straight to the heart.

late night dreams

no âmago da noite, eu clamo à jovem voz que estremece as paredes de minha mente, por um suspiro de sobriedade. já que minhas noites deixaram de ser berços de sono e se transformaram em uma tela de cenários sombrios, o que pesa abaixo de meus olhos não é um sorriso, mas depressões profundas que tornam meu rosto um reflexo incômodo do cansaço.

perfuro horas explorando os mais diversos cantos da minha cama, me redendo aos ruídos excêntricos da madrugada, que mais parecem uma criação inusitada de meus devaneios do que a vida real performando seu papel diante as estrelas.

não sei se são passos, pássaros, pratos, e o quanto mais tento e me concentro em identificar, mais longínquos e espaçados se tornam, sussurrando em meus sentidos a dúvida da sanidade.

não sei se esses passos correm para mim, ou para longe de mim, não sei se esses pássaros anunciam a chegada do dia ou da noite, e não sei se os pratos caíram do meu armário, ou estalaram na parede da vizinha.
secretamente, minhas paranóias se alimentam da profundidade noturna; meus olhos projetam o teto iluminado à meia-luz, minha mente, uma composição de tragédias, e meus ouvidos, os absurdos que perfuram a persiana da janela - ou o vão da porta.

(a d e u s) de repente, os passos correm para longe de mim - e eu o amo tanto e agora ele vai embora - os pratos se espatifam e é possível sentir o menor dos estilhaços - porque eles se projetam no meu coração, e por que ele diz essas palavras? - e os pássaros assobiam para mim, anunciando o horário em que ele fechou a porta.

eu não acordo, porque nunca dormi ou enlouqueci, meus olhos se mantiveram abertos o tempo todo. seu adeus foi meu despertador, eu estive sonhando acordada afinal, e agora tenho cacos de vidro na minha cozinha. só sobraram 4 pratos no armário, é uma bagunça e tanto para arrumar.