Oli: É, com certeza eu vou. ― Oli para de digitar por um ínterim antes de perguntar: ― Falou com a sua mãe?

Eu: Ainda não tive oportunidade. Mas eu vou. E o seu pai falou mais alguma coisa?

Oli: Não. Nada.

Eu não sei por quanto tempo continuamos conversando antes de eu começar a ouvir uma série de gritos vindos lá de baixo. Num primeiro momento imagino que seja só mais uma das discussões de mamãe e papai, mas então os gritos se intensificam e junto com eles o barulho de vozes desconhecidas.

Salto da cama e disparo pelo corredor com o coração aos pulos, minhas pernas mal sustentam o peso do meu corpo conforme me precipito pela escada. Os gritos ficam mais intensos a cada passada ― gritos embebidos em lágrimas.

As luzes da sala de estar foram todas acesas e corro para o meio dela, onde meus pais estão. Mamãe chora e treme dos pés à cabeça e seus olhos se nublam ainda mais quando ela me vê. Papai passa o braço em volta de seus ombros numa tentativa de trazê-la para junto dele e fazê-la parar, porém, ela o repele.

― O que houve? ― pergunto, assim que recupero o ar.

Faço menção de me aproximar, mas sou repreendida por um gesto de mão de papai. Apesar de aparentemente mais controlado que mamãe, seu rosto perdeu toda a cor e, por mais que tente demonstrar firmeza, ele também está tremendo.

― Volte para o seu quarto, Viola ― me adverte.

Mamãe esconde o rosto entre as mãos e afunda no sofá, chorando copiosamente. É o retrato do desespero. Ela está se afogando em dor, e sinto que estou me afogando junto com ela.

― Para onde o levaram? ― sua voz ecoa pincelada por lágrimas.

― Ele foi encaminhado para o Memorial, senhora ― alguém responde com voz firme. Então eu me viro e vejo dois policiais parados na porta.

Ondas de gelo se elevam em meu interior, quebrando em minha alma e me fazendo arrepiar de cima abaixo.

Dessa vez nem os braços fortes de papai conseguem me impedir de chegar até mamãe e abraçá-la.

― Foi o Liam, não foi? O que houve com ele?

Com um suspiro pesado, mamãe responde:

― Seu irmão sofreu um acidente.

A dor se espalha por todo meu corpo, comprimindo meus órgãos e me impedindo de respirar normalmente. E enquanto a abraço tudo o que consigo fazer é movimentar os lábios e sacudir a cabeça em negação.

De jeito nenhum eu ia ficar em casa enquanto meu irmão luta pela vida

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De jeito nenhum eu ia ficar em casa enquanto meu irmão luta pela vida. Nem sabemos ao certo o que aconteceu, os policiais não nos deram muitas informações, tudo o que nos foi dito foi que Liam sofreu um acidente e precisou ser encaminhado às pressas para o hospital. Imaginar Liam acamado em um hospital me deixa em pedaços e me faz pensar que assim como eu, todas as pessoas que eu amo são apenas um sopro, um fragmento no espaço tempo, uma partícula na história do universo; ainda essa tarde ele estava bem, dirigindo ao meu lado, falando coisas idiotas e me fazendo rir. Fico repetindo para mim mesma que ele é forte, que vai sair dessa, mas por mais que tente me manter positiva, o medo de perdê-lo às vezes me engole.

Viola e Rigel - Opostos 1Onde histórias criam vida. Descubra agora