Capítulo 4

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Estou caminhando as margens do rio Yukon. A cidade está vazia e como um déjá vu, a familiar névoa encobre o horizonte, mas dessa vez eu não sinto medo; me sinto em paz.

Fecho os meus olhos enquanto caminho devagar, apreciado o momento tranquilizador ao inalar o ar gelado desta manhã.

Que estranho...

Não lembro do meu nome. Por algum motivo eu não me importo e não me dou ao trabalho de tentar lembrar nem dele, e nem de nada que me conecte a mim mesma, nenhuma lembrança, nenhum passado... simplesmente uma tela em branco.

Continuo andando sem rumo, apenas seguindo o leito do rio, observando a água correndo e respirando profundamente o ar gelado a cada inspiração.

Olho para cima, na esperança de enxergar um pedaço do céu que imagino estar lindo e azul, como nas animações infantis. Porém, não vejo nada. A névoa encobre tudo a minha volta, me dando apenas alguns metros ao meu redor, apenas o suficiente para eu não cair.

Então, ela começa a dissipar-se, subindo e me presenteando com uma visão mais distante.

Lá está ele, na margem oposta, parado e com seus olhos amarelos fixos aos meus.

Olho insegura a minha volta, buscando um caminho que nos una, mas não há nada que possa superar a distância entre nós.

Busco seu olhar novamente, mas ele já não está mais lá.

— Volta — grito para que ele possa me ouvir de onde quer que ele esteja agora.

Aguardo na expectativa dele aparecer novamente do outro lado, mas ele não volta.

Me sinto triste e rejeitada. É como se eu esperasse que ele quisesse voltar, que precisasse de mim, que eu pudesse ser especial de alguma forma.

— Por favor... — sussurro.

Ouço então, um uivo distante, porém alto o suficiente para saber que é sofrido. O som me atinge em cheio, fazendo uma lagrima escorrer dos meus olhos enquanto ponho a mão no peito na tentativa de acalmar meu coração.

Acordo no sofá.

Adormeci enquanto eu assistia televisão. Ao passar a mãos pelo meu rosto e me recuperar da emoção intensa, percebo que ele está molhado pela mesma lágrima derramada no sonho.

 Ao passar a mãos pelo meu rosto e me recuperar da emoção intensa, percebo que ele está molhado pela mesma lágrima derramada no sonho

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Na segunda-feira de manhã, estou na clínica veterinária para mais um dia de trabalho.

Aquele lobo de olhos amarelos toma conta dos meus pensamentos e por mas que eu tente me concentrar nas minhas tarefas, é impossível esquecê-lo.

— Dr. Pascal — chamo meu chefe e amigo.

— Sim, Liz — ele responde sem levantar a cabeça e os olhos do prontuário que está preenchendo com os resultados de um exame recém chegado.

Setenta e dois minutos (DEGUSTAÇÂO)Where stories live. Discover now