Capítulo 7 A história de Kiernan Bathory

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Lucy acordou com um ranger de metal. Viu-se na escuridão ao abrir os olhos. Depois de horas remoendo seu destino, ela havia pegado no sono. Agora já era noite. E alguém entrava no quarto.

Faz sentido, pensou rapidamente, ele não pode sair à luz do sol, portanto dorme durante o dia e vive à noite.

Uma chama se acendeu na escuridão e o rosto do Conde foi iluminado por uma vela. Um rosto tão belo que Lucy sentiu sua força de vontade rachar.

Ele movimentou-se com graça e elegância, sem produzir som. Aos poucos, os olhos de Lucy se acostumaram com a luz da lua cheia, que penetrava o cômodo pelas imensas vidraças coloridas. O Conde não usava mais sua pesada capa, apenas calças de veludo escuras e uma camisa de materiais finos e nobres, solta no pescoço, que revelava um peito forte.

— Sinto acordar você, Lucy. — Sua voz era suave, mas audível por todo o quarto, como se o ar a carregasse para todos os cantos. Ele sentou-se na beira da cama, e Lucy recuou. — Eu perdi a luta comigo mesmo. Queria deixar você dormir e se recuperar, mas meu desejo de ver seu rosto e ouvir sua voz venceu.

— Então me recuso a conversar com você e vou esconder meu rosto.

Assim, Lucy enterrou o rosto no travesseiro.

Ela ouviu a risada suave e divertida dele.

— Eu conheço você, sempre conheci. Não vai conseguir. É combatente demais para guardar sua raiva e deixar de manifestar sua indignação. Você vai lutar contra mim, Lucy, até não conseguir mais, e enfim, cederá.

Lucy voltou a sentar-se e o encarou.

— Você me arrancou da minha cama como um monstro!

Ele sorriu, exibindo dois caninos ligeiramente mais longos e afiados do que os outros dentes.

— Eu não fiz isso. Eu fui despertado pelo seu desejo, que quando pulsa entre suas pernas pulsa entre as minhas, também. É uma angústia difícil de suportar, minha bela. Então eu fui até você. E você me quis.

— Eu senti desejo pelo meu noivo, não por você!

— Não foi pelo Dr. Asper Harper que você chamava. Não era nele que você estava pensando e sabe muito bem disso.

Apesar do tom brincalhão, Lucy detectou um pouco de raiva na voz dele. Asper era claramente uma ameaça. Lucy usou isso:

— Ora, Conde, eu estava com tanta vontade de ter Asper em meus braços que naquele momento qualquer homem serviria.

O Conde não respondeu. Ele se levantou. Lucy o seguiu com o olhar, enquanto ele levava a vela até um candelabro e a usava para acender as outras, deixando o quarto finalmente iluminado com luzes bruxuleantes.

— Esta é minha mãe. — Ele disse.

Lucy ergueu os olhos para a pintura de dois metros de altura sobre uma lareira. Uma mulher bonita, com olhos cruéis e cabelos negros posava para um artista. O Conde continuou:

— Ela era inteligente e astuta e cheia de vida... até lhe tirarem tudo.

— Ela era uma tirana que assassinava mulheres jovens.

O Conde virou-se para Lucy.

— Quem lhe disse isso? O mesmo tipo de homem que forçou minha mãe a se casar contra sua vontade com um violador estúpido e fedorento que me arrancou do ventre dela e ordenou que eu fosse assassinado?

Pela primeira vez, Lucy sentiu medo dele. Havia algo antigo e horrível em seus olhos. Ele exibiu as presas para ela.

— Eles me ensinaram, desde criança, a ser um assassino. Fizeram de mim um soldado e me ordenaram a ir lutar. Um campo de batalha é o pior dos infernos – um lugar de berros e com cheiro de sangue. Um açougue onde você mata a maior quantidade de homens que consegue antes de morrer. E quando eu peguei gosto pela batalha, eles me condenaram. Hipócritas. Fizeram comigo o mesmo que fizeram com minha mãe. Lhe apresentaram os horrores do mundo, e depois tremeram de medo quando nos apegamos a nos adaptamos a ele.

Prometida para o CondeWhere stories live. Discover now