Victoria: Parte V

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Victoria estava sentada na beirada de sua cama, vestindo um grosso roupão branco, com suas iniciais bordadas em letras rebuscadas no lado esquerdo. Christopher, o engravatado do TI, estava sentado ao seu lado, com um braço passado respeitosamente em suas costas.

Os dois não tinham transado, no fim das contas. Ainda que parecesse tentador ter uma princesa nua diante de si, ele jamais poderia se deitar com alguém naquelas condições, quem quer que fosse.

Depois que conseguiu recuperar a fala, ele a convenceu a se cobrir, e lhe contou o que tinha vindo dizer desde o começo: que eles encontraram o computador que vazou a foto, e ele estava no palácio mesmo. A mãe dos dois o reconheceu como sendo um dos dispositivos de Arthur. O desgraçado nem tinha tentado disfarçar.

Eles já tinham emitido uma nota se desculpando pelo acontecido, e ameaçando levar à justiça qualquer pessoa que reproduzisse a imagem, direta ou indiretamente.

- É provável que a sua mãe peça pra que você apareça na TV em breve, para se retratar e comentar o acontecido. - Comentou Christopher. - Talvez você queira falar com o George, também...

As portas se abriram, e Lisandra entrou. Imediatamente Christopher se colocou de pé, em respeito à presença da rainha.

- Você pode ir agora. - Ela disse para o rapaz, que obedeceu de imediato. Lisandra sentou-se do lado da filha, no lugar desocupado.

- Não sei se eu quero conversar agora - adiantou-se Victoria.

- Não importa, você vai mesmo assim. Filha... Há quantos anos eu sou rainha? E mesmo antes disso... Como você, a minha vida inteira foi regida pelas regras da realeza. Não pense, por um segundo, que eu não entendo como é a pressão. Que eu nunca me senti como você, porque eu poderia te dar aula de trás pra frente sobre os sentimentos que ser uma pessoa tão importante acarretam. E é isso mesmo que eu tentei fazer esses anos todos, te ensinar a não cometer os mesmos erros que eu. A ser melhor do que eu fui.

Algumas lágrimas escaparam dos olhos de Victoria.

- Você fez algumas escolhas erradas, é verdade. Mas agora não adianta sentar aqui e sentir pena de si mesma. Você vai colocar na cabeça que uma foto íntima não é o fim do mundo. Você é uma mulher adulta, em pleno controle do seu erotismo. E é isso o que você vai dizer quando te perguntarem nas tantas entrevistas que virão daqui pra frente. Que você lamenta muitíssimo que algo assim tenha acontecido, mas que você não tem motivo pra se envergonhar da sua sexualidade.

Lisandra podia ser muitas coisas, e estar errada em muitas ocasiões, embora ninguém fosse admitir, mas, dessa vez, estava certa, Victoria pensou. De fato, pensando dessa forma, ter tirado uma foto íntima não era o fim do mundo, era algo que todo mundo fazia. E era melhor abraçar o caos do que tentar fingir que ele não existia.

E, foi pensando nisso, que foi procurar Arthur.

👑

- Lá vem a outra - resmungou Arthur ao ouvir novamente o som de passos vindo pelo corredor. - O que você quer? - Ele perguntou, sem se virar para encarar Victoria.

- Primeiro, dizer que você é um filho da puta.

Arthur deu uma gargalhada forçada.

- Meus cumprimentos à Lisandra.

Victoria caminhou até o irmão, e deitou-se ao lado dele, que estava na mesma posição de mais cedo.

- Parabéns. Seus esforços pra me jogar na merda funcionaram. - Ela cumprimentou o irmão, sendo sarcástica.

- De nada.

- Quer saber de uma coisa, Arthur? Se a sua vida é uma bosta, você não deveria descontar em mim. Faça melhor proveito do seu tempo, vai arrumar um namorado, ou coisa assim.

- Sem dúvida você é a melhor pessoa pra me dar conselhos amorosos. Inclusive, você não devia estar no seu casamento?

- Digamos que não foi de todo mal.

- Eu sempre soube que você não queria realmente casar com aquele tal George sei lá das quantas.

Victoria se aconchegou um pouco mais perto dele, e segurou sua mão.

- Talvez nós dois devêssemos arrumar namorados - Arthur disse, e abraçou a irmã.

E os dois ficaram assim, por muito, muito tempo. Apenas ali, juntos, observando o brilho multicolorido das pedrinhas penduradas acima dos dois.

 Apenas ali, juntos, observando o brilho multicolorido das pedrinhas penduradas acima dos dois

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