Victoria admirava sua imagem em um espelho de tamanho colossal. Naquele momento, sequer passava por sua cabeça como aquele dia terminaria diferente do que ela esperava.
Estava tão deslumbrante quanto uma noiva real deveria ser, em seu vestido branco pré-aprovado pela rainha (aka sua mãe), que era ajustado no busto, com um decote coração não muito revelador, mangas levemente bufantes, de comprimento até alguns dedos acima do cotovelo, e uma saia de renda com aplicações em pérolas que abria discretamente desenhando seu quadril.
Seu cabelo foi preso num coque romântico, com mechas soltas emoldurando seu rosto de traços delicados, e para finalizar o penteado, posicionada num ângulo de exatamente quarenta e cinco graus, a estrela da noite: a tiara de diamantes e pérolas que sua bisavó tinha usado em seu próprio casamento. Essa era a primeira vez na vida que tinha permissão para usar uma tiara, o que fazia dela duplamente especial.
- Então, é isso. Vamos lá.
A princesa respirou fundo, e, com todo cuidado do mundo, cobriu seu rosto com a parte da frente do véu. Caminhou para o lado de fora do salão, onde uma equipe de preparação de seis pessoas a esperava, preparados para prestar qualquer tipo de assistência.
Dois carros pretos elegantes e idênticos esperavam do lado de fora do palácio. Victoria entrou em um, com dois integrantes da equipe, e os outros quatro entraram no automóvel de trás. Ambos os carros se encaminharam para a porta da igreja.
Ao chegarem, os dois que estavam no mesmo carro que a princesa ajudaram-na a descer, e esticaram seu vestido, bem como seu véu, e os outros quatro se postaram em fila, com os corpos esticados respeitosamente.
Victoria olhou ao redor procurando sua mãe, ou seu irmão, que supostamente deveriam caminhar com ela até as portas da igreja, e depois até o altar, mas ninguém se encontrava ali.
Ela olhou ao redor, procurando qualquer sinal de sua família, mas não havia ninguém, e o carro em que eles deveriam ter ido também não estava estacionado em lugar algum.
Alguma coisa estava errada. Esse era um casamento real, era proibido se atrasar. Inclusive, qualquer pessoa que não comparecesse com, no mínimo, vinte minutos de antecedência, não poderia participar da cerimônia. O que aconteceria se a própria rainha se atrasasse?
Mas não era só isso. Algo mais parecia fora do lugar. Victoria olhou em volta, para as centenas de pessoas do outro lado da grade de proteção, gritando para ela palavras de incentivo, saudações, e... Obscenidades?
Por um momento Victoria jurou ter ouvido algumas vozes xingando-a de nomes do mais baixo calão. O sol começava a declinar no horizonte, fazendo com que o céu ao longe parecesse tremido. Ou era a visão dela que estava ficando estranha?
Sentia sua testa úmida, apesar do clima ameno, e suas mãos pegajosas. Tentava distinguir os sons na multidão, chamando-a de vadia indecente. De vagabunda. Espera, o quê?
Sua equipe de preparação parecia tão perplexa quanto ela, diante dos brados indistintos das pessoas ao redor. Nenhum deles entendia o que estava acontecendo.
Isso até que um montinho de uma dezena de repórteres ultrapassou a cerca de proteção, sabe Deus como, e correram a toda velocidade na direção da princesa, com microfones apontados em sua direção, e câmeras gravando a expressão assustada em seu rosto.
Guardas fardados vieram correndo na direção dos intrusos, mas não foram rápidos o suficiente. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, uma repórter de cabelo estilo pixie alcançou Victoria, e, jogando um gravador portátil pra cima dela, perguntou:
- Princesa, o que você tem a dizer sobre o vazamento da sua foto nua?
- Quê? - Victoria perguntou atordoada.
A repórter não respondeu, apenas tirou do bolso um smartphone que segurou bem diante dos olhos de Victoria, que, no mesmo instante, reconheceu a foto, e reconheceu seu próprio corpo nu.
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