Victoria: Parte III

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Sua mãe vestia um vestido tubinho glamuroso em um tom de rosa-avermelhado profundo, e tinha um pequeno chapéu na cabeça com minúsculas flores de tecido, que depois das dezoito horas deveria ser trocado por uma lindíssima tiara de rubis. Não mais.

- Victoria? O que você está fazendo aqui? - A rainha perguntou, quando viu a filha entrar, naquele estado deplorável.

- O que você está fazendo aqui? Você devia estar na igreja, comigo! - Victoria gritou em resposta.

A rainha andou de forma calma e elegante até ela, e a puxou para um canto. Limpou as lágrimas pegajosas que cobriam sua face, porque a aparência era sempre o mais importante, e só então disse friamente para a filha:

- Tentando resolver suas merdas. Como você pode deixar que suas fotos íntimas vazassem desse jeito?

- Você viu.

- Todo mundo viu, sua garota estúpida. Literalmente, o mundo todo.

- Era pra você estar na igreja comigo - ela repetiu, magoada, recomeçando a chorar, como uma criança emburrada.

- Eu sou a porra da rainha! Eles vão reclamar a minha ausência com quem?

- Por quê...?

- Não é só você que escolheu dar problema hoje. Seu irmão está desaparecido.

- Típico do Arthur. Claro que ele iria querer chamar a atenção, né?

- Não tenho tempo pra isso agora, Victoria. Vocês dois já foderam com tudo, deixa eu ver o que eu consigo fazer pra amenizar. Vai dar um jeito nessa cara.

Victoria cerrou os dentes, mas fez o que a mãe mandou mesmo assim. Quando estava prestes a deixar o salão, ouviu alguém da equipe dizer que estavam rastreando o computador que havia disponibilizado a imagem. O processo poderia demorar, mas garantiam que iam descobrir o responsável por isso.

Ao atravessar as portas de seu quarto, e trancá-las, Victoria tentou abrir o zíper embutido de seu vestido, mas não conseguiu. Ela puxou com toda força que tinha, e nada aconteceu. Então, foi tomada por tamanha fúria, que abriu uma das gavetas de sua penteadeira, tirou de lá uma tesoura, e começou a picar o vestido em pedacinhos.

Rasgou o tecido até ele sair de seu corpo, e fez o mesmo com a roupa íntima por baixo. Olhou seu corpo despido no espelho da penteadeira. Exatamente a visão que qualquer um com acesso à internet estava tendo. Exceto que agora estava de pé, comportada em comparação à posição exibida na foto.

Quer saber? Lisandra estava certa. Ela era mesmo uma garota estúpida para ter tirado uma foto daquelas e guardado. O que esperava?

Estava tão nervosa, que sentiu vontade de simplesmente sair na sacada, do jeito que estava, e gritar para o mundo: vocês estão felizes agora? Era isso que queriam? Minha vergonha exposta? Aqui está! É isso mesmo que vocês estão vendo! A princesa tira fotos íntimas! A princesa tem uma vagina! Surpresa!

Mas não fez isso, é claro. Essa foi a única vez na vida em que fez qualquer coisa remotamente proibida. Desde criança Victoria sempre fez tudo o que a mãe mandava. Sempre se comportou como uma princesa, como era esperado dela. Desde que se entendia por gente, tinha a compreensão de que ser da realeza significava ser privado de muitas coisas, e ela simplesmente aceitou isso, como parte de quem ela era.

Arthur fazia as merdas que queria, chegava atrasado aos eventos, isso quando ia. Aparecia chapado nos tabloides. Sumia por semanas sem dar satisfação a ninguém. Era sempre flagrado em festas cheias de coisas ilícitas. E, ainda assim, ninguém aparecia na porta da casa deles para xingá-lo, ou jogar cópias de suas fotos por aí.

Não. Arthur, mesmo sendo o próximo na linha de sucessão, nunca fazia nada certo, e ninguém se importava. Agora Victoria, a pobre e ridícula Victoria, não importava que ela fosse a primeira a se casar. Não importava que ela fosse a única a seguir as milhares de tradições sem sentido e manter as aparências.

Ela até estava disposta a se casar com alguém por quem não nutria sentimento nenhum, somente em favor das "conexões importantes" e da política. E tudo isso pra quê? Pra ser xingada, humilhada, e ofendida publicamente.

Passou as mãos sobre a maquiagem, espalhando o preto da máscara de cílios por todo lado. Tentou arrancar à força o pigmento de sua pele, mas ele não saiu. Era um fato: nada dava certo em sua vida patética.

Três batidas soaram na porta, e ela caminhou até lá e a abriu, sem se preocupar em cobrir o corpo. Nada que ninguém já não tivesse visto, a essa altura.

Do outro lado, um jovem de terno a encarava. Todo mundo usava terno por aqui, meu Deus. Ele arregalou os olhos quando viu seu estado, e hesitou entre dizer o que tinha vindo dizer e ir embora.

- Anda, fala logo! - Victoria disse, alterada.

- Ahn... Eu volto depois.

- Sabe de uma coisa? Você é bonitinho. Quer entrar?

- Quê?

- Quer transar comigo? T-r-a-n-s-a-r.

O rapaz abria a boca e fechava, atordoado. Tudo já estava uma merda mesmo, não era? Tudo já estava arruinado. Por que não? De um jeito ou de outro, Victoria era a vadia da corte, por que não se divertir um pouco?

Ela o puxou para dentro pelo colarinho.

Ela o puxou para dentro pelo colarinho

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