Capítulo Quinze

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Roucker e eu nos encontrávamos em silêncio, ele parecia bem confortável com aquilo e eu tentei fazer o mesmo, mas não consegui controlar a minha cabeça para que ficasse somente concentrada no que estava fazendo. Não. Ela dava voltas e mais voltas, sobre as recentes descobertas e confesso que não era nada fácil controlar o impulso de derrubar uma árvore pela raiva que brotava em meu coração e se espalhava pelo meu corpo. Na verdade, a mágoa fazia uma dupla inimaginável também. Mágoa da minha própria mãe ter pensado somente no seu umbigo, nunca em mim, nunca se perguntou como me sentiria ou se gostaria disso. Não. O seu amor por ela mesma venceu todas as nossas antigas barreiras, só para que eu construísse outras totalmente mais fortes e resistentes.

- Eles estão saindo. - O garoto ao meu lado avisa baixinho, me tirando do meu transe.

- Eles trocam de vinte em vinte minutos e outros demoram mais cinco para tomarem seus lugares - analisei em um fio de voz e o vejo assentir brevemente.

Nós dois estávamos em uma espécie de relevo alto e um pouco distante do prédio dos adolescentes, como Roucker o chamava, mas nos dava uma visão privilegiada de todos os guardas que rondava o lugar externamente. Nossos corpos estavam deitados na grama, de bruços, debaixo de uma grande sombra de uma árvore, totalmente camuflados. Seria um bom lugar para relaxar, se não fossem pelas circunstâncias.

O vejo anotar algo em seu pequeno bloco de notas que havia trazido em seu bolso junto com uma caneta quando saímos daquela biblioteca, então com um gesto rápido, ele passou para mim.

Não me deixei ser surpreendida por muito tempo, ao me deparar com a sua incrível letra cursiva e meio inclinada. Tratei de ler o que ele havia escrito sobre como a rotação funcionava e concordei, mas estiquei a mão em sua direção e ele me entregou a caneta.

Em uma folha limpa daquele caderninho, comecei a fazer rabiscos do prédio a minha frente, com os guardas visíveis do lado de fora e com várias setas apontando pros lugares em que deveriam ir, de acordo com o nosso curto tempo de observação.

O ouço rir do meu desenho e eu arqueio a sobrancelha, desafiando-o a rir, mas olhando em meus olhos. Ele espreme seus lábios um no outro e passa seu dedo indicador sobre eles, fazendo um gesto como se a trancasse e jogasse a chave fora. Sorri de lado e repassei aquele bloco de notas de novo.

Ele se ajeitou, deitando de lado enquanto se apoiava sobre um cotovelo e apoiando a sua cabeça na mão aberta.

Ao se inclinar um pouco para frente, a blusa branca que usava pendeu um pouco do seu corpo, deixando o seu peitoral à mostra o suficiente para que eu visse uma espécie de tinta preta estampada ali e o que tudo indicava não era nada pequena. Estreitei os olhos. Aquilo era uma tatuagem? Como eu nunca havia percebido antes?

Uma voz na minha cabeça tentava arranjar uma resposta e a mais sensata que conseguia pensar era que eu nunca o havia visto sem uma roupa que não tivesse mangas compridas...



Não tinha como eu imaginar que naquele corpo haviam tatuagens distribuídas.

De todo modo, quando resolvi tirar as minhas dúvidas, ele falou antes de mim:

- Até que seu desenho não está tão ruim... - dei um sorrisinho e abria a boca para me gabar de minhas técnicas artísticas, mas ele continuou: - Para uma criança de sete anos.

Estalei a língua em desaprovação ao que ele disse, mas mantive um sorrisinho no canto de minha boca.

- O importante é entender, não precisa ser uma obra de arte do mundo contemporâneo.

Ele ainda encarava os meus rabiscos, mas logo ergueu a pequena folha para mim novamente.

- Fala sério. Como que você consegue entender isso? Só há setas e bonecos palitos, com um grande retângulo atrás deles que eu automaticamente deduzi que seria este prédio - ouvi o seu tom debochado.

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