Prólogo

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O horizonte montanhoso que apontava o pôr do Sol configurava uma bela pintura de um cenário campestre. Os pequenos animais que ciscam, como galinhas, patos e até mesmo alguns gansos soltos, rodeavam o casarão em obra.

Ali, ante o horizonte de natureza emocionante em contraste à construção que ocorria, quatro pessoas e algumas crianças se faziam presentes. A menina de maria-chiquinha vestida em um short jeans velho, sujo de barro, com botinas infantis e uma camisa florida já surrada de tanto brincar, observava à conversa dos adultos, enquanto brincava com as outras duas crianças aos pés deles. Bernardo, seu irmão caçula, tinha apenas quatro anos de idade, mas já apresentava um olhar de profundas irises azuis brilhantes. Ele não parava de observar o bebê que sua irmã mais velha, Rosa, com sete anos de idade, brincava e tratava como se fosse uma boneca. A menina de dois aninhos apenas esticava seu rosto em sorrisos largos, alegres e era graciosa, desde os gestos às pontas de seus cabelos.

O menininho aos poucos se aproximou da irmã e da priminha e abaixou-se segurando os próprios joelhos. Encarou o bebê, como quem busca desvendar algum segredo. Havia algo de fascinante naquela coisinha de poucos dentes que mal falava, e o menino não sabia explicar. Os irmãos, Rosa e Bernardo, frequentavam a catequese e a escola, o que lhes permitia conhecer a infância de outras crianças, e ainda tinha Lúcia, a garotinha da fazenda vizinha. Ou seja, Bernardo tinha contato com outras crianças sim, mas raramente, ao ser levado à cidade. Com apenas quatro anos, o mundo de Bernardo se resumia à vastidão que a própria fazenda lhe representava. E assim como alguém que acaba de descobrir algo novo e desconhecido para si, ele analisava a pequena Nicole.

O bebê sorriu e esganiçou um grito satisfatório ao ver aquele garotinho a encarando, e logo levou as pequenas mãozinhas ao rosto do menino.

— Olha, Bê! Eu acho que ela gostou de você!

Rosa falou animada ao irmãozinho, que confuso não sabia reagir, e ela lhe indicou:

Abraça ela, Bê! Ela não é a priminha mais linda do mundo?

O garotinho estava louco para abraçar o bebê. E quando a irmã lhe disse aquilo, ele rapidamente abraçou Nicole, apertado, levantando a menina do chão, como se fosse um dos seus bichinhos da fazenda. Com certa dificuldade, afinal, ele não era tão forte quanto imaginava. Os adultos sorriam com a cena e Nicole, não parou de soltar guinchos de gargalhada infantil.

Rodolfo e Teresa Andrade, pais de Nicole, felicitavam-se ao notar que as crianças pareciam se entender. Assim como, Laura e Fabiano Aguiar, pais de Bernardo e Rosa.

— Vocês estão fazendo uma boa obra, Laurinha! — disse Rodolfo à sua irmã.

— Fabiano tem amor pela fazenda até mais do que eu, Dodô. E bem, este é o único patrimônio que temos para as crianças, precisamos cuidar!

— Claro! E vocês realmente merecem! Se não fosse a nossa vida em São Paulo, eu voltava para Mato Alto.

— Assim você faz eu me sentir culpada, Rodolfo! — Sua esposa brincou, fazendo cunhados e marido rirem.

— Não, Tetê! Você não é culpada de nada! Você é um presente da vida para mim, e graças a São Paulo, nós ganhamos a nossa pequena Nicole, após tanto tempo de espera.

A mulher assentiu abraçando ao marido. Fabiano, cunhado de Rodolfo, pai dos primos mais velhos de Nicole, e que não era muito de conversar, naquele momento surpreendeu a todos com sua fala chamando atenção às crianças.

— Nicole é encantadora, um verdadeiro presente na vida de vocês. E há de ser uma moçona bonita. E o Bernardo já percebeu isso.

Todos tornaram a olhar as crianças. Rosa tentava fazer o irmão soltar a prima, mas Bernardo pirraçava com ela, e não largava Nicole. Entre um berro e outro com a irmã mais velha, ele fazia carinhos no rosto do bebê e estalava um beijinho protetor em sua testa.

— Solta ela Bê! — Rosa insistiu, até desistir e olhar para os pais dizendo: — Eu acho que ele gostou muito dela! Bernardo é muito grudento!


>> continua...

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