Um apartamento abafado

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Empurrei a porta com força, com a tranca estragada não fechando como deveria, mas não me sentia desprotegida, nosso porteiro não costumava deixar ninguém estranho subir. Jason seguia atrás de mim, entrando sem ao menos ser convidado, se sentindo em casa. Minha cama ainda estava desorganizada, com os travesseiros e lençóis amassados. E essa foi a primeira coisa que seus olhos repararam.

As paredes de tijolos avista sem quadros ou decorações, exceto por uma estante com cerca de duzentos livros, a metade eu já tinha lido. Uma garota de 22 anos viciada em romances. Minha pequena mesa para dois estava perfeitamente limpa, com alguns dos livros da faculdade em cima.

- É pequeno, mas parece confortável. - Comentou com um sorriso leve e sincero desenhado nos lábios. Jason com aqueles olhos cor de mel, muitas vezes me fazia sentir um arrepio percorrer a espinha, mas em outras, fazia meu coração aquecer como nunca antes. Era a primeira vez que alguém entrava no meu apartamento, além dos meus pais e meu ex namorado, antes da mensagem de término há duas semanas atrás. 

- É sim. Dá para viver bem, não preciso de nada além disso, mas se pudesse, escolheria uma cabana, longe de todo o estresse da cidade. Ao menos temos uma praia perto. - Comentei, abrindo meu coração além do que havia planejado. Eu o conhecia há poucos dias, e não estava pronta para me envolver novamente.

Jason sentou no pequeno sofá que ficava entre a cozinha e meu quarto, com uma coberta fininha cinza dobrada, cruzando as pernas enquanto me analisava, com os braços cruzados, aparentemente muito confortável naquela posição, enquanto eu estava encostada contra a pequena mesa cheia de livros, com os braços cruzados também. Ele não havia sido convidado.

Aqueles olhos, penetrantes e malditos, me deixava sem ar de uma maneira inexplicável. O modo como parecia me conhecer, como parecia acessar as partes mais sombrias do meu ser. Éramos feitos a mesma matéria, da mesma escuridão. Éramos feitos de pecados, os meus, ainda não cometidos. Éramos iguais. Éramos maus. 

A pior parte de mim gritava para ser libertada, entre as maldades que passavam na minha mente enquanto o via, descansando, sentando, com aqueles braços grandes e fortes cruzados. Queria estar bem o suficiente para soltar o que prendia. Para sentir tudo que desejava.

Jason percebia o quanto me deixava desconfortável, mas não fazia nada para mudar esse fato. Seus olhos recheados de depravação percorriam pelo meu corpo mais uma vez, analisando cada pedaço de pele que estava a mostra. Eu precisava de um banho, gelado e longo, meu corpo estava fervendo. Sedento por aquele homem.

- Você precisa ir. - Comentei. Desejando que ele compreendesse e desse o fora do meu apartamento, mas aquelas palavras pareceram não fazer sentido para ele, que  continuou da mesma maneira, parado, me encarando.

- Eu acabei de chegar. - Sua voz safada e carregada com lascívia soou grossa, alta e permeando meus ouvidos e confundindo minha mente. Jason passou suas mãos por seu cabelo levemente desajeitado, com os fios ainda úmidos da sua corrida matinal, e levantou, caminhando em minha direção, faminto. Faminto por mim. 

Senti meu coração pular com força dentro do meu peito e um embrulho se instalar silenciosamente no estômago. Ele vinha em minha direção, pisando com toda a certeza que tinha no mundo, com desejo, me querendo. Me tendo. Seu corpo estava na minha frente, pulsando em gana, então ele me trancou entre seus braços e a mesa que estava atrás de mim, me impossibilitando de sair facilmente, mesmo sabendo que eu iria a lugar algum. 

- Eu não vou fazer nada, doce Alyssa, então porque vibra dessa maneira? Está com medo? - Seu sorriso malicioso apareceu em sua face novamente, ele gostava do que me fazia sentir. E eu também. - Eu te vi naquela multidão, e desde aquele dia, você não saiu da minha mente, doce Alyssa. E eu odeio isso. 

- Parece que algo entre nós é recíproco. Odiar essa situação. 

- O desejo também. Eu vejo em seus olhos, eu sinto seu corpo tremer quando me aproximo. - Seus lábios estavam tão próximos do meu pescoço que me faziam estremecer. Soltei um leve gemido quando tocaram minha pele, suavemente, tentando controlar o desejo obsceno que tinha em si. Jason era controlado e ao mesmo tempo dissimulado. Tinha uma imagem conhecida, mas por trás, era um sacana. 

A libertinagem não fazia parte dos meus dias. Não até o conhecer.

Jason não parecia ter problemas com o que queria ou desejava, não tinha qualquer tipo de tabu, apesar da sua orientação sexual ser completamente heterossexual, mas ele não tinha medo do quanto o iriam julgar. Ele era assim. Ele era único.

Ser único vai além de ser diferente. É não se importar com o que vão pensar. É agir, ser feliz, ser entregue a sua verdadeira escuridão. É viver, por quem é.

- Por favor, vai embora! - Fechei os olhos, e supliquei em voz baixinha que fosse embora. Oliver ainda estava no meu coração, em formato de feriada, de dor, mas ainda estava ali, impregnado como uma praga. 

- Quem é ele? - Perguntou, sabendo que existia alguém nos meus sentimentos, alguém que havia me machucado de forma que ninguém antes tinha feito. Jason sabia, eu não conseguiria me entregar enquanto havia outra pessoa manipulando meus sentimentos e decisões, mesmo que já não estando mais comigo. - Doce Alyssa, eu odeio que já tenham seu coração. 

"Eu odeio que já tenham seu coração", aquelas palavras ressoaram pela minha mente, me tonteando e fazendo com que o ar que tinha nos pulmões saíssem com lágrimas nos olhos. Éramos recíprocos nisso também, eu odiava o fato de Oliver ainda estar desenhado em mim, como um fantasma do passado. Um passado tão recente.

Jason estava ali, como se soubesse tudo que passava dentro da confusão que havia em mim. 

INTENSEWhere stories live. Discover now