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No dia do nosso primeiro beijo, eu fiquei lá até o anoitecer.

Quando fui interrompido por outra ligação da minha mãe.

— Tenho que ir. — Disse a Kate, me levantando do tapete, enquanto o Renato Russo cantava "Eduardo e Mônica" na vitrola.

— Te vejo depois? — Ela questiona, na porta do apertamento dela.

— Com certeza. — Falo, antes de dar um beijo na testa dela. Eu estava caminhando para o elevador, mas Kate me puxou para um beijo.

Coisa de amigo. — Ouço a mãe dela dizer no fundo, e sorrio um pouco.

— Pronto, agora pode ir. — Kate fala, quando nos separamos. Ela tinha um sorriso no rosto.

— Está me expulsando? — Questiono, arqueando a sobrancelha. Collins revira os olhos.

— Não quero mais te ver por hoje, enjoei. — Ela fala, irônica, apontando para o elevador.

— Você não disse isso quando tava me beijando! — Falo, indo embora.

— Até, Caleb! — Kate grita, antes que as portas metálicas se fecham. Eu estava com um sorrisinho bobo nos lábios.

Mas, quando eu cheguei em casa, meu sorriso se desfez. Era o mesmo cenário de sempre: minha mãe gritando por algo que o meu pai não fez, e ele assistindo a tv, ignorando ela.

— EU FALEI PARA VOCÊ PARAR COM ESSAS GRACINHAS! QUAL ERA A VAGABUNDA QUE VOCÊ ESTAVA CONVERSANDO?! — ela gritou, para ele. — E aonde você estava, Caleb Sympson? — Faço uma mini careta por ela ter usado meu nome inteiro.

— Aqui do lado. — Falo a verdade. Minha mãe ergue uma sobrancelha.

— Ta, você pode começar a arrumar suas coisas para nos mudarmos. — Ela diz, com toda a calma do mundo.

Que eu tinha quase esquecido. Por causa da Kate.

— Não. — Solto. Eu já estava cansado. Ninguém me ouvia naquela casa.

— Caleb, você vai com a gente, fim de papo. — Minha mãe fala, pegando uma caixa.

— Eu já disse que eu posso ficar morando com a Violet! — Quase grito.

Assim que os meus pais citaram a mudança, eu fiquei perplexo. A última coisa que eu queria era ir embora de Laranjeiras

Violet foi a única pessoa que eu contei. Ela era praticamente minha única amiga, e era de maior, e morava sozinha.

E ela me ofereceu com muito bom gosto o quarto de hóspedes da casa dela. Eu havia amado a ideia.

Só que os meus pais não. Definitivamente não. Não me entenda mal, eles não são preconceituosos com a Violet ou algo assim, na época em que Joe namorou ela, eles a amavam.

Só que a ideia de deixar um filho na cidade em que o outro se suicidou não pareceu muito agradável.

— VOCÊ NÃO VAI! — minha mãe grita. — NÓS NÃO VAMOS PERDER VOCÊ TAMBÉM! — Fico sem fala. Sinto meus olhos marejarem.

Era isso que ela pensava? Que eu iria desaparecer da vida dela? Que, se eu ficasse, iria morrer assim como Joe morreu?

— Caleb, eu... — Minha mãe parece perceber o peso das palavras, e tenta se desculpar. Mas eu não a deixo acabar, e corro para o meu quarto.

Bato a porta, e procuro desesperadamente pelo maço de cigarros.

Vou para a minha varanda, e antes de acender, começo a olhar a varanda a minha frente. E Kate vem a minha cabeça.

All Star's e TangerinasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora