Capítulo I - Sussurros

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Reino de Naboo

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Rey mantinha os seus olhos no pequeno vão que servia como janela, na mais alta torre do norte, tentando encontrar alguma beleza na neve que cobria todo o solo da região.

A pior nevasca em toda história daquelas terras, ouviu um dos guardas dizerem.

Estava com muita fome, mas ainda faltavam algumas horas para a próxima refeição. O mingau azedo e amarelado não era saboroso, porém era melhor do que uma forte dor no estômago. Na noite passada, por ordem do Rei, fora bem agasalhada com peles pesadas, e se caso não tivesse estaria além de sua capacidade sentir qualquer coisa, senão a dor que o frio causaria. Apesar disso, o que mais incomodava Rey era o silêncio.

Ouvira certa vez que o silêncio poderia ser perturbador, mas nunca havia acreditado em tal coisa. Durante toda sua vida, pensou conhecer o silêncio mas conhecia apenas a tranquilidade. A tranquilidade em cavalgar pelos campos abertos de Alderaan sentindo o vento em seus cabelos ou de quando flutuava com os olhos fechados nas águas cristalinas de um lago. O verdadeiro silêncio era perturbador por contar a verdade.

Utilizando uma pedra pontiaguda, escreveu versos de poemas ao lado de sua cama improvisada, com mais força que o necessário em seus punhos e lágrimas em seus olhos. Ela o fez sem se dar conta de que aquelas linhas seriam instrumento de meditação e curiosidade para os prisioneiros que estariam naquela cela, nos séculos seguintes, em seu lugar. Nenhum deles descobriu ou chegou perto de imaginar a quem pertencia aquela caligrafia e da raiva que tinha em seus dedos finos ao admitir parte daqueles sentimentos.

Às vezes, durante o frio intenso das madrugadas, os guardas permaneciam em silêncio para ouvirem o seu timbre angelical. Cantarolava recordando os momentos em que havia sentido genuína alegria. Nenhum gerava ao menos uma sombra de sorriso em seus lábios rosados, não conseguia encontrar alegria no que a levou até ali, mas tinha beleza, muita beleza. Se lembrava dele mais vezes do que conseguia contar.

Também se lembrava da infância, lembranças felizes das raras ocasiões que tivera todos que amava na mesa de jantar, os sons de risadas e talheres. Seus amigos alegres com os rostos iluminados pelo privilégio de estarem unidos. Será que os veria novamente no paraíso? Como um sinal dos céus, no momento que fez essa pergunta para si, alguém bateu fortemente na porta.

Rey se virou e aguardou, imaginando que seria um dos guardas. Finn abre a porta, surpreendendo-a, seus olhos estavam completamente inchados, pela privação de sono e o constante choro. Eles se aproximam e Finn fecha os olhos, permitindo que sua face fosse tocada pela amiga, que sentia as lágrimas descerem em abundância.

"Não queria que estivesse nessa situação, vê-la dessa forma parte o meu coração, Rey." falou com a voz embargada pelo crescente choro preso em sua garganta "Deveria ter escapado, é forte, a maior guerreira que já conheci."

"Não há mais pelo o que lutar."

Finn assentiu com pesar, sentindo o chão desmoronar sob os seus pés e a realidade cravar as garras fortemente em seu coração. Secou as suas lágrimas, observando a única mulher que verdadeiramente amou, sua quase irmã, manter-se tão forte diante de seu trágico destino.

"Sentirei a sua falta, Rey."

"Também sentirei a sua." respirou fundo e forçou um pequeno sorriso.

Finn apalpou os seus largos bolsos e estendeu para a amiga penas e tinta "Não vim somente para vê-la, trouxe comigo alguns presentes, espero que faça bom uso deles" Um dos guardas se aproximou e com relutância, depositou na pequena mesa de madeira uma vela, outro ocupou-se em chutar os ratos que dormiam ali debaixo "Tem o que precisa para escrever o livro que sempre quis."

Duelo de SangueWhere stories live. Discover now