High seas

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Oiii essa é uma das minhas primeiras fanfics espero que gostem 😅

𓆝 𓆟 𓆞

As semanas que passaram-se desde que o imponente navio erguera suas âncoras da areia fina que circuvinhava as intermediações do reino pareciam ser suficientes para tornar a memória do lugar um pouco baça. Respeitado quase religiosamente pelos marinheiros que o amavam e temiam, o oceano se dispunha a frente, vertiginosa, pertubadoramente, aguçando os sentidos de todos que ali navegavam. A viagem era sedutora ao máximo, exaustiva ao extremo.

O luxuoso navio se tornava quase medíocre ao tentar desbravar nos azuis de tons incomensuráveis a glória e seu cortejo de horrores. Apesar das entranhas do peregrino portarem a pompa da realeza, quartos e salas em tons de dourado e bordô, ornamentos esculpidos manualmente, mapas e livros fascinantes, era com humildade que avançava o mar bravio. O navio inicialmente também detinha um agradável aroma de especiarias narnianas, entretanto depois de alguns dias nada mais se distinguia no ar se não o salgado cheiro oceânico.

O alvoroço diário da embarcação, o balanço nauseante da maresia, os nervos a flor da pele exacerbavam o mal humor estridente dos brutos marinheiros. Não era raro ouvir discussões que podiam terminar em ameças assinadas por canivetes e pequenas adagas. Mas não passava disso. As pessoas que conviviam ali eram os únicos seres vivos em muitas milhas, e o exílio torna a todos um pouco selvagens.

Até porquê os dias não eram contos de fadas. As manhãs começavam cedo e as noites tarde, isso quando não se estendiam até a manhã seguinte. Nessas noites insones o gin corria solto, e entre cantigas e goles, os pés doíam, os mosquitos incomodavam, as roupas fediam, e a fantasia corria solta.

O ambiente incontestavelmente masculino, por vezes podia ser exaustivo ao ponto de fazer lágrimas inconsoláveis verterem dos olhos da única menina da embarcação ao trancar-se no quartinho apertado que lhe era destinado. Porém Nem mesmo o choro de alguns dias difíceis eram capazes de destruir a sua inefável felicidade.

Elizabeth abaixava a cabeça diante das ordens, broncas e resmungos de seus superiores. Entretanto era orgulhosa, e era deste modo, quase inocente que mais se feria. Usava dessas feridas, assim expostas, para tentar entender-se a si mesma. A moça, encarregada de tudo um pouco por exceto de trabalhos excessivamente pesados, tinha vocação para atriz, pois disfarçava cicatrizes colossais com indiferença. Mas a ela mesma não conseguia enganar, o que lamentava.

Teve uma infância doce, cresceu entre os bosques, entre os faunos, e entre mulheres um pouco humanas, um pouco místicas. Uma delas sua mãe. E respeitava as damas que lhe ensinaram do belo e do sombrio da vida muito mais do que a qualquer homen que precisava empunhar uma espada para se afirmar superior.

Entretanto, era com desejo que a menina ouviu as histórias sobre a vida fora daquele bosque, e ansiava quase dolorosamente conhecer outros lugares. Sua infância toda foi um sonho, o vislumbre do que realmente era a vida que almejava, apenas aguçando sua vontade inesgotável de conhecer tudo e um pouco mais.
E mesmo sua imaginação fantasiosa, não pode prever que algum dia chegaria aonde estava agora.

Foi com rebeldia e coragem que agarrou a primeira oportunidade de deixar para trás a encantada floresta de sua infância. O rei anunciara que estava a procura de mulheres dispostas a integrar uma guarda real essencialmente feminina. Elizabeth de baixa estatura, tez delicada, mãos finas, e grande senso de aventura não se intimidou pela proposta. Foi aprovada pelo próprio regente, Caspian, que contemplara a garota manejar uma cimitarra com maestria.

Entretanto, apesar da a menina ter caído nas boas graças do regente, os oficiais do exército encarregados de treinar a nova guarda não compartilhavam da visão do monarca quanto ao potencial da moça. Era a mais mirrada dentre as selecionadas, sofrendo com as lições impostas, demorando o dobro do tempo das outras para realiza-las.

Apesar do sofrimento, ela não permitia que os outros troçassem ou sentissem pena dela. Era uma companhia agradável, e em pouco tempo todos se enterneceram por ela. Apesar disso, a garota optou pelo exílio da meta de merecer a posição alcançada, reservando todo o seu tempo disponível para treino ou estudo. Tinha facilidade com armas, mas desvantagem em questão de força, compensava seu tamanho em agilidade, e a delicadeza em inteligência.

Em poucos meses ela se igualou as demais companheiras da guarda, e enquanto outras inúmeras moças desistiam, Eliza se aprimorava cada dia mais. No dia da oficialização do exército, ela foi condecorada como uma das melhores da turma. Caspian se orgulhava da pupila, e apesar do favoritismo, o mérito de sua reputação não se devia a mais ninguém se não a sua própria dedicação. Apesar da aparência, não era apenas uma fadinha delicada, era uma guerreira de primeira linha que podia ser tão selvagem quanto qualquer outro combatente.

Mas a recompensa mesmo, por todo o esforço investido, lhe veio quando recebeu um convite real, para ser um dos poucos guardas, e a única mulher, a acompanhar a tripulação do Peregrino da Alvorada, que tinha como missão procurar os amigos do pai do rei Caspian, desaparecidos nesses mares intempéries há muito, muito tempo.

Apesar de ter mérito em questão de dedicação, o grande diferencial que lhe possibilitou o convite foram suas aptidões adquiridas pela sua descendência mística. Sendo sua mãe, uma ninfa, Elizabeth portava relativo controle sobre a água. Apesar de ter dificuldade em controlar o poder.

Caso a menina não se sentisse confortável com o convite, tinha total liberdade de recusar, mas ela não se intimidou, pelo contrário, aceitou de pronto. Carregava a esperança de conhecer o mundo, porém as semanas que se passaram contemplando nada além de uma imensidão azul aparentemente inesgotável, quebraram suas expectativas.

O que, no fim, mais estranhava era o convívio diário com os marinheiros, todos homens. Por toda sua vida convivera com mulheres em sua maioria, por isso, achava graça ao se deparar com a nova experiência. Descobriu que sabia lidar com os marinheiros de cabeça dura e coração mole. Inicialmente estranhou o modo como tratavam uns aos outros, ora se xingando ora se abraçando. Elizabeth os achava engraçados, e eles respeitavam a força de vontade da pequena, de modo que ela se sentia cada vez mais confortável ao lado dos rapagões com barba por fazer.

Drinian, o capitão, não era muito amigável, ele lembrava a menina os oficiais do exército que implicaram com ela um dia, a diferença é que ela admirava sua altivez e capacidade de liderar toda a tripulação. Caspian, por outro lado, era um doce, e Elizabeth por vezes até se pegava observando o monarca com admiração. Corou quando, uma vez, o olhava sem perceber, até que o homem devolvera o olhar que ela disfarçara sem jeito.

- ELIZABETH! - A menina deu um pulo, assustada, e demorou-se procurando o dono da voz - Como está a vista aí em cima?

Drinian acenava com impaciência para ela, que se equilibrava na proa. A garota fitou o horizonte, tirando o cabelo revolto que pinicava o rosto, buscava terra firme ou algo que ameaçasse a segurança do Peregrino.

- Nada com que se preocupar - Repondeu elevando a voz - A não ser que tema esse azul infinito - Resmungou pra si mesma com pouco entusiasmo.

O sol já abaixara há algum tempo, e ela sentiu um súbito arrepio pela rajada de vento, que não folgava. Amarrou o cabelo recém cortado acima dos ombros com um encardido fitilho vermelho, e abraçou a si mesma tentando se aquecer.

O mar estava calmo, e apesar de o vento prever uma tempestade em pouco tempo, não conseguia ver dali, nenhuma nuvem tempestuosa. Se olhasse para o fim do horizonte não conseguia se quer distinguir o que era água do que não era.

Elizabeth encarava o oceano em transe, perturbada e admirada diante de sua imensidão. Foi quase inconscientemente que voltara sua atenção para os arredores do peregrino. Assustando-se novamente, com a visão de três pontinhos pretos emergindo da superfície poucos metros a frente do navio. Encarou os hipnotizada, tentando compreender o que se passava, e incrédula, compreendeu que eram três figuras humanas emergindo das águas em pleno e alto mar.

-  O que diabos - franziu o cenho, e lembrou de sua função ali em cima -Ho... Homens ao mar! homens ao mar! - Gaguejou e desceu de seu posto, estranhamente entusiasmada por uma mudança na rotina.

𓆝 𓆟 𓆞

Obrigada por lerem!!!! Torço pra que tenham gostado 🤭


𝑨𝒔 𝒄𝒓𝒐𝒏𝒊𝒄𝒂𝒔 𝒅𝒆 𝑵𝒂𝒓𝒏𝒊𝒂 - 𝑨 𝒇𝒂𝒅𝒂Where stories live. Discover now