Intensos

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(JÁ AVISO PRAS CRIANÇAS NÃO LEREM)

Nayle

Lá estava eu, curtindo meu eterno tédio e fama de garota má, sentada em um dos rabiscados bancos do reformatório, eu particularmente odiava tais atos de vandalismo, mas eu ainda não podia controlar aquelas marionetes de testosterona avançada, em que maioria literalmente só servia para uma coisa, e por mais que saber disso me tornasse uma vadia aos olhos da sociedade, eu não me importava, pois fazia parte da triste luta que ainda tínhamos que travar, pois a tal era "moderna", ainda achava extremamente normal os homens serem os senhores do sexo, mas as mulheres tinham que ser apenas as recatadas submissas, que fingiam não ter pensamentos eróticos com metade dos caras sem camisa, que saiam do campo de futebol aos domingos, porém os mesmos deixavam claro os olhares para as lideres de torcida enquanto elas dançavam, e estava tudo ótimo. A
mais clara e cristalina verdade é que o famoso título de "macho alfa" ainda era colocado no mais babaca e tóxico de todos os garotos. Pra mim um verdadeiro macho alfa é aquele que respeitava meu espaço, me deixava ser quem sou, sem cobrar a capa de puritana que muitas vestiam pra agradar alguns babacas, esse mesmo tinha que ser atencioso e inteligente, nada de acéfalos hormonais, eu achava extremamente atraente a intelectualidade nas palavras de um garoto que falava daquilo que gostava, sem se importar com o que diriam dele, ou com a masculinidade que em hipótese alguma deveria ser abalada, esses sim me atraiam, pena que são uma espécie em extinção, com maioria dos que já fiquei me decepcionei bastante, descobrindo que eram a própria definição de "Chernoboy", mas teve um diferente, um que realmente se importou com o que eu pensava, que ouvia meus delírios e surtos com algo que eu gostava, ou odiava. Mas como tudo bom na minha tediosa e azarada vida, ele foi embora, e eu nem estou dizendo que o que fez a gente parar de se falar foi o repentino sumiço dele, pois eu já tinha brigado com ele antes disso, e por mais que eu esteja assumindo o quão perfeito ele era, eu também assumo que não dávamos certo, pois também éramos perfeitamente imperfeitos um para o outro, e não era como naqueles relacionamentos tóxicos, era só que ele amava debater comigo, sempre tínhamos um assunto com opiniões divergentes quando estávamos em público, mas até mesmo o debate era lindo de ver, como cada um exibia sua idéia com perfeccionismo e talento, no quarto éramos impecáveis, deixavamos de lado as palavras bonitas que líamos nos artigos de debate, para falar as mais sórdidas e quentes loucuras na cama, eu amava como ele se importava em me dar prazer, e não era como a maioria que só pensava no seu próprio orgasmo, ele sabia como me deixar a vontade, e se cedia a mim na mesma intensidade que eu cedia a ele, era uma dupla renúncia que fazia com que fossemos um do outro ali, mas era só ali, naqueles momentos de desventuras juvenis, pois ao sair do quarto já discordavamos de algo, da cor do corredor até a gravata que o diretor do reformatório estaria usando, confesso que sinto uma dose de saudade dos debates bem formulados que tínhamos. E foi desses surtos de lembranças  que fui interrompida, o diretor queria falar comigo, disse que eu fui escolhida para uma experiência nova, que cientistas renomados estariam pesquisando, e meu gene era perfeito para ser tirado uma amostra, eu não tinha muito a perder já que ofereceram minha carta de alforria desse lugar, se eu participasse da pesquisa, só que como na maioria das coisas, não era a chance brilhante que parecia, e sim uma sórdida vontade do governo de usar jovens como cobaias para satisfazer seus feitiches estranhos de vitorias em batalhas, queriam que fôssemos armas em campo de guerra, e eu não estava nada disposta a abrir mão do que eu mais prezo, minha liberdade. Ainda bem que fui resgatada antes de me colocarem para sobreviver a tiros e granadas, se é que ainda usavam essas armas de impacto tão pequeno nas guerras, a única crítica que tive a fazer quando acordei em um colchão no chão de um apartamento simples, foi em relação a quem supostamente me salvou, bom era ele, o maior motivo das minhas crises de curiosidade, pois por volta e meia me pegava questionando o destino onde diabos meu par imperfeito havia ido parar, e ele meio que me respondeu né, ele estava sendo usado como cobaia também, mas pelo que me contaram, com eles a situação chegou em um estágio pior do que foi comigo, e isso me fazia questionar se ele ainda era o mesmo Theo do reformatório, pelo menos a síndrome de heroísmo ele ainda esbanjava, afinal salvou quatro jovens, a princípio "inocentes" de serem usados como ele foi, mas óbvio que ele não fez isso sozinho, parecia ter novos amigos, Jenna por exemplo me chamava atenção, parecia ser do tipo de pessoa que eu me daria bem, mas ele também preservou amizades de cela, como Loren, que continuava me olhando com um tom desafiador, acho que alguém tem que avisa-la que eu não estou nada disposta a brigar por macho, por mais que fosse o Theo, o melhor garoto que já conheci, nutrir essa rivalidade feminina boba só iria inflar o ego dele, e eu definitivamente não queria isso.
Nayle (off)

Após eles contarem toda história para as recém cobaias acordadas, a maioria agradeceu e foi embora, mesmo Theo discursando que o melhor era eles ficarem juntos, Nayle o ajudou na tese e por uma das raras vezes os dois estavam concordando em algo, e isso deixava Loren um pouco apreensiva. Mas assim como era esperado os mais novos mutantes da cidade não estavam dispostos a ficarem juntos como uma família, apenas Nayle ficou após a reunião e Theo a agradeceu pelo o apoio. A noite chegava silenciosa e Theo não queria dormir, com um frustrante medo de se tornar algo que ele não pudesse controlar, ele tomou bastante café e ficou andando na sala, repetindo consigo mesmo que não poderia dormir, Nayle levanta para ir ao banheiro e ouve os passos aflitos de Theo na sala, a mesma vai ver do que se tratava, viu Rafael rocando no sofá e o jovem inquieto, já sem ideias do que fazer para ficar acordado.

-Você deveria dormir, descansar faz bem sabia?-diz Nayle abrindo a geladeira e pondo água em um copo.

-Eu estou evitando dormir, mas obrigado pela dica.-diz Theo com um sorriso rápido que mais pareceu a expressão do "obrigado, mas não preciso".

-Ta, mas desse jeito vai acabar acordando todos da casa, da pra ouvir seus passos la do quarto.-replica Nayle.

-Rafa ta dormindo aqui do lado, não acho que meus passos serão um problema.-Responde Theo um tanto Ríspido.

-Esse ai parece mais estar morto que dormindo.-Retruca Nayle com um tom de deboche.

-Por que eu te perturbo tanto heim?-diz Theo chegando perto de Nayle.

-Por que você é irritante, e essa sua mania de ficar acordado sem motivo aparente faz tudo ficar pior, sem contar que vai acabar acordando todo resto da cas...-antes que pudesse terminar seu discurso firme, Nayle é interrompida por um beijo repentino de Theo, que ja estava bem próximo da garota.

-Mas que absurdo, han...-diz ela estalando um tapa na cara de Theo após parar o beijo do mesmo.

-Desculpa, eu não queria infringir seu espaço, eu juro que nunca quis te desrespeitar assim, é que ta tudo me deixando louc...-E dessa vez quem foi interrompido por um beijo foi ele, que retribuiu o mesmo com intensidade, pondo Nayle sentada em cima da mesa.

-Parece que vou te dar um motivo pra ficar acordado...-Diz Nayle tirando a camisa de Theo nas breves pausas dos ardentes beijos.

-Eu te agradeço por isso, seria uma noite tediosa...-Ele sussurra no ouvido dela, com as mãos por dentro de sua blusa, ela já estava sem sutiã e gemia baixinho aos toques de Theo.

Aquela não era nem de longe a demonstração sexual mais intensa que ja tiveram, mas não podia fazer muita coisa com Rafael dormindo na sala, por mais que não parecesse os dois preservavam a intimidade, procuraram manter os gemidos baixos e não tiraram todas as roupas, Theo só abaixou sua calça moletom, e subiu a saia de Nayle, e naquela não tão silenciosa noite eles tiveram um excelente motivo pra ficarem acordados, pois após um tempo constante de prazer, os dois sentaram na sacada e apreciaram o céu, e por um breve momento Theo segurou a mão de Nayle, ela olhou pra ele e sorriu tímida, ele era o único que conseguia corar aquelas singelas bochechas, e os dois jogaram papo fora o resto da noite, falaram sobre o que gostavam e não gostavam, eles pareciam ter mais em comum do que pensavam, e a forma como os dois eram intensos com o que gostavam, era sem duvidas o mais poderoso motivo para concordarem, uma concordância que refletia no brilho do olhar dos dois, era mais que evidente que se gostavam, e tornavam isso extremamente intenso, a única dúvida é se isso era o bastante para fazer os dois felizes, juntos. 

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