•QUATRO•

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Safira ficou a rondar a mansão e afastou-se do objetivo principal: encontrar Noah. Parecia estar distante, o que efetivamente era verdade, portanto deixou-se levar pelo impulso de caminhar.

Visto que tinha tirado o dia de folga foi até à grande biblioteca da mansão. A biblioteca pertencia a Sakura. Lá estavam os segredos da família juntamente com alguns livros sobre os benefícios do arroz e para quê que este era utilizado.

A biblioteca era imensa. Com estantes de madeira que iam do chão até ao teto... parecia até aquelas bibliotecas públicas. Aquele local nunca lhe chamou à atenção, pois Safira não era uma menina muito afincada na leitura de livros apesar de ter boas notas e ter sido considerada a melhor da sua turma, no básico.

— Precisa de alguma coisa, menina?

— Não, obrigada, Soraya.

Safira estava caminhando em volta das estantes. O barulho dos passos pequenos e largos acompanhavam o passeio ameno e cuidadoso. Enquanto passava os dedos pelas costas dos livros, ia saboreando as suas palavras sem nunca as ter visto.

Não precisava de os ler, a avó já tinha contado todas as histórias embaralhadas daqueles livros mofados.

Chegando à vigésima terceira estante, Safira deu conta que na quinta prateleira estava um livro que não estava ali antes.

A abóbada do livro, azul com umas listras douradas, era bastante atrativo.

Safira pegou nele. Ficou a observar cada detalhe, cada textura.

Abriu-o e viu a foto, de um menino num lago com bagos de arroz nas mãos, pendurada no canto superior direito da folha. Seria o pai? — perguntou-se.

Foi desfolhando o livro e haviam umas páginas em branco. Aliás, assim que Safira foi descobrindo o livro, deu conta que havia uma sequência de intervalos entre as páginas. De três em três páginas haviam textos com pequenas polaroids.

— Safira? — Safira deu um pulo e pareceu que por uma fração de segundos o coração estava quase para lhe saltar da boca para fora. — O que estás aqui a fazer?

— Vim dar um passeio.

— À Biblioteca da tua avó?

— Mãe, não me apeteceu andar atrás do Sr. Tatsuo. Ele deu este bilhete à Soraya para ela me dar a mim. Recusei-me a andar atrás dele então vim para aqui.

— Disseste-lhe?

— Sim. Por acaso... não sabes de quem é este livro? — Mostrou o livro de capa azul com listras douradas a Noah e perguntou-lhe se sabia quem era o menino da foto da primeira página.

Noah olhou para Safira e de seguida para a fotografia e num esguicho de emoções disse que era Yuki quando era mais novo.

Contou a história desse dia, apesar de não a ter presenciado. E enquanto contava cada pormenor ia realçando o seu olhar que estava cada vez mais brilhoso.

Safira estava encantada com as aventuras que Yuki se meteu quando era mais novo. Conseguia-se ver na face que Safira estava estonteantemente admirada e pasma com aquilo que Noah lhe estava a contar.

Passou-se a tarde... Noah e Safira ainda estavam no chão da biblioteca de Sakura, a contar as mais de mil aventuras de Yuki.

No final, Safira perguntou a Noah o que fez com ela se apaixonasse por Yuki.

— Eu ainda não sei explicar.

— Ainda?

— É complicado... seria fútil dizer que me apaixonei pelo físico dele ou pelo rosto dele. Não vou negar... — fez uma pausa — ele era, realmente, muito charmoso. Mas ainda hoje não sei o que fez com que eu sentisse algo por ele.

— Como é que vocês se conheceram?

Noah deu uma risada leve e tímida. Descruzou as pernas encolhendo-as e fez os joelhos colidirem com o peito. No seu rosto havia mil e um sentimentos. Todos brotavam da face chocando com a realidade: Yuki não estava mais ali. A realidade que os seus pensamentos intrusivos lhe disseram destruiu o sorriso envergonhado de Noah.

Noah olhou para a filha e num instante agarrou-se a ela desmoronando-se. Ali, Noah mostrava a sua fragilidade. De facto, parecia uma criança agarrada ao choro por querer uma boneca de pano que, com muita firmeza, a mãe lhe negara.

E mais uma vez ali estavam as duas, agarradas uma à outra, naquele imenso chão, no meio de duas estantes enormes de madeira.

Aquele momento mãe e filha estava a ser transmitido para todos aqueles livros empoeirados e velhos de Sakura.

E mesmo sem mãos, os livros bateram palmas silenciosamente.

𝘚𝘦𝘨𝘳𝘦𝘥𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘚𝘢𝘧𝘪𝘳𝘢  [ 𝙀𝙢 𝘼𝙣𝙙𝙖𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤 ]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon