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Enquanto lixava minhas unhas, sonhando acordada com o beijo que o professor Damian havia me dado na semana retrasada.

Depois daquele dia, nós não nos vimos muito e tudo graças a Katrine, que se empanturrou de salgadinhos cheios de gordura e consequentemente contraiu uma virose, deixando de frequentar o clube de leitura por uma semana.

Além de estragar as minhas aulas particulares com Damian, ainda tive que ficar ouvindo-a falar dos seus gatos sem parar. Tinha até decorado o nome de cada um deles: Gustavus, Emes, Gerald e Peludo. Qual é, que tipo de pessoa sensata coloca nomes tão ridículos no próprio bicho de estimação? Se eu fosse um deles, com certeza me enforcaria só para não ter que escutá-la me chamar desse jeito.

Ainda bem que essa semana ela já está bem melhor, e voltaria às atividades normalmente, me deixando com um tempinho livre para estudar a matéria de Damian com ele. Se eu não o visse tão de perto, a ponto de poder tocá-lo mais uma vez, iria surtar a qualquer momento.

Terminando com as unhas, guardei a lixa dentro da minha bolsa, cruzando as pernas. Antes que eu percebesse, uma silhueta alta e magra surgiu na minha frente, apoiando os cotovelos na mesa do refeitório e encarando-me como se quisesse acabar comigo.

— Cabelo bonito... — elogiei, mordendo o lábio inferior.

— Claro! — respondeu apertando os maxilares, enquanto os fios ruivos do seu cabelo mal saiam do lugar, de tão secos que estavam.

Era controverso achar que ficou mais bonita de cabelo curto? Dei uma risada pouco a vontade.

Desconsiderando qualquer possibilidade de eu socar seu rosto novamente, Loren se sentou na mesa, de frente para mim, passando a me encarar, como se estivesse surpresa com a minha atitude.

Ela era extremamente inteligente. Sabia que eu era a responsável por aquilo, justamente por me conhecer melhor do que deveria. Se Loren não fosse tão filha da puta, seríamos grandes amigas.

— Quem mais além de você seria capaz de se rebaixar a esse nível, Gretta? — perguntou com os olhos semicerrados.

Sabia bem o que Loren queria com isso. E eu não era nem de longe tola o suficiente para dizer o que ela queria ouvir.

— Se você tivesse tanta certeza assim, teria relutado um pouco mais para o diretor Monrov me considerar culpada. Mas não fez. Por que será?

Ela pareceu engolir em seco. A expressão em seu rosto mudou de uma hora para a outra.

— Se me lembro bem, tramei contra você a alguns anos da mesma forma. Não tem como ter sido outra pessoa!

Realmente, não tinha.

— Já parou para pensar que eu tenho mais o que fazer do que ficar fazendo gracinhas contra você? — revirei os olhos. — Até porque, não existe só você para eu odiar no mundo!

Se eu não a conhecesse bem, diria que ela estava prestes a se fazer de vítima.

— Tem razão... — sussurrou, fingindo estar convencida. — Você tem mais o que fazer do que tentar tomar meu lugar e fracassar. Além do mais, seria muito infantil da sua parte...

Seria engraçado, se não fosse cômico.

— Pois é, senhorita Dudek! — sorri para ela de uma forma nada amigável. — Mas, só para lembrá-la... da próxima vez que me acusar de forma injusta, prometo fazer a acusação valer a pena.

Loren se levantou para sair e eu aproveitei a oportunidade para piscar para ela, como uma forma mais leve de provocação, afinal, ela ainda teria uma noite longa pela frente, espirrando e se coçando por todos os cantos.

Boas Garotas MalvadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora