente, a senhora Valdermeyer surgiu em sua vida para resgatá-la. E não só proporcionou um lar como também uma segurança que Any nunca experimentara antes. Por isso é que ela sentia que sua dívida com a dona da hospedaria era maior do que ela poderia pagar. E Any era o tipo de pessoa que fazia questão de recompensar de alguma maneira o bem que recebia de alguém.

- E existe uma coisa que não podemos esquecer, Joalin- Any acrescentou.- A senhora Valdermeyer poderia ter vendido o Co-op há muito tempo e se tornado uma mulher rica. Só não fez isso porque nós representamos uma família para ela. E famílias devem viver juntas.- Pelo menos, era o que Any pensava. Se ela tivesse irmãos e a mãe fosse minimamente confiável, com certeza a família seria unida.

- Sei disso. Mas não acho que a senhora Valdermeyer irá gostar se você for presa por invasão de propriedade- Joalin protestou em tom de sussurro.- E não se esqueça de que o homem não parece ser do tipo que aceita brincadeira.

Any amparou-se no topo do muro e posicionou as pernas no outro lado da parede. Antes de saltar, pensou nas últimas palavras da amiga. Talvez ele não seja para brincadeira mesmo.

- Está bem, Joalin. Seu eu não retornar em uma hora, pode chamar a polícia.

- E por que eu faria isso? Eles a prenderiam em flagrante!

Any mal ouviu o resmungo abafado de Joalin quando sentiu os pés tocarem a grama fofa do jardim da casa vizinha.

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Oiee! Não esqueçam de curtir pra eu saber que estão gostando! :)

Charme Fatal  *beauanyWhere stories live. Discover now