1. Max & Scarletty

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Era uma vez...

- Você não pode começar com era uma vez - disse Scarletty debochando da minha voz -, não é um conto de fadas.

- Você é uma fada! E tem fadas!

- Me deixe escrever.

Scarletty pegou os papéis da minha mão e começou:

No Reino de Ellarion uma grande fenda separa dois pedaços de terra, de um lado encontram-se os seres humanos, do outro, os seres mágicos. A única forma de conexão entre as terras era a grande, ampla e antiga ponte mágica Transitus, construída tanto por humanos quanto por fadas. Como forma de decoração e honra, as fadas depositam arcos de flores que envolvem a ponte todos os dias e os humanos acendem tochas nos corrimãos todas as noites.

Com o contato entre humanos e seres mágicos, houve troca de experiências, costumes e tantas outras coisas. Enquanto nós fadas ensinávamos sobre a natureza, os humanos construíam proteções para todos e muito mais.

O equilíbrio, ou, como chamávamos, a Harmonia, era a essência do reino, caso contrário poderia vir uma onda de catástrofes. Os reis e rainhas de ambos os lados deviam fazer o bem para todo o Reino e manterem suas diferenças de lado, para que, assim, tudo funcionasse em perfeita harmonia.

- Quer que eu escreva agora? - Max perguntou com calma.

- Pode ser - disse entregando as primeiras folhas do livro para ele.

A linhagem real de ambos os lados permaneceu intacta por milhares de anos até o dia que ocorreu a Tragédia Real, como assim chamado pelas fadas. Após a morte do atual rei/rainha o(a) primogênito(a) deve assumir o trono, por isso, após a morte da Rainha Mágica, sua filha mais velha, Ágata Luna Cristal, assumiu o trono. Durante seus dois anos de reinado, tudo estava em equilíbrio, inclusive na sua vida. Mesmo com o peso da coroa em sua cabeça ela conseguiu amar, se casar e engravidar.

No dia do nascimento do bebê, alguns diziam ser menina, mas muitos que era um forte e belo menino, ocorreu a Tragédia. A Rainha Cristal morreu durante o parto e o bebê não possuía vida. Como a história conta, seu marido, o Rei, morreu no mesmo dia por tamanha angústia que sentia. Assim, com a coroa repleta de dor, a irmã de Cristal, Catarina Luna Obsidiana, assumiu o Trono Mágico.

- Enquanto isso... - Scarletty disse.

- Não acredito que vamos fazer isso toda, tenho trabalho para fazer.

- Só nesse capítulo, pedacinho de carne - ela me fez flutuar da cadeira com magia de vento e me deixou de cabeça para baixo. - Agora é minha vez de escrever - quando finalmente conseguiu o que queria me libertou.

Enquanto a nova Rainha conquistava seu trono e as pessoas à sua volta, duas crianças cresceram em lados opostos do reino, uma fada de uma casa simples no oeste do lado da magia e um menino, sobrinho do rei, no castelo do lado humano, cercado por florestas ao oeste e o povo humano pelo norte, leste e sul.

A fada se chamava Scarletty Rubi, ela nunca soube muito sobre sua mãe, como o que ela gostava de fazer ou outros detalhes, mas seu pai, Elmo Hematita, dizia que ela havia morrido alguns meses depois que sua filha nasceu e contava pouco de como ela era. Antes de conhecer a fada pela qual ele se apaixonou, trabalhou durante muito tempo para a Guarda Real, mas, após perder metade da perna esquerda, decidiu viver distante de outras fadas, no oeste, apenas com sua filha Scarletty. Iniciou seu trabalho como garimpeiro, uma função muito importante e exercida por muitas fadas do reino, mas não muito valorizada financeiramente.

O menino se chamava Max Angellus, seu pai, Malkiur Angellus, com um cavanhaque acentuando seu queixo, sua marca, era irmão do atual rei dos humanos, Hadrian Angellus. A mãe de Max, assim como ocorreu com a Rainha Cristal, havia morrido no parto, então, Malkiur cuidou como pai e mãe de seu filho. Por ser o mais velho, Hadrian já havia assumido o trono cinco anos antes de seu sobrinho nascer. O pequeno Max vivia no Castelo, consequentemente aprendeu tudo que um príncipe e talvez futuro Rei, já que seu tio não possuía descendentes, devesse saber e, por possuir o sobrenome real e ser sobrinho do rei, era considerado príncipe por muitos e odiava quando alguém não o aceitava como tal.

- Você usou pequeno Max, mas não usou pequena Scarletty? - Max questionou intrigado.

- Naquela época você era bem baixinho - disse rindo.

- Que bom que você disse naquela época - provocou escondendo o riso com as mãos que logo cessou quando lancei um olhar furioso.

Depois de um silêncio para que pensasse no que escrever, Max abriu a boca e soltou:

- Posso começar o segundo capítulo? Acho que não há mais nada para informar.

- Tem certeza?

- Bom, a não ser que queira falar sobre meu cabelo ou meus músculos.

- Convencido demais, pedacinho de carne - ele odiava isso. - E não fale sobre isso no seu capítulo! Há muitas tragédias para contarmos.

- Vou deixar esse prazer para você. Agora, minha vez de escrever.

Espadas & MagiaWhere stories live. Discover now