Julgamento

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Rosalie é realmente uma menina encantadora, porém toda aquela tristeza é algo com que Catherine não consegue se habituar. Se passou quase uma manhã inteira e a criança sequer falou sobre coisas positivas, que não Annis ou as aulas de Cristóvão.

Apesar da inteligência e da compreensão bastante avançadas para a idade, a criança possui necessidade de apoio emocional. Após dois meses instalada na casa, compreendeu como acontece a rotina e tem absoluta certeza do quanto Francis tenta se fazer presente, mas também confirmou que ele não é capaz de suprir toda a necessidade emocional que a filha possui, afinal ele mesmo parece carregar certa incapacidade afetiva e, por mais que tente suprir as demandas da menina, ele não será tudo aquilo que ela precisa.

A primavera se aproxima. Apesar de estarem próximos do fim de março, o frio e a chuva ainda são presença constante. Os raros dias de sol não podem ser contemplados, justamente porque a menina insiste em estar dentro de casa. Só que hoje seria diferente, porque Cathy não vai permitir que a criança escolha. Vai fazer o que for preciso, mas não vai deixar que fique mais um dia trancada no quarto com a boneca Lea.

— Que tal sairmos?

— Melhor não.

— Queria que você me levasse em algum lugar que gosta.

— Está melhor aqui. Preciso conversar com Lea. — Contou, esquivando-se.

— Vamos levar Annis para passear, o que acha? Vou pedir que Ian prepare um cavalo para mim também.

A menina sorriu ao olhar as próprias mãos. Viu que está esperando um tempo, que não quer responder rápido. Não pensou que seria tão fácil, porque na noite anterior gastou muito tempo criando uma técnica eficiente. Queria receber um sim vindo dela e não precisou usar nem três frases para isso. Ela estava convencida e Cathy sabe disso.

— Então pode ser.

— Mesmo?

A confirmação de que quer acompanhá-la só veio, pois usou o argumento certo. Falar de Annis sempre resultava em algo. Rosalie é extremamente apegada ao animal e quando possível — e está emocionalmente interessada — ela vai até o estábulo para conferir a amiga tão querida. O que Catherine mais ama na relação entre a menina e a égua, é a semelhança com ela própria quando ainda era pequena, porque fazia muito daquilo. Também gostava de escovar o pelo e as crinas e, vez que outra, prendia uma fita no rabo da égua.

Em alguns dias, quando está realmente feliz com algo ou com qualquer situação, Rosalie aproveita para trançar as crinas, finalizando-as com pequenos laços de fita, mesmo que Francis informe para a menina que aquilo poderá vir a causar algum incômodo ao animal. A insistência em fazer, porque diz ser bonito, e a consequente concessão dele em permitir que ela faça, pois enxerga nos olhos dela toda a emoção ao mostrar alguma trança que acabou de aprender, resulta em uma égua repleta de laços de fita coloridos.

— Sim.

— Então arrume-se, pois está frio. Coloque um casaco bastante quente. Vou pedir que Gavin prepare os cavalos e também vou providenciar um lanche.

— Podemos levar scotch eggs?

— Claro e algumas frutas vermelhas também. Vou me certificar de colocar na cesta.

— Obrigada, Catherine.

— Não precisa me agradecer, apenas trate de ser breve. Esperarei por você no saguão.

— Já irei descer.

Com os cavalos encilhados, a cesta com o lanche da menina pendurada e Rosalie devidamente encasacada, ambas montam e saem em direção aos campos mais distantes para encontrar as margens do Rio Clyde.

LiberdadeWhere stories live. Discover now