Pecadora ou apenas uma refém?

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Nas primeiras noites, meu corpo se revirava, suado e necessitado. Precisava de ar. Precisava poder dormir sem que os olhos impiedosos me encontrassem em meus sonhos.

Toda vez que fechava meus olhos, meus demônios tomava conta. Estava cansada. Estava lutando. 

Morava sozinha em um apartamento no meio da cidade litorânea no sul do meu país, ficava a poucos metros do mar salgado e gelado, talvez esse fosse meu fascínio por aquelas águas, algo parecido me procurava pelas ruas. Senti o ar gelado com resquícios de areia entrando pela janela do meu quarto e grudando na minha pele úmida. Ele havia me encontrado em meus sonhos, a pervertidão batia na minha porta. 

Eu abriria?

Quem era eu? Quem estava me tornando?

Olhei no relógio e já eram 6h da manhã, o sol estava nascendo envergonhado entra nuvens de chuva negras que cobriam o céu. Precisava gastar energia para que pudesse ao menos parar de pensar um pouco em toda aquela situação e no que estava me corroendo por dentro. Vesti um short justo preto de malha e coloquei meu moletom cinza por cima, sem esquecer os fones de ouvido e uma boa trilha sonora que pudesse me levar para longe daqueles pensamentos.

Sai para uma corrida matinal, o que não costumava fazer em nenhum momento da minha vida. As coisas começaram a mudar ali mesmo. 

Em meio a pensamentos obscuros e pés descalços grudando na areia com muita intensidade, precisei parar para tomar ar, com as mãos apoiadas nos joelhos, olhei em direção ao horizonte e pude ver uma silhueta grande e intrigante correndo como se o ar não fosse problema. Senti meu coração palpitar fortemente no meu peito e jurava que pudesse saltar pela minha boca. 

Era ele.

Meu estômago embrulhou e cogitei que pudesse vomitar mesmo sem ter tomado café da manhã. Em meus sonhos, que passavam na frente dos meus olhos como flashes de filmes, ele estava na minha cama, ainda com seu terno preto absurdamente colado em seus braços grandes e definidos, tocando meu corpo com as mãos tão quentes que pareciam queimar minha pele. 

Entre devaneios do meu sonho e meu quase desmaio ao vê-lo, cai sentada completamente tonta na areia, com meu corpo úmido de suor fazendo cada grão de areia grudar em mim. Tentei respirar mais profundamente, minha glicose possivelmente havia caído devido minha má alimentação. 

- Você está bem? - Ousado, com a voz trêmula e grossa. Não, não estava bem. Não desde que seus olhos cor de mel haviam me encontrado no corredor do shopping. Não, desde o dia que sua silhueta cativante estivera em meus sonhos mais devassos.

Senti sua mão tocar meu ombro por cima do moletom grosso, e por baixo, não usava nada além de um sutiã de renda, diferente de tudo que costumava vestir. Minha pele estremeceu com uma vibração energética alucinante, quente, depravada. Entreabri meus lábios.

- Estou. - Respondi tentando levantar ainda muito tonta. Porque ele me deixava assim? E qual o motivo de me sentir tão pressionada quando estava perto de mim? Meus olhos encontraram os dele, ainda do mesmo modo que marcou minha mente, levado, imoral, sedutor. Seus cabelos castanhos estavam molhados, desajeitados, o que me fazia pensar bobagens que jamais deveriam acontecer.

- Onde você mora? Parece estar fraca. - Respondeu com a voz suave porém carregada com malícia, seus olhos caminharam pelo meu corpo, com o moletom úmido, short colado nas minhas coxas grossas, como quem desejava me ver sem nada. - Costuma correr?

Não, e provavelmente não voltaria a fazer isso, ao menos não na areia, onde poderia o ver a qualquer momento. A praia era o local que mais me cativava, onde adorava passar horas caminhando, caçando conchinhas e lendo um bom livro bebendo água de coco. As coisas mudavam.

E quando nossos demônios aparecem?

Não é pior do que quando eles nos controlam.

Mas seria isso tão ruim?

- Não. Eu consigo ir sozinha, obrigada. - Respondi ficando em pé e tomando uma golfada de ar. Estava alguns quarteirões do meu apartamento, mas conseguiria ir sozinha. - E, eu não corro, mas precisava esvaziar a mente. 

- Eu já te vi em algum lugar. Tem algo te perturbando? - Sua voz mudou o tom ao pronunciar a última frase, com toda a certeza de que havia mexido com meu psicológico no dia em que nossos olhos se encontraram. Um calor aqueceu meu peito, descendo em direção as minhas pernas e minha virilha. Meu lado ruim desejou leva-lo para meu apartamento, assim ele saberia onde me escondo, e onde me encontrar. 

- Eu preciso ir. - Senti uma tontura e um formigamento novamente, droga, minha glicose havia caído mesmo. Toquei seu peito rijo por baixo da regata branca que usava, não havia intenção naquele ato, mas eu havia gostado tanto do modo que me senti o tocando, como minhas mãos acaloraram, desci meus dedos levemente, sentindo cada forma, o calor que irradiava, a umidade do seu suor em sua pele, molhando a regata fina e transparente, a ponta dos meus dedos estremeciam e meu corpo teve uma súbita energia crescente e irradiante. Mordi meu lábio inferior sem perceber que estava presa naquele momento, naquele sentimento, em um desejo difuso e enlouquecedor. 

Mãos grandes e fortes tocaram minha cintura com lascívia, puxando meu corpo consideravelmente menor contra ele, nem nos conhecíamos, mas ambos tinham conhecimento do que sentíamos quando nossos olhos se batiam. 

Olhos cor de mel com rajadas quase alaranjadas, como um fogo que me queimava, quentes e avassaladores como nunca havia visto antes. Cheios de más intenções e ao mesmo tempo, só as melhores.

Levantei meu queixo, na ponta dos pés, senti meus seios roçando em seu peito duro.

Nossos olhos se encontraram mais uma vez. E dentro de cada um só tinha uma coisa, tão recíproca e intensa. Escuridão.

INTENSEWhere stories live. Discover now