Capítulo 1

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Tanto  Draco quanto Hermione  anseavam pelo fim da discussão. Aquele era o momento onde o até logo se tornaria adeus, onde o te vejo a manhã já tinha se tornado uma memória que a cada momento parecia mais distante. Aquilo doía nos dois, era nítido. Era impossível olha-los e não ver junto o amor que sentiam um pelo outro, entretanto o amor que ali se fazia presente era acompanhado por frustrações, traumas e cicatrizes. Eles pensaram poder superar, mas todas as tentativas nos últimos 3 anos levavam ao mesmo destino, o fim.
     Já tinham estado ali antes, a beira do precipício. Todas as vezes escolheram acreditar que o amor sempre vencia e de fato venceu, por um tempo. Acontece que nem sempre isso é o suficiente para fazer dar certo. Os dois se amavam, sim, mas as cicatrizes eram muitas e era impossível ignorar as sequelas.

      A guerra havia mudado a tudo e todos, inclusive os dois. 2 anos após todos os ocorridos se reencontraram em uma pequena vila na França. Ambos afastados do resto do mundo bruxo e de todos que conheceram e se surpreenderam ao acharem refúgio um no outro depois de deixarem o passado para trás.
    Draco sofreu com todas as consequências de seus atos e de fato se arrependeu de tudo que fez. Fora obrigado a se afastar do mundo bruxo, era doloroso demais ser constantemente lembrado de todo o mal que causou, assim como saber que ele também trazia memórias dolorosas à muita gente.
    No entanto, a solidão não lhe era estranha, por isso pouco mudou em sua rotina. Decidiu viajar em busca de se redimir com o mundo e consigo mesmo, fazendo caridades aqui e ali, se voluntariando em outros lugares, porém nunca ficava tempo o suficiente para criar raízes. A verdade é que tudo para ele era um grande processo, um grande passo, pois apesar de ter se arrependido, sabia que construir um caráter e se reconhecer levaria tempo. Ele estava disposto a trabalhar para ser uma boa pessoa, uma nova pessoa. Passou por diversos países, culturas, pessoas, foi a primeira vez onde pode pensar o que de fato queria; seu pai, voldemort, nenhum deles estava ali para lhe comandar, ameaçar ou manipular, e pela primeira vez, ele foi capaz de reconhecer que era seu, que era completo, que era capaz. Finalmente sentia-se humano, e aquilo era libertador.
    Foi em agosto de 2000 numa pequena vila no sul da França que ele a viu. Sentada em uma cafeteria, a figura tão familiar de cabelos revoltos lia um livro como se tempo não lhe faltasse. Ele teve certeza de que era ela, ninguém além dela lia com tamanha paixão.

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    Hermione ficara mais abalada do que todos poderiam imaginar. Não soube lidar com tudo; a fama, as dores, as perdas, a gratidão. Era tudo demais. Sabia ser forte, mas estava exausta depois de tantos anos em vigilância constante. Não era segredo que dentro do trio de ouro ela era "o cérebro" e estava cansada disso, de ser forte e centrada o tempo todo, sentia já não se conhecer mais. 
     Assim que as coisas se acalmaram, depois de Hogwarts voltar a funcionar, Harry se estabelecer sem os tios e reencontrar seus pais, despediu-se de todos para procurar a si mesma. Com suas economias e uma pequena mochila, partiu em sua mais nova jornada, mas dessa vez, sozinha. Seria a primeira vez em anos em que aproveitaria sua própria companhia, sem deveres para cumprir, artefatos de magia negra para encontrar. Era estranho, não ter nada para provar, porém simultaneamente libertador.
     Passou por todos os lugares que pôde alcançar, fez pequenos trabalhos para se manter, mas nunca passava tempo demais em um só lugar, só o suficiente para absorver a energia e a cultura local. Acreditava que conhecer coisas diferentes lhe traria uma perspectiva diferente de si mesma, queria ver que podia ser mais do que uma das engrenagens da pequena máquina que o trio de ouro foi por tanto tempo. Não sabia ainda quem ela era, e por isso sabia que podia ser tudo que quisesse ser.
     Quando Agosto de 2000 chegou, foi a primeira vez que se permitiu de passar um pouco mais de tempo em um só lugar. A pequena vila na França aonde escondera seus pais durante a guerra era adorável e remota, sentia-se a parte do resto do mundo e isso só contribuiu para surpresa sua ao ver os tão conhecidos olhos cinzentos.
      A primore ficou com um pé atrás, toda sua raiva lhe subiu. Quanto azar tinha que ter para encontrar Draco Malfoy naquele pedaço de fim de mundo? Não queria encontrar más memórias, más pessoas, especialmente aquela. Fora automática a raiva, a dor, tudo emergiu em questão de segundo. Só quando ela de fato viu seu rosto que percebeu que não se tratava mais do mesmo menino irritante de Hogwarts. O ar, a energia que o cercava... era nítido que não era mais o mesmo. Tudo nele parecia mais leve, iluminado. Quando seus olhos se encontraram, ela viu dor e culpa, arrependimento e toda a superação e isso de certa forma a acalmou, fazendo com que seu olhar passasse de raiva para confusão.
       Ele não se surpreendeu ao ver a raiva se passando por seu rosto, e de certa forma nem a confusão. O que o causou surpresa foi o pequeno aceno que ela lhe enviou. Não era simpático, não chegava a tanto, mas era respeitoso, cordial e isso era muito mais do que ele acreditava merecer. Draco entrou no café de cabeça erguida, passando ao lado dela, mas diferente de sua postura orgulhosa, suas feições denunciavam a vergonha que sentia. Foi ao balcão fazer seu pedido e passou a procurar um lugar para se sentar. Longe dela, de preferência, pois apesar de ser uma nova pessoa, para Hermione ainda era o mesmo sonserino metido e mimado de anos atrás.
       Sentou-se à algumas mesas de distância e eventualmente dava algumas olhadas furtivas, sem saber de que outra forma agir. O garçom reparou nos olhares, mas nada disse, a sorte era que Draco sabia reconhecer julgamentos silenciosos e decidiu arriscar perguntando se sabia algo sobre a moça da mesa 4.

  — Srta. Hermione vem aqui todas as tardes, sempre com um livro diferente. Já é conhecida por todos nós. — foi o que ele respondeu, colocando o café de Draco sobre a mesa e depois indo embora, deixando um loiro curioso para trás.

     Ela parecia tão diferente, tão mais... livre. Algo tinha mudado, isso era certo, e não parecia ser para pior.

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      2 semanas se passaram e Draco passou a ser conhecido por todos também. Todos os dias eles iam ao café, sempre pontualmente às 3 da tarde e aos poucos foram passando a se cumprimentar de maneira menos distante, depois a sentar em mesas mais próximas; Vez ou outra mantinham uma breve e monótona conversa, o ódio que existira entre os dois já não se fazia mais presente. Quando deram-se conta, estavam sentados em uma mesma mesa, aproveitando um bom café e uma surpreendentemente boa companhia.  Aquilo já era inédito, mas o que fora de fato chocante foi quando notaram a leveza com a qual saiam depois de seus "encontros". Hermione ria com Draco, e ele percebeu que amava vê-la rir. Enquanto isso, Hermione aos poucos quebrava a imagem que tinha do então garoto que conheceu. Draco agora tinha olhos mais leves, e ela gostava de olha-lo nos olhos, pois via o quanto ele tinha evoluído desde a era de Hogwarts.
        É difícil apontar quando, mas algo floresceu ali. Entre duas pessoas tão diferentes porém igualmente machucadas pela mesma guerra. Apesar de dores tão diferentes, se comunicavam como se falassem o mesmo idioma de cicatrizes e aquilo fez com que se sentissem compreendidos. Acharam um no outro um reconforto familiar, e no passar das semanas, o amor veio junto.
     Draco a chamou para jantar, esperando que ela colocasse a rejeição em seu colo de maneira sutil, porém foi um sorriso que surgiu nos lábios da garota após a pergunta. Ele fizera questão de usar a palavra encontro repetidamente e encontrava-se visivelmente pasmo dela ter dito sim mesmo após aquela constatação. Ela achava linda a forma como ele ficara surpreso. "Tão bobo", pensou.

     Quando ele sorria seus olhos se iluminavam com o mesmo brilho que seu sorriso, e ele tinha o sorriso mais bonito que já vira na vida. Aceitara o convite sem uma hesitação sequer, pois gostava do novo Draco e queria conhecê-lo cada vez melhor

Leaving you - Dramione (PT/BR)Where stories live. Discover now