Era como se eu me visse em um espelho, alguns anos mais velha, mas ainda era eu. Os mesmos olhos, o mesmo jeito desengonçado de sorrir. Eu.

  — Aqueles desgraçados foram os primeiros a ir embora. —  A voz atrás de mim fez um arrepio percorrer minha espinha. Virei bruscamente e encontrei senhor Warrior, com uma expressão que mesclava derrota e raiva.  — Ah, Florence, você não deveria estar aqui. —  Suavizou o semblante e forçou um sorriso ao vir em minha direção.

Seu gestual demonstrava que ele iria me dar uma bronca, mas assim como eu, quando seus olhos pousaram sobre a foto, ele paralisou.

Seus olhos alternaram entre mim e a moça da foto.

  — A conhece? —  Respondi balançando a cabeça em negação. Warrior cruzou os braços, lançou mais um olhar demorado na foto e me encarou reflexivo. — Eu diria que isso é um tanto simbólico, como uma predestinação.

Abri a boca pronta para implorar uma explicação, porém o toque de seu celular me impediu e reverberou por todo o andar. Ele não atendeu, apenas puxou do bolso da calça e encarou a tela. Seu rosto voltou a expressão de derrota.

  —  Vamos, temos que sair daqui.

Sua mão segurou a minha e ele me conduziu, como se fugisse de algo, em direção ao elevador. Olhei por cima do ombro, para a foto da desconhecida, mas a lâmpada havia falecido e tudo o que vi foi o breu e a luz do abajur bem ao fundo.

Quando retornamos para o saguão, Tomás se afastou de mim e foi correndo até as enormes e pesadas portas da entrada principal, que estavam fechadas e sendo vigiadas por uns vinte ou mais seguranças

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Quando retornamos para o saguão, Tomás se afastou de mim e foi correndo até as enormes e pesadas portas da entrada principal, que estavam fechadas e sendo vigiadas por uns vinte ou mais seguranças. Fiquei parada na porta do elevador tentando ouvir o que conversavam, mesmo que estivesse muito longe para ouvir qualquer coisa e tivesse reprovado na matéria de leitura labial.

O saguão estava um pouco mais vago, as pessoas que ali estavam carregavam malas e outros pertences avulsos nas mão, olhavam uma para as outras e se perguntavam O que está acontecendo? Por quê? Como vamos sair disso? Por um momento meu olhar se desviou de Tomás e foi até um casal de idosos, escorados no balcão, a mulher chorava baixinho enquanto o marido passava a mão em suas costas, tentando acalmá-la. Mais a frente, uma mulher descabelada balançava uma criança de colo freneticamente, mesmo que o garotinho já estivesse dormindo.

Abandonei Tomás de uma vez e olhei ao meu redor, desespero, estavam todos desesperados. As crianças buscavam explicações para as malas feitas, funcionários corriam de um lado para o outro oferecendo auxílio, adultos encaravam o nada e seguravam as lágrimas. O pavor me dominou quando a ficha caiu: há bombas no hotel e se não sairmos daqui logo tudo vai explodir e ir pelos ares, nos matando em sequência.

As luzes dos lustres acima de mim ganharam mais vida e turvaram minha visão, não senti minhas pernas, mas sabia que estava no chão, de joelhos. Vamos morrer, vamos morrer, vamos morrer. Que tipo de pessoa insana coloca bombas em um local de lazer?

Se Essa Vida Fosse Minha Onde as histórias ganham vida. Descobre agora