capítulo um: lar é um sentimento

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    Keith dá cada passo com cuidado, evitando qualquer barulho que possa denunciar sua presença. Ao seu lado, Shiro caminha com a mesma determinação, a luz fraca do corredor iluminando sua expressão concentrada. Eles atingem a porta e a mão de Shiro toca a maçaneta. O homem mais velho respira fundo, trocando um olhar pra Keith que perguntava “você está pronto?”. Keith balança a cabeça em confirmação, se preparando enquanto Shiro abria a porta com lentidão e o mínimo barulho possível.

    Keith esticou o pescoço, observando o espaço dentro da sala, e levantou um polegar para Shiro depois de confirmar que estava vazio. Shiro suspirou, finalmente soltando a respiração que estava prendendo e sorrindo docemente para Keith, quando uma voz baixa e dura soou atrás deles, fazendo ambos congelarem em suas posições.

O que vocês dois acham que estão fazendo?

   Keith abaixou os ombros, já aceitando seu final cruel, enquanto Shiro murmurava um “merda” baixinho antes de se virar.

— Adam! Babe, que bom te ver. Eu e Keith estávamos nos perguntando onde–

— Não me venha com desculpas, Takashi. — Adam falou irritado, os encarando com repreensão. — Por que vocês continuam parados aí? Entrem logo! — Uma das mãos de Adam se fechou sobre o ombro de Keith, o empurrando para dentro, enquanto Shiro tinha o mesmo destino. — Vocês sabem que horas são?

— São–

Eu sei que horas são, Takashi, não me interrompa! Eu não acredito que você levou Keith para andar de hoverbike quando eu disse claramente que ele não podia sair enquanto não terminasse o dever de casa! — Shiro abriu a boca para responder, mas Adam o lançou um olhar mortal. — E ainda por cima, vocês dois ficaram lá até essa hora! Takashi, os riscos de andar naquelas coisas velhas são bem conhecidos por você, ainda mais a noite! E se você tivesse se machucado? E se Keith tivesse se machucado?

    Com a menção de seu nome, Keith se encolheu ainda mais, olhando culpado para Shiro – que também estava encolhido ao seu lado, olhando para o chão com sua expressão de cachorrinho abandonado.

Adam…

— Ah, Keith, é claro! Você me desobedeceu, mocinho! E não me venha dizer que já fez o dever de casa porque eu sou seu professor e sei muito bem que você não fez! Oh, meu Deus, o que eu vou fazer com vocês dois? — Adam ajeita os óculos no rosto e cruza os braços, olhando severamente para os dois.

    Depois de longos segundos de tortura sob o “olhar de pai decepcionado”™, Adam suspira, revirando os olhos e colocando as mãos no rosto de Shiro, o levando a olhar para cima e dando um beijo suave em sua bochecha, fazendo com que sua expressão culpada e triste sumisse.

    Um sorriso tímido aparece no rosto de Shiro. Ele se inclina e beija o pulso de Adam. Keith observa os dois com admiração, em parte querendo sair para os dar privacidade, em outra querendo ficar e admirar um pouco mais como os dois parecem feitos um para o outro. Adam passa um braço pela cintura de Shiro e o puxa para um beijo de verdade. Keith se diverte fazendo um falso barulho de nojo, mas não tira o sorriso do rosto.

— Tudo bem, tudo bem. — Adam empurra Shiro levemente, que forma um beicinho em protesto. Adam ignora o gesto com sucesso. — Sua sorte, Takashi, é que eu sei o quão convincente essa criança pode ser.

Ei! — Keith resmunga, se sentindo traído.

— A culpa é toda desse pequeno ser das trevas. — Shiro fala com um sorriso travesso, não se afetando pelos protestos indignados de Keith.

— E quanto a você, Keith — Adam olha para ele, estendendo uma mão e bagunçando seu cabelo —, tem sorte de ser tão fofo. Eu simplesmente não consigo ficar com raiva de você.

Eu não sou fofo! — Keith protesta batendo o pé, e pela expressão constipada de Shiro, ele sabe que não foi convincente. Adam troca um olhar maldoso com o noivo e, antes que Keith possa começar a correr, os dois o pegam em um abraço, beijando suas bochechas e ignorando enquanto ele choraminga sobre como aquilo é nojento.

    Depois de uma longa sessão de abraços, Keith finalmente está livre para se mexer novamente. Keith suspira emburrado, limpando as bochechas molhadas sob o olhar carinhoso e divertido de Shiro e Adam. Mesmo que nunca vá admitir, ele os ama, e internamente agradece todos os dias por fazer parte dessa família estranha e incrível, que consiste em dois homens gays desastrados e uma criança que consegue ser ainda mais gay e desastrada que eles, com um toque extra de raiva e impulsividade.

     Empinando o nariz com raiva fingida, Keith começa a andar em direção a seu quarto — na verdade, ele apenas espera estar bem longe quando os dois começarem a se beijar de novo. Keith poderia até gostar de ver demonstrações de carinho, mas em certo ponto, era inevitável se sentir desconfortável.

— Não tão rápido, mocinho. — A voz de Adam o faz parar em seu caminho, olhando para trás e erguendo uma sobrancelha, em um questionamento silencioso. — Você ainda não fez seu dever de casa. — Keith geme, jogando a cabeça para trás em um movimento dramático de derrota, enquanto Shiro – o grande traidor – ri dele. Adam dá um tapa no braço de Shiro, que faz uma expressão de dor falsa. Keith tem que lutar para esconder seu sorriso de satisfação. — Vamos, eu vou te ajudar.

    Keith suspira, caminhando com Adam até seu quarto, enquanto Shiro se joga no sofá, pegando seu celular.

— E você, Takashi, pode preparar um lanche para nós três. — Keith sorri novamente quando Shiro protesta sobre estar com preguiça. Sim, ele ama essa família. — E não ouse colocar fogo em nada!

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