capítulo 8

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Quando observamos o nascer do sol e o declínio da noite podemos perceber um fenômeno chamado de crepúsculo, uma leve claridade que surge entre a luz e a escuridão.

Tal claridade começava a surgir nos olhos de Astrid, o grande buraco negro que havia tomado suas órbitas estava se dissipando, e lentamente ela começava a despertar de seu sono cheio de pesadelos.

Quando suas pálpebras ameaçaram se abrir a luz do dia irritou seus olhos, sua cabeça doía tanto que mal conseguia ter algum pensamento coerente,sua garganta estava extremamente seca e todo o seu corpo doía como se tivessem o pisoteado. A guerreira não entendia muito bem o que havia acontecido, sua mente estava confusa e ela começou a olhar em volta tentando ao menos reconhecer o ambiente em que se encontrava.

Aos poucos as lembranças de quando lutou contra Dmitrei retornam, e junto delas seus sonhos que infelizmente traziam suas lembranças mais sombrias. Aquela voz que lhe acalmava em seus sonhos estava vívida em sua cabeça, a sensação de ter a ouvido enquanto Dmitrei apertava seu pescoço com firmeza parecia bastante real. Sua imaginação e a realidade se confrontaram quando alguém fala seu nome, essa voz... Isso é impossível pensa ela, deveria estar alucinando.

- Astrid...

Seu corpo se retesa, começa a tremer e suar, não suportaria olhar em seus olhos depois de todo o sofrimento que causou. Ela era a responsável por destruir a sua própria família, o seu egoísmo foi pago com a vida de sua mãe e de suas irmãs.

- Erga o rosto minha querida.

- O que você faz aqui?

- Já faz tanto tempo que tudo aconteceu, você não pode continuar agindo desta forma.

As palavras do homem agitaram algo dentro de Astrid, seu coração batia fortemente e seus olhos se encheram de lágrimas quando ela o encarou.

- Como devo agir então?! Devo fingir que nada aconteceu? Seguir em frente e esquecer tudo que eu causei? Va embora, minha decisão não vai mudar!

- O clã foi foi tomado Astrid! A culpa foi minha por ser muito fraco, você foi embora devido a sua dor e acabou esquecendo que eu também estava sofrendo. Somos líderes e é nosso dever por nosso povo em primeiro lugar, não seja egoísta dessa vez!

As últimas palavras que deixaram a boca do homem atormentavam a mente dela, o clã significava tudo para Astrid, foi o lar que cresceu junto de tantas pessoas que amava. Seu povo estava sendo escravizado e torturado, coisas bem piores ocorriam em invasões e esses pensamentos fizeram seu coração apertar.

- Como isso aconteceu?! E como me encontrou aqui?

Em meio a confusão seus olhos fitam os olhos do homem, o clã sempre foi protegido com punhos de ferro e ela não conseguia entender como isso havia acontecido. Em meio a tensão do momento palmas começam a soar no ambiente, envolto nas sombras em um canto da tenda estava Dmitrei que a passos lentos começava a se aproximar.

- Eu realmente não queria interromper esse momento, mas essa foi a minha deixa. Astrid Vanir, herdeira do clã Vanir, imagine só a minha surpresa ao descobrir a verdadeira identidade da minha mais nova prisioneira.

- Eu abandonei minha posição no clã, além do mais não lhe devo nenhuma satisfação.

- Por favor, perdoe a insolência da minha filha Dmitrei. Astrid, antes de ir embora você derrotou todos os homens que a desafiaram pelo clã, sabe que já não pode abandonar sua posição.

- Respondendo à sua pergunta, Ragnar veio me pedir ajuda para retomar seu clã. Nossas famílias são unidas há muitos anos, por isso esquecerei tudo que fez e ajudarei seu pai.

"Esquecerei tudo que fez"... Sem conseguir se controlar uma risada alta deixa os lábios da mulher, não conseguia acreditar nessas palavras.

- Esquecer tudo que eu fiz? Não seja cínico. Eu não preciso da sua ajuda para retomar o meu clã!

- Acredito que os 200 guerreiros que estão com seu pai pensem o contrário, seus oponentes ultrapassam 600 homens facilmente.

Astrid xingava mentalmente, nem mesmo seu orgulho a impedia de enxergar o massacre que um número tão desequilibrado em uma guerra traria. Sim, ela odiava a única pessoa que poderia ajudar seu clã naquele momento, mas como o seu pai disse não poderia ser tão egoísta novamente.

- Ragnar você pode passar a noite aqui com ela, apenas tome cuidado para não ser atacado enquanto dorme. Ao amanhecer partiremos para o meu clã, então se preparem.

- E se eu me recusar?

- Então seu pai irá matá-la, caso ele se recuse matarei os dois. Um chefe jamais abandona seu clã, seu povo.

Os olhos de demitri estavam frios e calculistas, mesmo sendo considerado alguém altamente cruel ele sempre colocou seu povo em primeiro lugar. Um líder se comprometia com sua gente, caso desonre sua palavra não merece viver.

Ao passar da noite Astrid ignorou todas as tentativas de aproximação do seu pai, tudo isso já era demais para suportar. Há cerca de 5 anos deixou tudo para trás e imaginou que jamais retornaria, seus dias era um martírio que ela aprendeu a apreciar. Agora eu estava prestes a retornar para sua antiga vida, uma vida cuja as lembranças a traziam calafrios, o amanhecer traria junto de si seus maiores medos.

Quando sol nasceu a guerreira mal havia pregado os olhos, todos já estavam se preparando para partir e ela fez o mesmo. Uma escrava trouxe a roupa que usava quando chegou ao acampamento, vestidos não eram algo que apreciava e observando o seu pai ela ri perante algumas lembranças.

Astrid sempre chorou quando era obrigada a usar vestidos, preferia roupas mais confortáveis para lutar.
Seu pai a ajudou certa vez a queimar todos os seus vestidos sem que sua mãe soubesse, para todos os efeitos se tratava de um acidente muito trágico.

- Já está na hora de partirmos, você está pronta?

Sua resposta era não, queria gritar que não e correr dali, mas ignorando suas vontades ela apenas concordou e saiu da cabana. Os homens formavam filas lá fora e Dmitrei estava a frente de todos, dois cavalos estavam disponíveis ao seu lado e Astrid montou em um deles.

A incerteza que tomava seu futuro era apavorante e apenas uma forte convicção lhe fazia seguir em frente. Muitos dependiam dela, e sua líder não iria os abandonar desta vez!


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