E a melhor parte, ah... Eu ainda nem cheguei nela.

Pois falando em Camila... ouvi meu celular tocar estridente enquanto eu saía do elevador, tentando equilibrar as sacolas do mercado, minha bolsa, meu tablete e o celular na curva do ombro e o ouvido, o atendendo meio atrapalhada.

: - Oi, vida! - cumprimentei-a, parando em frente a porta do nosso apartamento e colocando as sacolas no chão para procurar as chaves na bolsa. – Está tudo bem?

: - Oi, meu amor! – Sorri ao ouvi-la, mas sua voz um pouco fraquinha me deixou preocupada. Achei as chaves e abri a porta, pegando as sacolas. – Já chegou em casa?

: - Acabei de chegar, passei no mercado para comprar umas coisas pra você. – Fui recebida por Elis e seus dois filhotinhos, de pelagem tão negra quanto a dela. Lindos! Os acariciei e pus as sacolas sobre o balcão da cozinha. – Vou tomar um banho, descansar um pouco e vou praí te ver.

: - Amor... – Ela disse baixinho e meu coração acelerou no mesmo segundo. – Não quero te deixar nervosa, mas acho melhor você vir pra cá agora... Minha bolsa estourou, Lauren, chegou a hora.

Querem saber a melhor parte? A melhor parte é essa.

: - O quê? – Eu quase gritei, me sentindo tonta e tive que me apoiar com a mão livre na bancada da cozinha para não cair. – Estourou que horas? Você está bem? Por que não me ligou antes? Meu Deus, Camila! Eu estou indo praí, só preciso pegar umas coisas e...

: - Amor, calma, por favor! – Ela disse com a voz um pouco agitada e imaginei que estivesse sentindo dor. Comecei a suar e a andar pelo apartamento em passos rápidos, recolhendo algumas coisas pelo caminho. – Eu estou bem, comecei a ter contrações um pouquinho mais fortes só agora, e a Dra. Beth disse que muito provavelmente será um trabalho de parto longo, então dirija com calma, por favor!

: - Por que não me ligou assim que sua bolsa estourou, Camila? Que horas foi isso? – Entrei no closet que agora pertencia a ela também e peguei uma pequena mala, colocando as primeiras peças de roupas que achei pela frente dentro dela, ouvindo-a gemer de dor baixinho. Meu coração se apertou. – Amor?

: - Oi... desculpe, mas eu não queria te apavorar e te fazer abandonar o trabalho para vir correndo, você já faltou muito por minha causa essas semanas, então esperei até o horário em que você normalmente sai para te ligar. Tem três horas que entrei em trabalho de parto.

Fechei a mala com a mão livre e fui tirando os saltos apressada, junto com as roupas da forma que eu podia. Estava completamente apavorada, nervosa, ansiosa. Eu sentia que poderia infartar.

: - Eu já estou chegando, aguenta firme, está bem? – Ela concordou com um som nasal e eu entrei no banheiro tirando meu sutiã para tomar um banho rápido. – Quer que eu leve alguma coisa para você daqui? Alguma roupa?

: - Traz as mantas das meninas que eu esqueci no quartinho delas, por favor! – Entrei no box, fazendo tudo no automático. – E só vem... preciso de você. Estou com medo.

: - Eu estou indo, meu amor, estou indo. – Quis chorar. – Vou tomar um banho correndo e já já estou aí. Me espere! Eu te amo muito!

: - Eu também te amo!

Desliguei o celular e quase o taquei no chão, entrando embaixo da ducha quente e rompendo em um choro de pura alegria e ansiedade.

É, acho que já posso começar a contar sobre a melhor parte.

Camila e eu seríamos mães. Mães de gêmeas. Mães de duas meninas.

Não fazia muito tempo desde que resolvemos aumentar a nossa família, ter filhos sempre esteve em nossos planos, então decidimos que aquele era o momento perfeito para desejá-los, uma maré de felicidade era um bom cenário para o nascimento de uma criança.

Águas de MarçoWhere stories live. Discover now