comer, comer e comer

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como, choro, vomito, evito, sufoco, como.

sucumbi ao momentâneo prazer vicioso, dia após dia, comendo qualquer coisa que achei na tentativa de apaziguar o eterno furacão que expande meu peito em fragmentos irrecuperáveis.

quando encontrei-me em meio um mundo novo, e percebi os vários quilos a mais que decoravam meu corpo juvenil e limitavam uma linha entre garotas bonitas e eu, a comida se transformou em algo temível.

há 4 anos vejo-me presa nessa espiral ridiculamente imparável, porque a comida fez-me marionete e escrava do meu próprio desejo.

a rotina cansativa repete de maneira igual como se eu estivesse em loop no meu pior pesadelo, por isso, o cérebro que não desvendo interpreta qualquer perspectiva de mudança como um sopro intruso, que no final também acaba sendo parte do escript desta cansativa performance.

como, porque simplesmente estou automatizada a fazer isso mesmo sem vontade e até não suportar mais.

choro, porque canso de estar fraca o tempo todo e infeliz em minha própria existência.

vomito, na tentativa de aliviar a supressão que a culpa põe em meu peito sobrecarregado, mas esse tal alívio nunca vem de verdade.

evito, por no máximo dois dias, nunca mais que isso, e não pense que sinto orgulho de tudo o que disse aqui.

sufoco, em toda essa situação exaustiva que lateja em meus pensamentos, e me afundo mais uma vez em dietas de google.

como, de novo, e depois de prometer que iria ir até o final, me torno a mesma pessoa que fui semana passada.

straight to the heart.Where stories live. Discover now