Conto 8 - Enquanto você dormia - Dill Ferreira

675 34 5
                                    

Enquanto você dormia

Dill Ferreira

 

 

Carolina retornava cansada do trabalho naquela noite. Era a semana em que se comemorava o Natal e sendo ela vendedora em uma loja de eletroeletrônicos, seus dias estavam bastante agitados.

Caminhava tranquilamente para casa, depois de descer do ônibus, quando de repente ouviu um tiro, outro e mais um. Preocupada, ela correu para tentar se proteger. Soubera que naquelas semanas haviam mudado para a região algumas pessoas suspeitas de envolvimento com o tráfico. Certamente travavam confronto com a polícia que descobrira a boca de fumo, acreditou assustada.

De repente, começaram a chover tiros e ela não sabia mais para onde correr. Desesperada, apressou os passos e, quando chegou à esquina, desorientada, em busca de abrigo, topou de forma violenta contra um poste.

No chão, ainda desnorteada pelo choque, Carolina olhou para cima e viu um homem fardado a sua frente, olhando-a preocupado. Ela havia se chocado contra ele, não um poste, como pensara.

— Você está bem? — Ela fez que sim com um movimento de cabeça. O homem parecia muito alto e segurava um fuzil na mão. — Me desculpe, mas não a vi. Está acontecendo um tiroteio agora, moça. É muito perigoso andar uma hora dessas em um local como este, sabia? — Ele falava com firmeza, mas Carolina percebia que a repreensão era para seu bem.

— Estou voltando do trabalho agora e nunca imaginaria presenciar isso. — Ela parecia alarmada, o que deixou João Augusto penalizado.

— Venha! Vou te dar escolta até sair dessa zona de risco. — Carolina levantou-se. Ainda sentia as pernas bambas. Os tiros haviam cessado, mas ela não sabia até quando.

Assim que ela ficou em pé, ouviu-se um estrondo e Carolina foi jogada ao chão novamente com certa violência. A respiração agitada e o tremor aumentaram ainda mais quando ela se viu sob o corpo firme de homem. Haviam caído desajeitados e um acabou ficando sobre o outro.

— Me desculpe! — O policial disse olhando-a com certa intensidade. Mas logo uma ruga surgiu em seu rosto ao perceber que ela ficara imóvel.  — Aconteceu alguma coisa? Alguma bala te atingiu? Você se feriu? — Ele perguntou preocupado olhando-a de cima a baixo, conforme as possibilidades permitiam.

— Não, eu estou bem.  — Conseguiu pronunciar aquelas poucas palavras diante do olhar curioso e às vezes frio.

— Certo! Então se levante devagar e vamos recomeçar tudo de novo, ok? — Ela assentiu e fez o que ele ordenara. — Vamos tentar ir até lá. — Ele indicou, enquanto ambos levantavam-se para recomeçar a caminhada.

— Tudo bem! Embora eu resida para o outro lado. Irei para onde me indica. — Carolina foi escoltada até o outro lado da rua. O silencio reinava a ponto de ela poder ouvir o ruído do vento que agitava seus longos cabelos, fazendo uma linda onda negra, que fora capaz de chamar a atenção do comandante, mesmo ele estando sob alerta constante.

— Vou levá-la até aquela mureta ali. — Apontou com a arma. — Peço que fique lá enquanto for seguro. E nada de correr caso ouça tiros. Fique escondida e só saia quando eu der a autorização, entendeu? — Ele a olhava tão intensamente que Carolina sentiu seu coração acelerar, sem saber se era o efeito daqueles olhos negros e intensos, ou porque teria que ficar sozinha a partir dali.

— Eu entendi, obrigada! — Concluiu com a voz baixa.

— Siga do meu lado, mais a frente. — Ela lhe obedeceu e, quando finalizavam o percurso ouviu-se o som de um tiro. Carolina correu na tentativa de se proteger e não atrapalhar o militar de também fazê-lo.

Eu, Você e o Natal - Contos inesquecíveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora