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Não existe coisa melhor do que você chegar em sua casa (depois de ter tido um encontro com a chuva sem planejamento) e ser abraçada pelo cheirinho de bolo de cenoura, feito pela Dona Carmen, vulgo minha mãe que idolatro até dizer basta. Fecho meus olhos, deixando um suspiro escapar, já imaginando a cobertura de chocolate por cima do bolo alaranjado.
— ISSO É CHEIRO DE BOLO DE CENOURA?
Essa é a forma que achei para avisar que cheguei, e logo ouço a risada da Dona Carmen.
— O que eu te falei sobre levar o guarda-chuva? — o ser de um metro e cinquenta aparece na sala, com um guardanapo no ombro e me olhando com graça, claramente por me ver molhada pingando em seu tapete limpinho. — Valentina! Vai já para o banheiro, garota! Quer pegar um resfriado?
Ela nem se quer me deixou falar e me empurrou diretamente para o banheiro, não queria saber de conversa enquanto eu estivesse com minhas roupas molhadas.
Apareço minutos depois totalmente seca abraçando minha Smurfette preferida, que no momento está fazendo aquela cobertura de chocolate no bolo de cenoura, depósito um beijo no topo de sua cabeça. Notei que ela havia limpado o molhadeiro que eu fiz da sala até o banheiro, sendo que eu podia limpar depois que saísse do banho.
— Como foi na Guimarães hoje?
Me afasto dela para poder se sentar na cadeira e contar como foi o meu dia na escola de música integral. Sempre fazemos isso quando chego da escola. Nos sentamos e conversamos sobre o nosso dia até o senhor Helder chegar e se juntar a gente para jantar.
— Foi bom, ainda não causamos nenhuma confusão, acho que talvez os meninos tenham aquietado o facho... Mas tio Sonnick passou um trabalho complicado, sobre ritmo. Acredita que ele passou todas as definições da palavra ritmo e ainda quer que a gente descubra outras definições de ritmo?
Falo tudo isso fitando o bolo de cenoura que provavelmente havia saído recentemente do forno e, claro, estaria quente e talvez eu não possa me antecipar uma fatia. Ela solta uma risada o que atrai meu olhar de volta ao seu rosto que já existiam marcas de expressões.
— Você acha mesmo que aqueles seus amigos resolveram ser anjinhos das férias para cá? – sua cabeça se movimenta de um lado para outro, discordando total do que eu falei. — Dúvido muito. Segundo a direção, vocês são os mais "evoluídos" de todo colégio, sempre dando uma energia aquelas paredes.
Em outras palavras ela queria dizer que damos muita dor de cabeça para a direção, confesso que a gente criou muito problema ano passado, até esse ano começamos os enfrentando, eles queriam separar a gente, só que entramos em um acordo de nos comportar para não sermos separados.
— Só estamos crescendo lutando pelo nosso lugar no mundo. – Essa é minha frase de defesa. — Liberdade, igualdade e fraternidade, não é mesmo?
