Prólogo

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  Em meio a aula, Jeon Jungkook se perdia em pensamentos. Preocupações sobre o passado, o presente e o futuro pairavam sobre o jovem. Claro, as coisas não estavam sendo fáceis desde que seu pai havia falecido...
  Quer dizer, o garoto ainda tinha uma casa (por mais que ela ficasse na pior e mais perigosa parte da cidade), tinha bolsa de estudos em uma universidade de prestígio e dinheiro suficiente para comer até que pudesse arrumar um emprego. De todo modo, sua vida não poderia ser descrita como "boa".

— Jeon Jungkook. — dizia o professor, fazendo com que ele saísse de seu transe repentinamente e todos os alunos olhassem em sua direção.

  Prontamente o rapaz arrumava sua postura e o fitava assustado, esperando que ele continuasse.

— Poderia nos ajudar com a pergunta número quatro?

— ...C-claro.

    Jungkook folheava o livro à sua frente desesperadamente, se preparando para dizer de maneira patética que não havia feito a tarefa mais uma vez. Ótimo. Ele engolia em seco e abaixava a cabeça, mas antes que pudesse prosseguir o sinal tocava anunciando o final das aulas. Cômico, exatamente como nos filmes. O garoto agradecera mentalmente milhares de vezes e seus colegas de classe riam da frustração do que fizera-lhe a pergunta.
  Quase todos os alunos deixavam a sala imediatamente, enquanto o moreno ficava preso no conflito interno entre sair o mais rápido possível ou se esconder e esperar que o professor deixasse a sala. Ele simplesmente não aguentaria tomar outro esporro, mas antes que se desse conta os dois estavam sozinhos na sala em meio a um silêncio desconfortável.

Jeon prendeu a respiração e guardou os seus materiais de maneira rápida e consequentemente desajeitada, torcendo para ser deixado em paz ao menos naquele dia.

— Sr. Jeon, você sabe o motivo de eu pegar tanto no seu pé?

  Negava, timidamente fitando o chão enquanto se levantava e andava lentamente em direção à saída. Jungkook não era burro, ele sabia que tudo aquilo era proposital e não sabia porquê não podia simplesmente ficar em paz.

— Se suas notas continuarem a cair irão suspender a sua bolsa. Uma universidade como essa não pode sustentar alunos que não trazem resultados à altura.

  Ouvindo isso, o garoto sentia os olhos marejarem e se esforçava o máximo possível para não demonstrar fraqueza ou raiva.

— Por favor, se esforce mais.

— Certo... — a resposta era dita baixa enquanto ele deixava a sala.

  O rapaz prontamente começou a correr. Correr em meio aos corredores escuros enquanto tudo o que queria era ir embora dali, como se de alguma forma estivesse fugindo de seus problemas. Ele sabia que estava afundando em meio as coisas, mas o que poderia fazer? Tudo estava extremamente confuso e ele basicamente lidava com uma vida nova, dessa vez sem ajuda e sem escolha alguma. Como ele se esforçaria mais?
  Quando finalmente deixou a instituição e o vento frio da noite bateu em seu rosto, o rapaz respirou fundo e se permitiu relaxar um pouco. Não importava o quão ruim as coisas estivessem, as noites sempre o tranquilizavam e isso fazia com que ele voltasse ao ritmo normal, seguindo seu caminho com tranquilidade.

...

  Apesar do clima agradável, Jeon se sentia desconfortável e não, não era nada relacionado ao dia. O rapaz tinha um pressentimento ruim, como se alguém simplesmente fosse surgir das sombras e atacá-lo. Ele sentia-se observado, mesmo sendo o único indivíduo na rua nas milhares de vezes que ele parava para olhar ao seu redor. Gotículas frias de suor escorriam sobre sua testa, colando alguns fios de cabelo ali.
  Quando finalmente avistava as luzes exageradamente claras do mercadinho local, Jungkook seguiu apressado para dentro ouvindo o sinalizar o novo cliente. Ele sorriu nervoso para o atendente de semblante nada agradável e prosseguiu até os fundos da loja, parando em frente às estantes para escolher o seu jantar.

  Dez minutos já haviam se passado e o rapaz permanecia no mesmo lugar, como se a escolha errada entre lámen de carne e frutos do mar fosse capaz de matá-lo. Óbvio que tudo era uma desculpa para ver se ele ouviria o sininho novamente anunciado seu "assassino". Ele estava nos fundos da loja e poderia facilmente correr e pular o muro de alguma casa vizinha para se esconder... Mas não, nenhum sininho tocou.
  Se advertindo mentalmente pela preocupação excessiva (e perguntando a si mesmo se estava enlouquecendo), o garoto seguiu ao caixa e pagou pelo sua comida. Agora ele estava seguro de que isso era coisa de sua cabeça, ou ao menos tentava acreditar nisso, já que seus passos continuavam inconscientemente acelerados.
  Seu bairro por si só já era assustador e o simples fato de pensar naquela sensação esquisita fazia seu estômago embrulhar. Tudo ali parecia mais estranho que o normal e Jeon realmente estava acostumado com coisas estranhas naquela área da cidade.

  "Só estou cansado demais...", o garoto repetia mentalmente. Naquele momento, seu único desejo era se trancar no quarto e se jogar sobre sua cama. Sabendo disso, o garoto não pôde evitar sorrir agradecido quando avistara seu lar. Ele correu pelas ruas vazias com a mochila batendo nas costas e suas chaves tilintando, quase como uma criança animada em voltar para casa e contar aos pais sobre seu dia no jardim de infância.
 
  Jungkook subiu as escadas correndo e se trancou em seu pequeno apartamento. E nossa... Aquele lugar horrível nunca havia parecido tão confortável, até o cheiro de mofo das paredes parecia delicioso.
  Ele jogou a mochila em um canto qualquer e correu em direção ao seu quarto, arremessando-se sobre a cama e afundando o rosto no travesseiro enquanto gemia de satisfação. Jeon tirou sua camisa, revelando seu corpo magro e levemente definido e realmente sentiu-se relaxado. Ele puxou um dos livros de sua cabeceira e começou a folhear as páginas que estavam pintadas de dourado sob a luz fraca de seu abajur, aquilo parecia incrivelmente bom.
  O moreno permaneceu daquela forma até que a preguiça pudesse ser ignorada e ele tivesse condição de preparar o seu jantar. Ele alongou seu corpo e seguiu descalço até a cozinha, desviando de manchas suspeitas no carpete, onde colocou água para ferver.

  No fim das contas, todo o "terror" que precedira aquilo agora parecia ter graça, fazendo o garoto soltar uma risada fraca e sorrir abobado.

— Jeon Jungkook...

  Jeon virava bruscamente em direção à voz desconhecida, caindo levemente sobre o balcão completamente apavorado e indefeso.
  O estranho andou em sua direção até que ele pudesse ver seu rosto com clareza, fazendo-o engasgar em seguida. Era um garoto belíssimo. Ele tinha cabelos castanhos levemente cacheados – que poderiam parecer com os de Jungkook se os fios fossem um pouco mais longos e os cachos fossem ondas  – e um rosto simplesmente perfeito, que mantinha uma expressão de fascínio sobre o rapaz, quase como se ele fosse a atração especial de algum circo.
  Ele não parecia um assaltante, muito menos daquela área, as roupas pretas de aparência caríssima emolduradas por um cinto da Gucci entregavam-no. Era mais provável que ele fosse uma celebridade ou algo do gênero. E nossa... Jeon com certeza assistira um filme onde ele atuasse.

— Sabe, quando me mandaram buscar o pirralho não esperava alguém como você...

  Jungkook simplesmente não conseguia falar, estava completamente congelado tentando se convencer de que aquilo realmente estava acontecendo com ele. O rapaz sempre se perguntou se as coisas poderiam piorar e agora a resposta era extremamente clara, literalmente diante de si. Sim. As coisas sempre podem piorar.
  O belo criminoso analisava-o de cima a baixo e aos poucos sua luxúria tomava conta da atmosfera de forma que Jungkook sequer percebesse sua aproximação, o que só aconteceu quando seu queixo foi agarrado com brutalidade. Por um momento ele até mesmo pensou que fosse ser beijado, mas não parecia agradável ter seu tão sonhado primeiro beijo com seu provável assassino. O outro analisava seu rosto friamente enquanto seus lábios formavam um sorriso sádico e quadrado devagar, suas mãos firmes e fortes quase como se fossem esmagá-lo a qualquer momento. Jeon estremecia com o toque, principalmente ao lembrar que era um adolescente com hormônios de sobra e um belo peitoral à mostra.

— Acho que isso vai ser divertido. — novamente a voz grave e rouca preenchia o ambiente.

  De repente Jungkook pode ver o belo rosto se transformar em uma careta de ódio, que foi a última coisa que ele pôde ver enquanto sua cabeça colidia violentamente contra o balcão e a escuridão preenchia-no aos poucos.

DIVIN'S [jjk bottom +pjm] Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz