Prólogo[2]

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Quando a juventude dos filhos brotou, o casal começava a planejar uma velhice mais solta. Até que o seu marido adoeceu, e com isso, tristes e longos anos de tratamento fizeram com que a família deixasse alguns sonhos aos poucos. Bernardo assumia a responsabilidade no lugar do seu pai na fazenda, enquanto tentava se equilibrar entre a revolta de perdê-lo e a necessidade de ser adulto. Rosa assumia o papel de filha mais velha que precisava cuidar da mãe e a apoiar, enquanto se entristecia por perder o pai antes mesmo que se casasse. Uma alegria, que julgava não poder dar a ele, uma vez que fez de sua juventude uma busca incansável pela carreira dos estudos.

Já em São Paulo, as coisas também não eram tão simples. Por mais desejo que tivesse de visitar a irmã, Rodolfo apenas conseguiu fazê-lo, uma única vez e sozinho: ao falecer do seu cunhado. Teresa havia ficado com Nicole na cidade grande, esforçando-se em dar aulas e cuidar da filha adolescente, que se rebelava como jamais acharam que faria. E nesta ocasião, Cora foi visitar a sua cunhada e sobrinha, quando o irmão a convidou para rapidamente espairecer. O irmão percebeu que lá na fazenda, Rosa e Bernardo precisavam de um momento de luto onde a preocupação não fosse o tempo todo, amparar à própria mãe. Depois deste triste reencontro, ele não mais a viu.

Rodolfo era delegado, sempre muito ocupado e apaixonado pela sua profissão. Precisava ser firme com a filha, que saía de sua adolescência rebelde e entrava à juventude de maneira mais calma. E quanto à Teresa, seguia suas funções de mãe, esposa, e professora. E como bem dizia: "professores não têm expediente, pois são professores do acordar ao dormir". Ela dedicava horas afinco ao trabalho e o amava. Mais do que uma carreira, a professoralidade de Teresa, era uma personalidade própria. Quase um talento natural e indissociável às suas atitudes. Adorava estar dentro das salas de aula, e vez ou outra, recebia a visita de alguns antigos alunos em casa. Aquilo lhe trazia fulgor de viver! E foi justamente, o amor à profissão, que a sustentou forte para lutar pela vida. O câncer já se instalava em seu organismo há alguns anos, mas escondeu-o até quando pôde.

Quando o tratamento agressivo foi necessário, Nicole e Rodolfo encararam aquela realidade com todo o peso do susto e desejo de salvá-la. Teresa obteve melhora, mas infelizmente no meio daquele processo, o marido não percebia à própria saúde. E uma doença do coração foi o que o levou de sua família. Nicole, embora odiasse a ideia, preparou-se tanto para as más notícias vindas sobre a saúde da professora, que não conseguira lidar com a perda repentina do pai. Mas, era forte. Tornou-se uma mulher guerreira e mal sabia daquilo.

Sua tia Laura, reapareceu em sua vida àquela época, no velório do irmão. A filha segurou-se em sua própria dor, ainda tinha que cuidar da mãe. Para Teresa, a morte tão prematura do seu amado esposo como foi para Nicole, fizera Tetê esmorecer. Alguns meses depois, a doença voltou e mesmo com todos os esforços da filha, ela não resistiu. Deixou Nicole com o fantasma que ela não conhecia, da adoção, com as memórias felizes dos pais, e com as recentes dívidas. O tratamento de Tetê ainda estava sendo pago por Rodolfo quando esse falecera. E com isso, Nicole precisou vender a casa deles. Tia Laura se fez presente, aos poucos, pelas redes sociais e em seguida pelo telefone. E só soube da morte de Teresa, quando Nicole estava atribulada demais na tragédia que sua vida se transformara. Foi ali que seus caminhos de novo se cruzaram.


>> Continua... 

No Coração da FazendaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon