Minha mão segura a puxador da porta, estou prestes a abrí-la, eu quero muito abrí-la, caminhar até o outro lado da rua e afastar meu escolhido daquele desconhecido. Mas paro, porque se eu fizer isso, ele achará que sou louco, e assim não vou conseguir me aproximar dele. Tiro a mão do puxador e soco o volante com força, espero Taehyung e o homem entrar para poder ligar o carro.

***

Abro a janela e deixo o vento noturno entrar, meu rosto, antes quente pela raiva, vai esfriando, e ao olhar para o retrovisor, vejo que não estou mais vermelho.

Pego a direita da estrada e continuo dirigindo até as casas começarem a ficar menos presentes. Quando olho rapidamente para o espelho do carro, vejo Hoseok. Ele está sentado no banco de passageiros, a maquiagem de seu rosto está totalmente borrada. A base derreteu por toda sua pele, o rimel escorre pela bochecha já suja de blush, o batom vermelho escorre feito sangue pelo seu queixo.

Uma olhada para trás e comprovo que ele não está realmente lá, o banco está vazio. Continuo dirigindo, mesmo que eu sinta aquele desconforto novamente. Primeiro eu vi Seokjin enquanto cortava a grama do meu jardim. Ele estava sentado no balanço, usava as mesmas roupas de quando eu o levei para a cabana, mas naquela época ele tinha dezesseis anos, e aquele homem sentado no balanço tinha vinte e seis, por isso as roupas de criança ficavam horríveis nele. O que me deixou desconfortável foi aquele breve fato que eu notei: ele parecia horrível. Um absurdo, eu sei. Mais tarde naquele dia, quando fui para a casa de bonecos, fiquei aliviado ao ver que eu estava errado. Seokjinnie estava perfeito enquanto cozinhava.

Acontece que, duas semanas depois, enquanto eu cozinhava, eu vi a Jisoo. Ela estava me observando da janela, usava aquele laço estúpido na cabeça, o mesmo que usava quando a levei para o meu carro depois daquela balada. Eu perguntei se ela queria entrar, porque estava nevando muito, foi quando ela deu um passo pra frente e bateu a cabeça na janela. Eu observei o nariz dela desprender de seu rosto, mas não havia sangue, apenas uma camada preta e imunda. Um piscar de olhos e ela não estava mais lá.

Quando a neve finalmente diminuiu, eu peguei a pá para limpar a saída da garagem. Mas acabei desistindo, porque Namjoon estava lá. Ele olhava atentamente para o outro lado da rua, a casa que uma dia foi sua. A mão esquerda dele, que eu precisei cortar, já que ele era forte demais, estava junto de seus pés, ela deixava um rastro vermelho na neve. Mas ele não estava lá de verdade também.

Estaciono em frente a casa de dois andares, por fora ela não é grande coisa, já que preciso que pareça uma casa comum para quem passa por aqui. Saio do carro e coloco as mãos dentro dos bolsos da jaqueta enquanto ando de cabeça baixa até a porta.

Subo os três primeiros degraus e retiro as chaves do bolso, a maçaneta está fria quando a puxo e entro na casa.

Tateio até encontrar o interruptor e acendo a luz, logo a casa é tomada pelo brilho da lâmpada que reflete nas paredes rosadas. Tranco a porta e caminho pelo corredor de entrada, ouço o som da TV vindo baixinho da sala, o primeiro cômodo depois do corredor.

Sentado no sofá, Jimin assiste um canal de leilão de jóias, os pés dele estão jogados em cima da mesinha de centro. Jiminie sempre foi um garoto bagunceiro.

— Quantas vezes já disse para diminuir as horas que passa em frente a essa TV? — pergunto, me aproximando. Deixo um beijo em sua testa gelada e sento ao seu lado, capturando o controle da TV.

— Está vendo esse botão vermelho? Ele desliga a TV, seu bobão! — observo seu belo rosto que ainda encara o aparelho, agora desligado.

ᴅᴏʟʟʜᴏᴜsᴇ | ᴋᴛʜ + ᴍʏɢOnde as histórias ganham vida. Descobre agora