Capítulo Cinco - When The Sun Goes Down

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Na noite seguinte a partida, os marujos se encontravam reunidos no convés, agrupados ao redor de uma lamparina cuja luz bruxuleava inconstante com o movimento do navio a cortar as ondas. Sua missão era fazer a vigília até o próximo turno para então poderem cair nas redes e apagarem por completo até que a manhã chegasse. Entretanto, ali estavam eles, negligenciando suas tarefas em prol de uma garrafa de rum escondida e do prazer que era narrar antigas histórias para expor os medrosos e indignos.

Shouto não sabia como havia ido parar ali, mas agradecia qualquer oportunidade que fosse de conseguir um pouco de tranquilidade, um tempo apenas para observar a lua refletir seu brilho no mar e não pensar em mais nada. Entretanto, não tinha como não interromper a sua própria atividade para deixar que os olhos observassem o homem mais velho que ele jogando os pés nas pernas de alguém, enquanto apoiava-se em um dos bancos de madeira espalhados por aquele lugar. Podia notar as linhas de expressão na testa do rapaz castigado pelo tempo, as bochechas eram finas, ossudo, diferente do companheiro no qual se apoiava, que era rechonchudo e jovem, talvez alguns anos mais velho que o próprio Todoroki.

O homem mais velho segurou a lamparina em sua mão e arregaçou as mangas, como se estivesse prestes a contar algo importante, não conseguia olhar em seus olhos do ponto onde estava, mas podia ver expressão séria, cansada por ter passado o dia inteiro trabalhando. Ainda assim, quando a luz oscilou pelo seu rosto, havia um quê de humor sombrio estampado na curva do lábio que se erguia em um sorriso malicioso.

― Bem antes de eu parar nesse navio... ― começou o homem em um tom rouco. ― Quando a maioria de vocês ainda não passavam de pequenas e irritantes crias agarradas às saias da mãe...

― Qual é! ― um dos outros interrompeu com uma risadinha. ― Não somos tão novos assim!

― Calado! Quem está contando a história sou eu! ― pigarreou e retornou ao tom abafado que estava usando anteriormente. ― Havia um navio, um belo e poderoso navio encomendado diretamente pelo rei a um famoso e anônimo construtor como um presente a marinha portuguesa por seus serviços. ― Um coro de vaias se ergueu, mas logo foi silenciado por um olhar irritado daquele que falava. ― Diziam os envolvidos que aquele navio era a obra prima do construtor, sua maior criação e que nenhum dos demais barcos se igualaria a ele em termos de velocidade. Ele o batizou de Plus Ultra e o apresentou ao Rei como fora pedido, desaparecendo sem deixar rastros logo em seguida. Alguns dizem que morreu, outros ainda que tirou a própria vida, tomado pela certeza finda de que jamais faria outra obra tão grandiosa.

"Na marinha, o navio prosperou, rápido e implacável, e logo dominou os mares com sua supremacia. Foram tempos negros para os piratas da época, seus frágeis navios não eram páreos para a grandeza do Plus Ultra. Até que um deles decidiu não mais se submeter. Conhecido pela sua crueldade, de aparência tão horrenda quanto o coração negro em seu peito, o Marquês que supervisionava a tripulação — e no fundo guardava muitos anos de rancor contra a coroa e seus integrantes — organizou um motim, abordando cuidadosamente os membros tão cruéis quanto si e reunindo-os para o ataque em uma noite silenciosa."

"Foi um massacre. Dizem que os gritos das vítimas ecoaram pelos Sete Mares em um coro torturante e infindável, que os líderes foram torturados de tal forma que era impossível reconhecer seu corpo mesmo que houvessem sido achados, e que muitos enlouqueceram ao assistir tais atrocidades e imploraram por dias a fio antes que fosse lhes concedido o doce alívio da morte. O Marquês tomou o navio para si, bem como um novo título: Mestre das Facas."

― Vocês tem que parar de acreditar em besteiras infundadas ― uma voz interrompeu, baixa, porém num tom gélido que faria qualquer um arrepiar. ― Essas são histórias para crianças. Plus Ultra era uma navio de carga que foi roubado no meio de uma viagem até a França. Foi tomado por piratas espanhóis e perdido numa partida de pôquer para um velho holandês. E aí, chegou às mãos do nosso capitão.

Sete-EstreloWhere stories live. Discover now