Capítulo 3

101 22 13
                                    

Caminho pelas ruas escuras de Whitehorse e sinto o meu corpo se arrepiar ao ser tocado pelo vento gelado que sopra durante a noite.

Um pensamento estranho não sai da minha cabeça. É como se algo ou alguém precisasse urgentemente de mim e da minha ajuda para se livrar de um sofrimento horrível.

Por que eu?

Sinto a mesma urgência, como se a agonia sentida por esse alguém fosse a minha também, e por algum motivo, o alívio só virá quando eu puder ajudar.

Não sei como e nem o que fazer, muito menos o que irei encontrar quando eu chegar lá. A única coisa que eu sei é que não posso evitar que as minhas pernas deem um passo após o outro, mesmo trêmulas pelo medo que sinto do que está por vir.

Olho em volta e a rua está completamente deserta.

Todos dormem.

As janelas e portas das casas por onde passo estão fechadas e com suas luzes apagadas. Me sinto como naqueles filmes de suspense onde a cidade foi devastada por um vírus mortal ou evacuada por conta da radioatividade que emana no ambiente.

Como que se estivesse caçoando de mim por acreditar que meu medo não é o suficiente, o acaso me surpreende com uma neblina inesperada, densa e esbranquiçada, a qual quase posso sentir na pele ao passar enquanto caminho, encobrindo a minha visão e tornando mais difícil enxergar adiante.

Sinto então, aquela sensação familiar e inquietante de ser observada, e todos os pelos do meu corpo se ouriçam. Esfrego os meus braços na tentativa de aquecê-los em busca de algum conforto.

Estou completamente alerta, buscando algo ou qualquer movimento que mostre a presença de alguém, porém não vejo nada, então, continuo em frente.

As cenas de todos os filmes de suspenses que assisti quando eu era mais nova, voltam a minha mente, lembrando-me constantemente que algo de muito ruim pode acontecer e, que pelo cenário atual, me parece algo eminente.

Paro de andar e concentro-me na minha audição, já que a minha visão está completamente prejudicada pela neblina. Ouço uma pedra rolando no asfalto e imediatamente viro-me na direção do barulho. Estou atenta e aterrorizada. É a primeira vez que algo de concreto acontece além da minha imaginação.

Dou dois ou três passos a diante e ouço o som de uma respiração constante e ofegante, como a de alguém apreensivo ou na expectativa de alguma coisa.

Medo de mim?

A neblina, tão rápida quanto veio, se foi. Subiu ao céu, tornando o ar mais claro e limpo, devolvendo a minha visão no exato momento em que um par de olhos amarelo-ouro me encara a pouco mais de um palmo de distância.

Acordo em um sobressalto, encharcada de suor e completamente desorientada.

Sento-me na cama tentando assimilar o que acabou de acontecer.

Um sonho.

Um sonho

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Setenta e dois minutos (DEGUSTAÇÂO)Where stories live. Discover now