A Promessa

9.9K 1.3K 1K
                                    

Que porcaria de roupa é essa que ela está usando? Não bastasse o macacão jeans que parece ter sido herdado de alguma tia avó obesa, ela ainda achou de colocar uma  coroa de margaridas no topo da cabeça

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.


Que porcaria de roupa é essa que ela está usando? Não bastasse o macacão jeans que parece ter sido herdado de alguma tia avó obesa, ela ainda achou de colocar uma  coroa de margaridas no topo da cabeça. Na boa, a cabeça dela parece um ninho de mafagafos.

― Oi ― acena.

Eu não conseguiria acenar de volta nem se quisesse. 

Às minhas costas a Sra. Talbot pigarreia, ao tempo que o sangue em minhas veias vira gelo e busco coragem para encarar meu pai.

Procure-me amanhã e me encontrará em um necrotério.

Mesmo não sendo um cara de fé começo a rezar, vai que alguém lá em cima decide me ouvir e de quebra lança um raio na cabeça da Cara de Coruja... ou na minha.

― O que faz aqui? ― a voz do meu pai corta asperamente o silêncio; o vinco entre suas sobrancelhas deixa nítido a irritação. No mesmo instante o sorriso da Cara de Coruja se converte em uma linha reta, ela para de oscilar na ponta dos pés e se vira para ele com olhos vidrados. ― Não bastou tê-lo empurrado da escada, veio tentar terminar o serviço?

A boca da Cara de Coruja se escancara e ela se vira para mim com uma expressão petrificada, parece esperar que eu diga algo, que a defenda. Por mais aterrorizante que seja a perspectiva de enfrentar o meu pai, acabo tirando coragem não sei de onde para fazê-lo:

― Ela não me empurrou da escada, pai ― resfólego. ― Eu tive uma crise de pânico e escorreguei, o senhor sabe disso. A Beene só estava tentando ajudar, foi uma sorte ela estar por perto quando aconteceu.

― Claro que sim ― ele rebate, deixando mais do que evidente que não engoliu uma só palavra do que eu disse.

Com um pigarro, o Sr. Prescott se intromete:

― Senhorita Beene, agora que já constatou que ele está bem, pode ir saindo. Não é da família e o Sr. Stantford já deixou bem claro que a sua presença aqui não é bem-vinda. ― Ele avança em direção à porta e a escancara ― Pode ir andando.

― Mas...

― Mas nada. Se não fizer o que estou dizendo vai levar uma advertência.

― Uma advertência? Não há nenhuma regra contra visitar um amigo na enfermaria, senhor, e eu sei disso porque li cada uma delas.

― Esta é a minha escola, e na minha escola eu dito as regras, mocinha.

― Isso não é nem um pouco ortodoxo, não pode inventar uma regra nova sempre que for conveniente, pelo que me consta toda regra precisa passar pelo conselho antes de ser estabelecida. E o senhor não é o dono da escola, apenas o diretor.

O Sr. Prescott revira os olhos, impaciente.

À minha retaguarda a enfermeira Talbot limpa a garganta numa tentativa furada de conter o riso, que escapa baixinho por entre seus dentes. Enquanto isso eu respiro fundo e tento me manter o mais calmo possível, atento à expressão desdenhosa do meu pai.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now