O Castelinho da Rua Apa - São Paulo (SP)

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Para você, o que é sucesso? Cada pessoa tem a própria definição do que significa vencer na vida. Em linhas gerais, muitos concordariam que ser bem sucedido significa ter dinheiro. Posses. Prestígio. Poder. Frequentar os círculos mais exclusivos da sociedade. Para muitos é apenas sonho, mas era a realidade de Álvaro Cézar dos Reis. Advogado, família tradicional, frequentava os endereços maios badalados de São Paulo nos anos 30. Apesar da fama de playboy, tinha um namoro firme com a socialite Maria Candida Bueno, conhecida na alta roda paulista como Baby. Os dois formavam o casal mais invejado da capital paulista. O falecido pai fez questão de ostentar o status da família Reis, a começar pela residência. Uma casa digna da família Reis seria, é claro, um castelo.

Rua Apa  nº 236, esquina com a Avenida São João, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. Pode parecer difícil de acreditar, mas aquele já fora um endereço nobre de São Paulo, antes da construção do elevado Presidente João Goulart, o famoso minhocão. A área costumava ser frequentada pela elite. A construção de um castelo nos moldes europeus trouxe até o turismo para a área. Todos queriam ver com os próprios olhos o Castelinho da família Reis. No entanto, aquela estrutura, inspirada no modelo dos castelos medievais da França, foi erguida no endereço considerado pelos radioestesistas o ponto mais negativo da cidade de São Paulo. Localizado numa bifurcação, sobe um veio de água subterrâneo, num endereço cuja soma dos algarismos equivale ao número 11, reverenciado pelos praticantes de magia negra. Os mais céticos podem falar em tolas superstições, mas a verdade é que a família Reis nunca se sentiu verdadeiramente à vontade na elegante nova residência. Pesadelos e insônia eram constantes reclamações dos moradores. Tanto que, após o falecimento do patriarca, o médico Virgílio César dos Reis, a viúva Maria Cândida Guimarães dos Reis e seus dois filhos Álvaro e Armando decidiram se mudar para uma outra residência, reservando o castelo da Rua Apa apenas como o escritório da família.

A solução trouxe paz para as noites, mas os dias passados dentro do castelinho continuaram tensos. A relação entre os irmãos, sempre harmoniosa, ganhava tons de ressentimento e desconfiança quando ambos se reuniam na Rua Apa.

Apesar de ser a encarnação do sucesso, Álvaro era movido por um desejo empreendedor. Seu último projeto pretendia ser a sensação do verão na pauliceia da década de trinta: uma pista de patinação no gelo. Uma ideia ousada para as possibilidades tecnológicas da época, mas Álvaro tinha convicção de que, com os investidores certos, seria capaz de fazer a alta classe de São Paulo deslizar como se estivessem no inverno europeu. Baby, apaixonada, apoiava os planos do pretendente.

Já Armando, o irmão caçula, tinha uma visão mais comedida sobre esse ousado empreendimento. Sua recusa em endossar as iniciativas de Álvaro se intensificava a cada dia.

Dona Maria Cândida sofria com o distanciamento cada vez mais evidente entre os filhos e sentia que estava perdendo o controle da família.

No dia 12 de maio de 1937, Elza Lengfelder, cozinheira que morava em um anexo do castelinho, ouviu tiros e saiu à rua para chamar a polícia. O que eles encontraram no local permanece sem explicação até hoje.

Álvaro, Armando Cézar e a mãe, Maria Cândida, foram encontrados mortos a tiros. Uma pistola automática, calibre 9 milímetros, ao lado dos corpos dos dois irmãos. Um duplo homicídio seguido de suicídio ou um triplo homicídio?

A Polícia Técnica e os legistas do Serviço Médico-Legal de São Paulo apresentaram laudos contraditórios. A primeira apontou Álvaro como o autor dos crimes. Ele teria assassinado a mãe e o irmão e depois se suicidado com dois tiros no coração. Porém, os legistas disseram o contrário: Armando que teria assassinado a mãe, o irmão e depois se matado. Como evidência, afirmaram ter encontrado resíduo de pólvora na mão dele, indicando que Armando havia manuseado a arma.

A polícia também afirmou que "Dona Candinha" fora assassinada com três tiros. Mais tarde, ficou confirmado que morrera em consequência de quatro tiros, um dos quais pelas costas. Dois projéteis retirados do corpo eram de um calibre diferente, mas a segunda arma nunca foi encontrada.

E ainda mais estranho, os corpos estavam dispostos assimetricamente, lado a lado no chão da sala. Pernas e braços esticados ao longo do corpo, como se tivessem sido posicionados depois do ocorrido. Um cenário que reforçava a teoria de uma quarta pessoa presente na casa.

Por conta destas contradições surgiram grupos a favor e contra a inocência de Álvaro. Um dos defensores foi sua amada "Baby". Uma mulher liberal, culta e à frente de seu tempo. "Baby" sempre defendeu a inocência do namorado. A partir da morte de Álvaro, "Baby" passou 51 anos consecutivos colocando flores no túmulo de Álvaro no cemitério da Consolação em São Paulo, sempre nos dia 12 de cada mês, já que fora encontrado morto no dia 12 maio de 1937 . O ritual durou até 1988, ano em "Baby" faleceu aos 97 anos. Um parente paga até hoje a uma floricultura para deixar flores no túmulo todo dia 12.

Alguns anos depois da tragédia, o comediante Ankito, um dos maiores nomes das chanchadas da Atlântida, se mudou para o castelinho. O humorista relatou que era comum à noite ouvir pessoas andando nas escadas, as portas e janelas se abrirem e ao amanhecer encontrar as torneiras abertas.

Logo após a mudança, outra família morou no local e teve contato com fenômenos estranhos e aparições inexplicáveis.

Tanto o passado trágico quanto os relatos assombrosos resultaram no processo de abandono e degradação do castelinho, que chegou à década de oitenta transformando em um depósito de sucatas e ferro velho. E mesmo entregue ao tempo, a arquitetura continuou atraindo os desavisados.

José Mojica Marins (o famoso Zé do Caixão) ao filmar nas dependências do castelinho sofreu um acidente que levou os bombeiros a derrubarem todo o assoalho do andar superior da construção. Teria o assustador Zé do Caixão sido vítima dos espíritos do castelinho?

O fato é que, quem passa pelo castelinho na madrugada relata ouvir choros e sons como os de correntes arrastadas dentro da construção.

Há quem diga que a tragédia misteriosa da família Reis foi causada por influência das criaturas malignas que habitam a área mais misticamente negativa da cidade.

Maria Eulina, Fundadora do Clube de Mães do Brasil que opera no prédio vizinho ao castelo, também relatou ter presenciado eventos sobrenaturais, além de sentir que o lugar possui uma energia negativa, como a presença da figura de um rapaz dentro do castelinho. Uma sombra misteriosa cuja aparição costuma ser observada no dia 12, sempre acompanhada pelo cheiro de flores. 

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