that's gross!!!!!!!

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eu sempre fiquei muito incomodada com a fragilidade das coisas.

quando nosso carro cruzava pelos animais mortos na beira do asfalto, despedaçados e rasgados ao meio como bonecos de pelúcia, eu lamentava para meu pai a morte deles e dizia que nada deveria ter um fim como aquele. era desconcertante, porque era real e palpável, só uns passos e eu poderia tocá-los, sentir o cheiro pútrido de seu cadáver envelhecido, não havia pixels ou uma violência gráfica irreal, era apenas pele, ossos quebrados, e vísceras naturais que sangravam de verdade.

"pessoas morrem despedaçadas, animais morrem despedaçados, essa é a vida!" papai nunca fora muito sensível em relação essas coisas, ele é realista e às vezes um pouco frio, mas nunca diz nada além da verdade. me mostrou que o mesmo cachorro que jaz nos braços da dona, pode ser o mesmo que jaz esmagado no meio da pista, e isso é assustadoramente diário.

toquei-me então, de que tudo pode me destruir em um mísero segundo. a fragilidade de nossos corpos humanos me deixa desconfortável, e o medo de morrer despedaçada é real e fértil à imaginação. porque ora somos grandiosos em frente o espelho, ocupamos um espaço considerável nos ambientes diurnais, somos alguém de presença e porte físico, e ora também somos uma centelha de sangue, um amontoado de bagunça, um material incoveniente grudado no asfalto, um grande nada.

puramente mórbido, mas entre a confusão que se tornou o mundo e os dias, meu anseio é de continuar inteira até o fim do dia, e com sorte, até o fim da vida também. porque um passo em falso, e BOOM, não sou nada além de uma matéria misturada e irreconhecível, não tenho nem mesmo o rosto com qual nasci, e portanto não faço jus ao meu nome.

straight to the heart.Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ