Capítulo IV

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Jack

Chego na delegacia para iniciar o meu turno. Passo pela porta de vidro e sigo até minha mesa próxima a uma das janela com persianas.

Olho em volta e vejo que alguns colegas estão muito atentos nas suas telas, concentrados em algum caso, enquanto outros tagarelam incessantemente, provocando uma irritante poluição sonora no ambiente.

Mais um dia comum na minha vida.

- E aí, Jack! – Harvey cumprimenta ao me ver.

Sua mesa é de frente para minha e devo dizer que para um veterano ele era extremamente falante e com um senso de humor questionável. Em outras palavras, ele é o tipo de cara que não condiz com a idade que carrega nas costas.

- Oi Harvey. – respondo sem ânimo, sentando na minha cadeira e ligando o computador. – Conseguiu o arquivo que pedi?

Ouço o som da sua gaveta abrindo e me ajeito na cadeira, interessado.

- Está aqui. – diz e me entrega a pasta parda com o nome “H.Quinzel” gravado na aba. Eu a pego, ansioso. – Eu não sei porque o chefe entregou esse caso pra você. Eu que queria esse caso.

Ignoro seus resmungos e abro o arquivo.


Para minha infelicidade não há muita informação sobre quem é, de fato, Harleen Quinzel

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Para minha infelicidade não há muita informação sobre quem é, de fato, Harleen Quinzel.

As únicas informações que constam são só as criminosas, nada sobre o verdadeiro nome ou sua vida passada.

Bufo, frustrado.

- O que foi? Caso difícil demais?

- Não. – balanço a cabeça em negação e me encosto na cadeira. - Eu só estava esperando algo mais completo. – a frustração em minha voz é palpável.

Encosto em minha cadeira e jogo a cabeça para trás, fitando o teto.

- Como assim?

- Eu queria uma ficha completa. Aqui só tem... – puxo o arquivo da mesa. – Cúmplice em assassinato, assassinato, roubo... Imprevisível e mentalmente instável...

- Parece completa pra mim. – ele retruca e morde uma rosquinha, claramente desinteressado. – Tem informações suficientes para prende-la por um bom tempo.

Claro, esse é o tipo trabalho raso que todos buscavam fazer. Poucos polícias se davam ao trabalho de investigar mais a fundo. Por isso quase nenhum deles eram promovidos.

- E se eu quisesse descobrir coisas mais pessoais? – pergunto depois de encara-lo por um tempo.

- Tipo o número de telefone dela? – brincou, dando uma risadinha sem graça. Eu o fuzilo com o olhar. – Ei, relaxa cara, eu estou brincando. Mas, eu não te culparia se interessasse por ela... – sua última frase saiu carregada se desejo.

A lascívia em seu tom me incomodou um pouco.

- Não entendi. – digo cruzando os braços na mesa, meu semblante é sério e meus olhos fixos nele.

- Só estou dizendo que essa garota deixaria qualquer um louco. Quando eu era criança eu sempre gostei da Arlequina... Só que essa daí é muito melhor do que a fictícia.

Babaca.

- Eu não sei. Não fico pensando nela assim. Prefiro me concentrar no trabalho. – sou ríspido. -- E eu teria cuidado se fosse você.

- Por que? – Harvey pergunta, parecendo me desafiar.

- Bom... – solto o ar, com os olhos presos na tela do meu computador. – Se existe uma Arlequina, deve existir um Coringa. Esse mundo está tão louco, eu não duvidaria.

Uma gargalhada alta escapa da sua boca.

- Se existe algum um ganster e assassino chamado Coringa, não mora por aqui. Ou, pelo menos, não temos nenhuma ocorrência dele. – Harvey hesita, dando um gole no café. – Mas... Se ela quiser... Eu posso ser o Coringa dela... – outra vez aquele tom lascivo que me faz enrijecer a mandíbula. – Harvey e Harley... O que acha?

Acho que você é um puta de um babaca. – penso, segurando um suspiro irritado na garganta. Não quero que esse idiota imagine coisas erradas. Pelo visto ele tem tempo de sobra para isso.

- Que seja. – digo, ignorando seus comentários infantis. – Eu só queria saber mais sobre o passado dessa garota. Nome verdadeiro, naturalidade, escolaridade, amigos da escola... Família...

- Bom, esse tipo de informação você só vai ter se conseguir alguma amostra de DNA... – Harvey explica, atraindo minha atenção novamente.

Assenti, lembrando que deve haver muito DNA dela na minha casa. 

– Só que essa é a parte mais fácil. – ele adverte, como se tivesse lido a minha mente. – A parte complicada vai ser convencer algum policial, que tenha acesso ao Sistema Ômega, a pesquisar pra você.

- Sistema Ômega? – indago, com as sobrancelhas levantadas.

- É um sistema capaz de averiguar 12 bases de dados, entre elas civis, criminais, armas, veículos furtados ou roubados. – Ele explica. – Mas, poucos polícias tem acesso a ele. Nada escapa desse sistema.

- Interessante... – murmuro para mim mesmo.

[°°°]

Meu expediente passou mais rápido do que eu estava esperando. Após a conversa com Harvey, eu comecei a escrever meus relatórios sobre o andamento dos meus casos. Inclusive o da Harley Quinn.

Nada muito interessante apareceu hoje na delegacia. Nenhum homicídio que precisasse de uma investigação de campo. Apenas alguns interrogatórios e pesquisas internas.

Olho para o relógio e vejo que faltam apenas vinte minutos para o fim do meu turno. Agradeço mentalmente por isso. Foi um dia cansativo.

- Sabe, eu acho que eu devo ter algum traço de psicopata. – diz Harvey, pensativo.


Aí meu Deus

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Aí meu Deus... Dai-me paciência para ouvir essas besteiras.

- Cara, como você passou na academia de polícia?! – retruco de maneira arrogante.

Desde que eu cheguei nessa delegacia sou obrigado a ouvir as besteiras de Harvey.

Normalmente eu só ignoro, pois é melhor ouvir suas merdas do que ser surdo. Só que tem vezes que ele ultrapassa os limites da minha paciência.

- Estou falando sério. – ele insiste. – Os psicopatas geralmente são pessoas de condutas sedutoras e podem ser muito extrovertidos e carismáticos. E eu sou assim.

Reviro os olhos.

- É, mas isso faz parte da sua personalidade incrivelmente irritante. Você não dissimula essas características. Um psicopata, sim. Porque no fundo... – hesito, percebendo minha voz ficar grave. – Eles não são nada disso.

- E como você sabe que eu não dissimulo?

Encaro-o indignado com a suas besteiras.

- Semana passada você chegou chorando porque o seu cachorro morreu. – respondo.  – Você até saiu mais cedo para fazer um enterro.

A lembrança daquele dia me causa enjôo. Esse cara é patético.

- Ah, pera aí. O Bob foi meu primeiro cachorro... – ele choraminga.

- Foda-se, um psicopata não ligaria pra isso. – desligo meu computador e pego meu casaco preso na cadeira.

Agora, mais do que nunca, estou louco pra cair fora.

- Eu tenho certeza que...

- Escuta, Harvey. – interrompo-o já farto do assunto, enquanto me levanto e visto meu casaco.  – Por que quer ser um psicopata?

Ele dá de ombros, mas parece pensar na resposta.

- Não quero. Eu só estava pensando no que você disse sobre o Coringa. Eu eu achei que tínhamos isso em comum.

Sabia que a resposta me faria querer vômitar na sua cara de pau.

Antes que eu possa dar uma resposta grosseira, mas a altura das suas bobagens, meu celular toca.

Enfio a mão no bolso da minha jaqueta e o alcanso. O nome de Eva aparece na tela.

- Alô. – digo ao atender.

- Oi, Jack. Vai fazer algo hoje a noite? 

- Não.

- Que ótimo. Meu plantão já está quase no fim. O que acha de sairmos pra jantar? – ela convida, entusiasmada. – Estou morta de fome. O que me diz?

Abaixo a vista para meus pés e penso na sua proposta. De início não me parece tão mal sair pra jantar com uma amiga, mas aí eu lembro da minha hóspede maluca.

Acho que já a deixei sozinha na minha casa tempo demais. Com certeza ela já deve ter aprontado alguma ou deve estar dormindo ainda. A questão é que não posso ignorar a sua presença na minha casa.

- Desculpa, Eva. Não posso sair esta noite. Tenho que ir pra casa e resolver um problema.

O que não é totalmente mentira. Eu tinha mesmo que resolver o que fazer com aquela maluca na minha casa.

Sinceramente, a minha consciência me diz para algema-la e trazer-la para cá. No entanto, eu não posso fazer isso. Não por enquanto.

- Bom... Então podemos jantar na sua casa. O que acha? – ela insiste.
Suspiro, crente de que essa mulher não vai desistir de jantar comigo.

- Tá. – concordo sem entusiasmo. – Nove horas. Até. – desligo o telefone e estou prestes a me virar para ir embora quando Harvey me interrompe.

- Só uma pergunta. – ele diz e eu luto contra todos meus insistintos que me mandam ignorar. Volto a encara-lo e sinalizo para ele continuar. – Como sabe tanto sobre psicopatia?

- Experiência de vida.

Arlequina Tem Que MorrerWhere stories live. Discover now