1 - O que está fazendo aqui?

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Flahsback On 

Olhava impaciente os diversos CD's que tinham naquela loja. Não encontrava o que queria. O Old Generation era meu lugar preferido. Uma mistura de fliperama, com uma área de vendas de CDs e vinis antigos, um bar que também servia um maravilhoso capuccino, além de alguns puffs e cadeiras espalhados pelo local. Era um lugar mais alternativo, tinha uma jukebox que Bill, o dono do lugar, se orgulhava em dizer que conseguiu por uma pechincha em um brechó perto da casa de seu irmão.

O lugar era mágico, mas não era tão lotado. Afinal, lugares como aquele não tinham o reconhecimento merecido. As pessoas hoje em dia não entendiam a magnificência que era um momento que esse local poderia trazer.

-Droga. -Disse alto jogando as mãos no ar e infelizmente, batendo em alguém que estava atrás de mim.

-Ei, ei, vai com calma docinho.

Ao me virar de costas, dei de cara com o dono da voz que falou comigo. Aquele cara era um pedaço de mal caminho, pai amado. Alguém me segura porque eu não estou bem. Ele não era tão alto, mas com certeza era alguns centímetros maior que eu, tinha um corpo definido apesar de magro. Um cabelo bem peculiar que incrivelmente combinava com ele, negros com mechas vermelhas, e dono de olhos castanhos, que juro, me lembravam aos de um felino.

-A visão está boa aí? -Ele falou com um sorriso pretensioso e só agora percebi que devia estar babando, logo me recompus e tratei de responder.

-A visão não faz muita diferença nesse momento... De qualquer jeito, me desculpe por ter batido em você. -Digo sorrindo irônico.

-Tá tranquilo docinho e porque você está se descabelando assim? -Ele perguntou cruzando os braços e se apoiando na bancada atrás de si.

-Primeiro de tudo não me chama de docinho, não somos íntimos nem nada. E bom, estou procurando um CD mas não consigo encontrar. -Disse me virando de frente voltando a mexer nas coleções.

-Ta bom docinho, então deixa que eu te ajudo. Qual é o CD? -Revirei os olhos com o apelido, pelo visto ele não iria parar com aquilo.

-Tea for the Tillerman -Respondi mordendo os lábios, com certeza ele não conhece, nunca conheci alguém da minha idade que escutasse o mesmo tipo de música que eu.

-Do Cat Stevens? Caraca eu amo esse álbum, tenho um em casa inclusive.

-Mentira! É tão difícil encontrar alguém que conhece ele hoje em dia.

Tenho certeza que meus olhos brilhavam, encontrei alguém que aparentemente é da minha idade e que conhece um dos meus cantores preferidos. Ele soltou uma risada alta deixando à mostra suas covinhas. Puta que pariu. Levei um tiro.

-Vem, eu sei onde tem o álbum.

Ele disse pegando minha mão e me puxando para o outro corredor. Me deixei ser guiado pelo lindo desconhecido sem saber muito bem o porquê. Mas deixei, o calor da sua mão era confortável e eu poderia segurá-la todo o dia, mas, como nada dura para sempre ele soltou minha mão e começou a dedilhar os dedos pelos diversos CD's que tinham ali. Parou o indicador em um e sorriu largamente puxando e me entregando.

-Aqui está docinho. Então, agora que já encontrou o que procurava, você não precisa mais ficar tão nervoso e poderia aceitar meu convite para tomar algo na lanchonete do Bill. O que acha? -Me perguntou arqueando as sobrancelhas.

O apelido recente deslizava por seus lábios vermelhos e por algum motivo me soava prazeroso de escutar, apesar de ele não usar o honorífico o que é algo bem esquisito. Fiquei meio receoso em aceitar o convite. Sou muito descontraído e por conversar com todo mundo, até com o pombo que tem na rua diga-se de passagem, as pessoas confundem minhas intenções. Não quero que ele leve minha educação para outro lado. Ele é um gato? Sim. Mas isso não quer dizer que quero dar uns pegas nele. Bom, talvez sim, mas não quer dizer que vou fazer isso.

Promise | woosan (HIATUS)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora