- Tem razão - mordisco meu lábio, pensativa. - Vou fazer isso agora.

- Não vai falar algo que te comprometa - meu pai se levanta. - Vou te deixar sozinha.

- Está bem - me estico para pegar meu celular no canto da mesa.

Assim que ele sai, eu entro na minha conta do instagram e me preparo para gravar os stories esclarecedores. Faz tempo que não apareço aqui, com certeza isso vai atrair a curiosidade das pessoas. Não demoro mais que cinco minutos para gravar e postar tudo, agora só me resta esperar que a notícia oficial se espalhe por completo.

Manobro a cadeira de rodas para fora do escritório do meu pai. Assim que chego no corredor começo escutar vozes vindo da sala.

Ao chegar lá, me deparo com meu irmão mais velho e meus pais conversando. É esquisito pensar que Johnny não mora mais aqui, apesar de suas visitas serem constantes, bom, pelo menos desde que cheguei. É bom que ao menos um de nós ainda tenha tempo de vir e uma curta distância.

- Alguém parece estressada? - pergunta de forma provocativa.

- A fama é um saco - resmungo. - E as pessoas que elas atraem mais ainda.

Eles dão risada, ao menos alguém acha isso engraçado.

A fama é complicada. Tem proporções negativas e positivas, ambas com a mesma imensidão. Ainda tenho sorte em dizer que nasci com ela, pude crescer com isso e me acostumar. Claro que depois do futebol, as coisas triplicaram de uma forma veloz e absurda.

- É bom te ver aqui - me aproximo dele. - Mas sabe que estamos de saída, né?

- Sei, sua cirurgia é daqui a pouco - checa o relógio em seu pulso. - Melanie também queria muito vir, mas ficou presa em um ensaio.

- Você já está pronta? Já podemos ir - meu pai avisa.

- Sim - olho para mamãe. - E o Peter?

- Tô aqui - escuto seus passos na escada. Um segundo depois ele surge com a cara enfiada no celular. - Vocês já estão indo?

- Sim.

Ele finalmente larga o celular e se concentra na conversa, vindo em minha direção.

- Vai dar tudo certo - beija minha bochecha. - A mãe vai avisar depois que você sair da cirurgia, e Johnny e eu iremos te visitar.

Faz sentido, John veio para ficar de babá do Peter. Não que ele realmente necessite, esse garoto é muito comportado.

Recebo fortes abraços dos meus dois irmãos, em seguida partindo rumo ao momento que mais tem me apavorado nos últimos dias. A discussão que tive com os gestores hoje não ajudou muito, parece que tudo vai dar errado de alguma forma. Não sei o que vai acontecer se eu ficar tantos meses sem jogar, odeio admitir que isso vai ser prejudicial para minha carreira. Nós, mulheres jogadoras, precisamos de muito esforço para alcançarmos sucesso nesse ramo. E agora que finalmente consegui, estou colocando tudo a perder.

Cada vez que nos aproximamos mais do hospital, mais me sinto assustada e aflita. Não devia ter tido essa reunião justo hoje, já estava nervosa o suficiente.

Mesmo meus pais parecem preocupados, já que não disseram uma única palavra durante todo o trajeto. Minha mãe tem pavor de lesões no joelho, e, apesar de não dizer em voz alta, imagino que passe pela sua cabeça a hipótese de que pode ser o fim para mim. Se minha principal profissão fosse o ballet, já poderia dizer adeus com certeza. Nenhuma companhia estaria interessada em mim. Tudo estaria acabado. Se com Isabella isso quase aconteceu anos atrás com uma lesão bem mais simples do que a minha, imagina só. 

Amor MalucoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora