Capítulo 1

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A CHEGADA

05 de Março de 2019

Tantas coisas acontecem em nossas vidas, e às vezes, de repente nos vemos perdidos e incrédulos. Perdidos, por sentir as mãos atadas, sem noção do rumo a se tomar. Incrédulos, por olhar à nossa volta e não compreender os dramas da vida. Então surgem perguntas como: "Como isso foi acontecer?", "Quando eu deixei que as coisas caminhassem para isso?", "E agora, qual a decisão?". É tão comum passar por pegadinhas da vida! Mais comum até do que andar para frente, mas nós nunca estamos verdadeiramente preparados para estes baques. Para cada pessoa há um caso diferente que pesa o tamanho do problema. Mas, também é bem possível que as mesmas situações se repitam em pessoas distintas e tenham soluções iguais. Ou diferentes. Ou solução nenhuma.

Nicole estava bastante confusa com os últimos acontecimentos. E pensava neles enquanto o ônibus seguia estrada afora. Logo ela, a Nicole dada como a inabalável. Aquela que todos olhavam com admiração por empenhar-se em tudo o que acreditava e não se deixar desanimar. Quem diria que a delegada de trinta anos de idade, tão nova na profissão para algumas pessoas, teria preocupações como diria seu pai: "de gente grande". Herdou dele o amor à profissão e como sua mãe, professora apaixonada, Nicole também tinha o fulgor na alma pelo que fazia. Dos pais lhe restavam memórias, as quais ela evitava reviver, por ser aquela uma dor ainda recente. Ambos já estavam falecidos acerca de dois anos e ela morava sozinha no centro de São Paulo há algum tempo.

Tudo caminhava de modo lento em sua vida, desde que se viu sozinha no mundo, depositando toda a sua energia no trabalho e em seu recente noivado. As coisas seguiam de uma forma saudável, até que mais uma vez, a vida se mostrou um grande cenário de lutas. O mundo lhe caía sobre a cabeça, sem pausa para um café. Há semanas, seu ambiente de trabalho havia dado uma reviravolta e no meio da turbulência que enfrentava, Nicole recebeu uma carta de sua parenta distante. Sua tia, por parte paterna, de Minas Gerais. Desde o velório de Rodolfo, que ela não recebia muitas notícias de parentes e nem mesmo via, essa irmã do falecido.

Na carta ela avisava que estava a caminho de visitar a sobrinha. E assim foi. Abraços e beijinhos ao se reencontrarem e todos aqueles rituais de "colocar as fofocas em dia". Porém, dona Laura não viera apenas a passeio, a senhora tinha uma missão que lhe tirava o sono desde a partida do irmão e da cunhada. Apesar de julgar impertinente que se envolvesse naquela revelação, quem mais diria a verdade À mulher, se não ela? Conversas iam, conversas vinham e Nicole descobriu que era adotada, ou seja, dona Laura também não era a sua tia. E notícia ou vestígio algum existia, sobre a sua origem biológica.

— Como assim, adotada? — perguntou surpresa a mulher paulistana.

— Desculpe querida, eu deveria tê-la dito isso antes. Afinal, faz dois anos que eles faleceram. — Sua tia desculpava-se com aparente arrependimento. — Mas, eu não sabia como surgir depois de algum tempo sem lhe ver e contar algo assim.

— Mas, por que eles nunca disseram nada, titia?

— Seus pais não te viam como uma filha adotada. Para eles, você sempre foi filha e ponto! Sem qualquer tipo de rótulos. Mas, eu compreendo que é importante que você saiba disso.

— Céus... Não bastando, as últimas confusões!

O semblante cansado de Nicole, beirando a tristeza foi notado por Laura desde que pusera os olhos na sobrinha do coração.

— O que está acontecendo, querida?

— Eu fui vítima de uma armação corrupta no trabalho e estou respondendo a um inquérito judicial! Minha carreira está praticamente acabada! Minha casa também não é minha, titia. Desde que a loquei eu pago os impostos e aluguel, e isso começou um tempo depois de papai falecer. E agora estou tendo problemas com isso também.

No Coração da FazendaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant