CAPÍTULO 1

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Antes mesmo de eu aprender a ler eu e o Gabriel já brincávamos juntos...




24 de dezembro, 2008

Crianças são sempre crianças certo, e foi assim que a gente se conheceu... Eu lembro como se fosse ontem, a gente se deu bem de primeira... Ou eu me dei bem com ele de primeira.

Nunca foi fácil ler o Gabriel, nem quando ele era criança.

- O que você ganhou? - um garoto surgiu atrás de mim e perguntou assim que eu abri meu presente.

- Mais uma boneca! - respondi mostrando a caixa, era gigantesca mas eu não estava feliz.

- Não foi o que você queria? - ele perguntou e eu balancei a cabeça negando. - O que você pediu?

 

- Meu pai em casa... - falei e eu vi os olhos do garoto ficarem meio tristes. - Você também pediu isso pro Papai Noel?

- Não... Seja lá onde ele estiver não tem tempo pra fazer isso. Eu pedi uma bicicleta irada! - ele deu de ombros.

- Não devia ser assim... - reclamei e cruzei os braços. - Você não sente falta dos seus pais?

- Meus pais nunca ficam em casa, eu moro com a Maria... Ela que cuida de mim. - ele deu de ombros mais uma vez, como se não se importasse.

- Meu nome é Maria também! - falei com um sorriso, ignorando totalmente meu pedido de natal frustrado e focando no garoto a minha frente.

- Ah... O meu é Gabriel, quantos anos você tem? - ele perguntou.

- 6. - respondi e então lembrei das regras de boa maneira que a minha mãe tinha me ensinado. - E você?

- Quase 8... Sabe andar de bicicleta? Eu acho mais legal que brincar de boneca! - ele perguntou e eu sorri balançando a cabeça negando. - Uma pena eu vou brincar lá fora com a minha.

- Eu posso brincar com você? - perguntei. - Juro que eu aprendo rápido... É melhor que brincar sozinho né?

- Tá. - ele concordou.

Eu estava com o cabelo cacheado e uma tiara vermelha combinando com o meu vestido, usando uma meia branca e uma sapatilha preta... Essas roupas nunca mais foram as mesmas depois daquela noite.

- Você tem que confiar. - ele falou. - Preparada?

- To sim. - fiz uma continência.

- Lembra de olhar pra frente! - ele falou com um sorriso.

Pedalar e olhar pra frente, sinceramente não foi uma ideia muito boa, mas eu tentei, tentei e cai feio.

- Você tá bem? - ele correu para chegar perto de mim. - Vem... Eu te ajudo.

Sua mão encostou na minha mão e então eu não estava mais no chão.

- O seu vestido... - ele murmurou.

Um pedaço do meu vestido prendeu no pedal da bicicleta, rasgou um pouco, não foi nada demais, ri da reação dele, vi que minha meia calça também tinha rasgado, ri mais por me achar parecida com alguém que acabou de sair de um filme de terror.

- Se continuar assim você não sobrevive até o próximo natal! - ele murmurou de novo, mas sinto que dessa vez foi pra eu ouvir.

- Foi só o vestido! - cruzei os braços, mas olhei para o garoto de novo e então suspirei e falei. - Acho que eu não vou aprender mesmo... Vamo brincar de outra coisa? - perguntei.

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