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A vida não é um clichê de um livro,
onde as pessoas erram sequencialmente e se perdoam na mesma intensidade de seus erros,
somente para ficarem juntas.
A vida real tem altos e baixos,
e certamente alguns baixos não merecem uma segunda chance.
Uma pena eu ter descoberto isso tarde demais.

Outubro de 1997

Uma fina camada de neve cobria o caminho pelo qual eu e as meninas percorríamos até a lanchonete Stecher's. Outubro mal havia começado e os ventos gelados de Varsóvia alastravam-se por todos os cantos deixando registros de que se iniciaria um inverno rigoroso.

Eu gosto do frio, e solitário, escuro, e tem uma força avassaladora. Nos sentamos no mesmo lugar que de costume, numa grande mesa no canto, bem debaixo do aquecedor.

Eu, mais seis garotas conseguíamos nos acomodar
bem. Fazíamos isso todos os domingos durante as férias, logo após o treino da nossa equipe atlética feminina. Fazia algum tempo que as líderes de torcida tinham ganhado uma maior visibilidade no colégio, e, por isso, comemorávamos sempre que podíamos.

No dia seguinte, o colégio Kross para jovens garota excepcionais abriria suas portas para os novos e antigos professores, e para as novas alunas, que ingressariam em um novo ano letivo repleto de terror e dias mais longos que o normal, noites mais curtas, e provas tão difíceis que deveria ser crime.

É claro que a maioria das garotas, de excepcional não tem nada, — contanto que seus pais arcassem com os custos de um renomado colégio interno, nada mais importava. Não havia uma garota sequer que não estivesse ansiosa pelo que estava por vir, ainda mais aquelas que estavam em seu último ano de ensino, assim como eu.

Mas eu não estava ansiosa, longe disso. Estava era farta de ter outro longo ano pela frente ao lado de pessoas tão insuportáveis quanto aquelas que me cercavam nesse exato momento.

Um bando de tolas, para ser mais especifica. Rondei o ambiente com os olhos, intitulando as pessoas no meu pensamento exatamente da forma como eu as via.

Sonsa demais, burra demais, puta demais, aff, puxa saco demais! Todas tinham seu rótulo, mas a jovem de cabelos ruivos com uma franja escrota na testa, pele mais clara que espuma de barbear e olhos azuis, sentada ao meu lado era a Lissa.

Ela tinha dezessete anos, temperamento frágil igual a das personagens de novelas dramáticas, usava roupas tão fora de moda que mais pareciam da era vitoriana.

Ao lado dela, estava Ewa, ou como gosto de chamar, a sirigaita de quinta categoria, — ela nem deveria estar aqui conosco. Além de ser burra feito uma porta, Ewa Swerenkova não tinha nada de especial. Ela nem era atleta! Só estava no time de líderes de torcida, porque alguém superior permitiu, e eu não estou falando de mim.

Na ponta esquerda, Aninka se mantinha entretida em um livro de capa vermelha. Passei os olhos por ela, ignorando-a em meus pensamentos. Ela era inteligente e bonita, mas meio sonsa. Uma garota comum. Talvez a mais normal desse hospício, digo, colégio interno.

Bocejei ao fixar meus olhos na Tiffany, sentada na outra ponta, ela parece bastante animada, enquanto conversa com uma loura de cabelos cacheados que eu não faço a mínima questão de saber o nome.

Ambas pertenciam ao nosso time.

E bem ao meu lado, está a maior vadia de todas. A abelha rainha, a dona do bordel. Loren Dudek pediu salada, torta vegetariana e refrigerante para todas, sem antes perguntar o que cada uma queria.

Boas Garotas MalvadasOnde histórias criam vida. Descubra agora