Capítulo 10: A chamada de Asper

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Asper surpreendeu-se ao ver Rosamund na cozinha. Era o meio da madrugada e a neve caía lá fora.

— Perdão, eu não-

— Não consegue dormir? — ela deu um sorriso cansado, triste.

Asper puxou uma cadeira e sentou-se.

— Não, e quando consigo sou atormentado por pesadelos.

— Minha Lucy sempre teve dificuldades para dormir. Desde criancinha. Muito imaginativa, era perseguida por sonhos.

— Sinto muita falta dela, Rosamund. Sei que passamos poucos dias juntos, mas Lucy derreteu a neve do meu coração.

Rosamund fitou sua caneca vazia.

Por um tempo, compartilharam o silêncio.

Enfim, Rosamund falou:

— Há um truque... Mia me ensinou quando éramos garotas. Faz a pessoa sonhar com a gente. Consiste em dormir com ervas específicas e imaginar-se conversando com a pessoa, bem antes de pegar no sono.

— O que isso poderia adiantar?

Rosamund suspirou. Olhou para Asper com olhos inchados e vermelhos.

— Quando ele me seduziu, o Conde, foi por sonhos. Eu sentia coisas que nunca fui capaz de sentir desde então. Ele me tocava, me deixava com febre, me causava um tipo de prazer que não é deste mundo.

— Sinto muito, Rosamund, mas não acho certo uma mulher casada com um amigo meu me fazer de confidente-

— Cale a boca, por favor, e me escute, Dr. Harper. Você precisa mostrar a Lucy que com você, a vida será melhor do que com o Conde. Precisa mostrar que também a amará, que também a fará sentir prazer, e que com você ela poderá sentir o maior de todos os amores – o da maternidade. Entenda, ela não está pensando nisso agora porque está vivendo sua primeira paixão com ele. Você precisa dar uma escolha a ela... a escolha de uma vida em família, uma vida mais natural, mas não sem seus prazeres, também.

Asper ouviu com atenção.

Rosamund levantou-se e pegou uma muda de ervas, enrolada com tecido vermelho. Entregou-a a ele, que aceitou com um olhar desconfiado.

— Apenas converse com ela. Não com respeito ou cheio de etiqueta, mas como um homem apaixonado, sem hesitação, sem convenções. Fale tudo exatamente como seu coração mandar, usando as palavras que realmente expressam o que sente... e talvez dê certo.

***

Uma hora se passou, e Asper ainda não conseguia dormir. As confissões chocantes de Rosamund Von Schlott haviam despertado compreensões nele, e a cada segundo que passava ele percebia que ela tinha razão. A maior sedução do Conde era que ele propunha liberdade, algo que toda pessoa desejava. Com ele, a vida de Lucy não seria de sacrifícios diários, de trabalho com hortas e animais, de comida e doenças e mortalidade. Lucy poderia ser livre para fazer o que quisesse, quando quisesse. Comer o que quisesse, falar como gostaria. Se ele oferecesse algo parecido, como a aceitação de Lucy como mulher de gênio forte e cheia de vontades, e não como uma dama que precisa obedecer aos rituais opressores da sociedade... se ela entendesse isso... poderia escolhê-lo.

Ele prometeu a si mesmo que passaria por cima de toda a educação rígida que recebera e falaria como Rosamund comandara – pelo coração.

Agora que ela não estava mais lá, Asper tomara sua cama e seu quarto para ter mais privacidade. Assim, quando a vela do quarto se extinguiu e ele ficou na escuridão gélida, ele fechou os olhos e deixou a sonolência dominá-lo.

— Lucy — sussurrou com os olhos apertados —, podemos ter uma vida linda juntos. Ela acabará, é inevitável. Morreremos velhos, porque esses são os desígnios da natureza. Mas podemos nos amar. Ardentemente.

Ele sentiu uma lágrima escorrer de seu olho e ser absorvida pelo travesseiro.

— Podemos ter filhos que vamos amar e ver crescer. Sei que é curiosa e amará trabalhar comigo na clínica de medicina, se quiser. Você poderá plantar se quiser, ler livros, ter acesso à biblioteca de Scaltheisha. E eu vou te amar... mais do que ele é capaz de amar justamente pela qualidade finita e mortal da nossa existência.

Ele pensou em Lucy, nos cabelos negros e sedosos dela, nos cílios que contornavam os olhos lindos, no sorriso que sempre parecia captar a luz do sol. Lus que ela não veria se o Conde a transformasse em uma aberração como ele. Lembrou-se de quando a viu, nua na banheira, e sentiu-se enrijecer de vontade de fazer amor com ela.

— Como mulher, Lucy, também vou te amar. Acha que não sinto por você o que sente por ele? Acha que também não me repreendi milhares de vezes pelos pensamentos ardentes de tive com você? Eu também imaginei-me tomando-a, também quis sentir seu gosto e te foder como um animal... mas eu me reprimi. Eu quis respeitá-la. Mas aí está, a verdade que fui covarde demais para admitir: eu penso em você como a luz da minha vida e a mãe dos meus filhos e minha companheira... mas também penso no seu corpo e na sua boca e na sua boceta. Não é essa a palavra que tenho pensado todo esse tempo? Então não vou esconder ela agora. Esta é toda a verdade. Você me tem por completo.

Lucy abriu os olhos e precisou fechar as cortinas da cama de dossel para bloquear a luz do sol. Passara a dormir durante o dia para poder passar as noites com Kiernan, mas um sonho com Asper a despertou.

Lucy cobriu o rosto com as mãos. O que estava fazendo naquele castelo, se um homem bom a desejava tanto? Se poderia ter uma vida normal com ele, e filhos, e amor?

Mas só de pensar em deixar este lugar e nunca mais ver Kiernan... nunca mais sentir seu toque, ouvir sua voz... Ela não conseguiria. Estava viciada em Kiernan, estava vivendo num transe constante. Assim que o sol se punha ele se levantava e a acordava enterrando o rosto entre suas pernas. Lucy acordava gemendo, e ele parava segundos antes de ela sentir-se dominada pelo prazer. Então ela o provocava enquanto comia, porque estava sempre com fome ao despertar. Dançava nua enquanto bebia vinho, cantava, e Kiernan ficava ali, deitado de lado na cama, sorrindo ao observá-la até que ela estivesse satisfeita.

Lucy descobriu, naqueles dias, que Kiernan faria qualquer coisa que ela pedisse, mas que ele tinha uma preferência pela dominação. Ela gostava de caminhar na cama e abaixar-se lentamente sobre o rosto dele. Ele dançava a língua na feminilidade dela até ela estar arfando e se contorcendo. Então Lucy caminhava até a poltrona e se curvava. Kiernan enlouquecia, enrolando o punho no cabelo dela e tomando-a por trás. Lucy não aguentava muito tempo e passava a gritar.

Eles brincavam de dar e tomar prazer um do outro por muitas horas, até que não aguentassem mais. Eles alternavam, sendo gentis e amorosos um com o outro e às vezes sendo agressivos, com tapas suaves, mordidas e agressividade nos movimentos. Quando Kiernan usou palavras vulgares com Lucy pela primeira vez – palavras que ela já ouvira de alguns homens mais simples no campo e em alguns dos livros proibidos de Mia, ela percebeu que seu prazer atingia picos inexplicáveis.

Lucy começou a chorar.

Queria estar com sua família, queria ser esposa de Asper. Queria ter filhos com ele e morar com ele em Scaltheisha.

Mas amava Kiernan com uma intensidade que chegava a doer-lhe o peito. 

Prometida para o CondeOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz