Capítulo Dois

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Acordei em um pulo ao ouvir um grito vindo da barraca, quase tropecei em minhas próprias pernas ao som do desespero de Miles.

Não! — ele gritava ainda de olhos fechados e esperneava sobre os edredons que o cobria. Eu o abracei, aninhando-o contra o meu peito.

— Calma, é apenas um pesadelo... — falei em um tom tranquilo para que não o deixasse mais assustado.

Em instantes minha túnica preta ficou molhada por suas lágrimas, acariciei os seus cabelos amendoados, esperando que se recompusesse, mas seu coração pulsava fortemente contra seu peito a cada segundo.

Engulo o seco, alarmada.

— Shh... está tudo bem. Você está seguro, Miles. Sou eu, Aja. Estou aqui. — dizia em seu ouvido e o vejo apertar ainda mais o tecido de minha roupa entre seus dedos finos.

Após alguns minutos, ele se afastou e limpou o seu rosto com a manga de sua blusa longa e listrada, porém, seu peito subia e descia rapidamente.

Peguei a sua mão, um gesto que para ele, naquele momento, foi muito bem-vindo.

— Repita comigo, Miles — então, inspirei profundamente pelo nariz e expirei pela boca e ele prontamente me seguiu. Fizemos isso diversas vezes.

No momento em que percebi que sua respiração estava se normalizando e os batimentos do seu coração não eram mais uma ameaça, tomo a frente:

— Quer conversar? — perguntei, cautelosa.

Ele me encarou, com seus olhos ainda cheios de lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento. Balançou a cabeça negativamente.

— Não, não quero. — sua voz estava trêmula e rouca.

Peguei o cantil de água cheio e lhe entreguei. Ele bebeu todo o líquido de uma só vez. Mordi o lábio inferior, apreensiva.

— Tudo bem, mas saiba que estou aqui quando quiser compartilhar comigo — o puxei para perto, emergindo sua cabeça em meu peito enquanto acariciava suas costas, descendo e subindo tranquilamente.

Suas mãos apertaram a minha cintura como se dependesse daquilo para que se certificasse de que era real, de que não estava mais sonhando.

Não era novidade para mim, desde que Miles passou a fazer parte da minha vida vem tendo pesadelos, mas havia mais de uma semana que eles não o atormentavam.

Um dia ele chegou a me contar que os pesadelos eram mais frequentes quando estava sob custódia de seus pais, mas comigo eles estavam se tornando cada vez mais escassos no decorrer do tempo. Me senti aliviada um pouco, mas não totalmente.

Eu até o entendo, Miles é apenas uma criança, por mais que seja bem esperto, seu psicológico ainda está em uma constante mudança para chegar em sua maturidade, mas desde que nasceu se deparou com uma realidade muito dura, com seus pais cruéis que o vandalizavam ou sabe sei lá o que mais acontecia quando o garoto estava em suas mãos.

— Nunca vou deixar que machuquem você. Não se preocupe, está me ouvindo? — afrouxei mais o nosso abraço para encará-lo.

Ele assentiu.

— Obrigado — sussurrou.

Lhe lancei um sorriso acolhedor e ele tentou fazer o mesmo, para esboçar gratidão por me ter ao seu lado.

— Às ordens, meu garotinho — baguncei os seus cabelos, desfazendo alguns de seus cachos perfeitos e então olhei as horas. Quase quatro da manhã.

Pigarreei e ele entendeu o que quis dizer por aquele gesto.

— Vamos partir? — balancei a cabeça em concordância, mesmo ele já sabendo a resposta, então se afastou consideravelmente e passou a calçar as suas botas.

Prisão Elementarius Where stories live. Discover now