capítulo cinco: cicatrizes e abraços

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Shiro cuidando do Keith depois do episódio “A Lâmina de Marmora”? sim, é exatamente isso que eu estou dando a vocês.
(o título é horrível, me desculpem, eu estava sem criatividade para isso. talvez um dia eu mude.)

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— Shhh, fique quieto. — Shiro fala baixinho, concentrado em limpar corretamente a ferida no ombro de Keith, que continua se contorcendo e sibilando de dor cada vez que a gaze nas mãos de Shiro toca o machucado. Ele molha a gaze com mais do que é o equivalente alteano para álcool, e Keith choraminga quando sente o ardor. — Isso seria bem mais rápido se você fosse para uma das cápsulas de cura.

   Keith suspira, encarando o chão. Por mais que tivesse mantido uma postura rígida e inabalável o tempo todo desde que saíram da base da Espada de Marmora, Shiro sabia bem o quanto seu irmão estava se sentindo esgotado, não só fisicamente.

   Quando eles revelaram para todos que Keith era parte galra, as reações não foram boas. Allura encarou Keith com ódio e saiu da sala sem dizer uma única palavra, enquanto Coran parecia assustado e um pouco magoado. Pidge o olhou atentamente, como se Keith fosse alguma criatura exótica em cativeiro (o que ela provavelmente pensava dele agora). Hunk apenas ficou parado, o encarando com a boca aberta, enquanto Lance evitou olhar no rosto de Keith e, com uma voz tremida, tentou fazer uma piada sobre o temperamento ruim de Keith ser justificado pela genética.

   Keith permaneceu inexpressivo o tempo todo, mas assim que estava longe do olhar dos outros, ele desmoronou. Shiro o acompanhou até seu quarto, fingindo não ver a maneira como Keith estava se segurando para não chorar. Ele próprio havia ficado chocado ao descobrir que Keith era galra e, mesmo que quisesse mais que tudo, não conseguia pensar em nada bom o suficiente para dizer. Ele conhecia Keith por tempo suficiente para saber que algumas poucas palavras mal medidas poderiam afastá-lo para sempre.

— Não. — Keith não disse mais nada, mas o tom fraco de sua voz foi suficiente para que Shiro entendesse o que ele estava pensando. Keith viu como Coran parecia abalado sobre sua herança galra, e não queria ter que incomodá-lo.

   Shiro mordeu o interior da bochecha, tentando encontrar alguma maneira de fazer seu irmão se sentir melhor sem pressioná-lo muito. Uma vez que a ferida em seu ombro já estava limpa, Shiro aplicou uma pomada estranha que, segundo ao tutorial de Coran que veio junto a caixa de primeiros socorros, ajudaria na cicatrização.

— Shiro?

— Hm?

— Você… Está com medo de mim? — Shiro não deixa escapar a maneira como os ombros de Keith estão tensos e a pressão que suas mãos estão aplicando nos lençóis. Keith permanece com a cabeça abaixada, mas Shiro sabe que ele está lutando para não chorar agora. — Ou raiva, agora que sabe que eu sou um deles? — Ele sente seu  coração se contorcer, e ele apenas deseja abraçar Keith até expulsar toda a dor.

É claro que não, Keith. Eu não… — Shiro suspira, frustrado. Ele sempre foi um desastre em tentar consolar as pessoas, e tudo apenas piorava quando se tratava de Keith, que era ao mesmo tempo a pessoa mais forte e mais sensível que ele já conheceu.

    Eu queria que Adam estivesse aqui. Com a mesma rapidez que o pensamento veio, Shiro o afasta. Ele está no espaço, a bilhões de anos luz da Terra, e Adam pensa que ele está morto — o que realmente pode acontecer em breve, já que ele está no meio de uma guerra contra alienigenas. Pensar em Adam agora apenas o deixaria mais triste, e ele precisa ser forte, por Keith.

— Keith. — Shiro recomeça a falar, com a voz firme. — Eu nunca vou ficar com medo de você. Eu confio em você, sempre confiei, e seu sangue não vai mudar isso. — Ele estende a mão protética até o rosto de Keith, afastando o cabelo grande de seus olhos. — Você nasceu assim. Você sempre foi parte galra, mas isso não te impediu de ser uma das pessoas mais incríveis que eu conheço. Eu te amo e, não importa o que aconteça, você sempre será o meu irmãozinho. — Keith sorri, e o peito de Shiro se contorce de novo, dessa vez, com carinho ao invés de dor. — Eu nunca vou desistir de você. — Ele encara Keith com determinação, um olhar sério que ele espera que transmita toda a verdade por trás dessa promessa tão antiga.

   O sorriso de Keith treme, como se ele estivesse inseguro. Ele respira fundo, fecha os olhos e, de uma maneira bem atrapalhada, abraça Shiro. O movimento é estranho, já que essa é a primeira vez que eles se abraçam de verdade desde antes da missão Kerberos. O ombro machucado de Keith também atrapalha bastante, estando prensado levemente contra o peito de Shiro, o braço deixado imóvel entre os dois corpos. Isso tudo e, é claro, o fato de Shiro ter sido pego de surpresa e ainda estar congelado com as mãos no ar e os olhos arregalados.

Eu te amo. — Keith murmura, apertando Shiro da melhor maneira que pode. Saindo de seu transe, Shiro devolve carinhosamente o abraço, suspirando feliz pelo contato. — Eu nunca vou desistir de você também, sabia?

   Shiro ri, porque sim, ele sabe que Keith é incrivelmente cabeça dura e, se fosse preciso mais uma vez, não hesitaria em largar tudo e ir procurar por Shiro no espaço.

— Eu sei.

   Nada mais é dito entre eles. Ao invés do silêncio desconfortável inicial, agora parece acolhedor e familiar apenas ficar ali, ouvindo a respiração um do outro. Shiro afasta o abraço apenas para enfaixar o ombro de Keith, e depois o puxa novamente, deixando que Keith deitar sua cabeça no ombro dele.

   Ele não diz nada, porque não quer quebrar o momento, mas estar assim com Keith o lembra de quando eles passavam as noites acordados juntos em seu apartamento, com Shiro acalmando Keith depois de um pesadelo. As vezes eles ficavam tempo demais e acabavam dormindo assim, acordando com um Adam muito irritado jogando cobertores neles e resmungando que não queria ter que cuidar de dois idiotas resfriados.

   Dessa vez, Shiro não se repreende por pensar em Adam ou na vida que eles tinham antes. É doloroso, sim, mas nos dias mais ruins, é a esperança de voltar a ter tudo isso que mantém Shiro seguindo em frente, lutando em uma guerra pela qual ele nunca se ofereceu, arriscando não só sua vida, mas a de seu irmão e seus amigos diariamente.

    Shiro boceja, encostando suas costas na parede e movendo Keith com cuidado, para que ele ainda possa usa-lo como travesseiro.

— Você deveria descansar. — Ele murmura, sentindo a maneira preguiçosa como Keith enrola as pernas sobre a cama, cada piscar de olhos mais lento que o anterior. Keith balança a cabeça, resmungando “ungh buhn” que deve ter significado “sim, esse era meu plano desde o início” ou algo do tipo.

Shiro se deixa fechar os olhos também, se concentrando na respiração de Keith e escorregando para o mundo nebuloso do sono.

Quando Keith murmura alguma coisa, Shiro não tem certeza se é real ou apenas um murmúrio delirante de um sonho. A voz de Keith estava abafada e Shiro estava com sono demais para poder entender as palavras “Nós vamos voltar para casa”.

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