Cap. 01 ‎──‎─ Ataque

3K 246 436
                                    

Era a terceira vez, a terceira vez que o acampamento de Any estava sendo atacado por uma grande manada de walkers. O desespero de seu grupo era inegável. Possuíam um armamento fraco, o que contribuía para as mortes cada vez mais frequentes nos últimos dois meses de apocalipse.

Em meio à floresta, escura e densa, e o medo que carregava em seu peito, a garota não se preocupava em fugir ou se salvar daquela grande horda. Sua única preocupação era o desaparecimento de sua irmã mais nova, Belinha.

Ela sempre foi o motivo de seu desespero. Doze anos mais nova que Any, Belinha era uma garota doce que não conseguiria se cuidar sozinha. E Any sabia perfeitamente disso. O que a deixava mais angustiada por tê-la perdido após aquele ataque.

Faziam-se três semanas desde que o pai das garotas havia sido morto por um zumbi na segunda invasão ao acampamento. E desde então, são somente as duas contra o mundo. Ou melhor, contra milhões de zumbis. A irmã era sua única responsabilidade, e agora ela a havia perdido.

Sem rumo algum, ela desbrava a floresta à procura de sua irmã, mas os mortos-vivos estavam por toda parte, e a garota sabia que se morresse, não a encontraria nunca mais. Tomada pelas lágrimas, ela se encosta em uma das árvores, tentando se acalmar. Mas é surpreendida ao sentir dois braços agarrarem seu corpo por trás, prendendo-a contra o tronco. Tenta se soltar de vários jeitos, e ao ver mais dois zumbis se aproximando, se desespera.

Coloca a perna direita em sua frente, impedindo que o patife se aproximasse mais. Consegue pegar a faca em sua cintura e a acerta em sua cabeça. Ela havia se livrado de um. Faltavam dois. Ela reúne forças e consegue quebrar o braço do zumbi que a segurava, e depois o mata com uma facada no crânio. Fez o mesmo com o terceiro.

Mesmo desnorteada, ela continua correndo pela floresta, gritando pelo nome da irmã enquanto é respondida por gemidos de dor de outras pessoas. Consegue encontrar o trailer onde estavam passando a noite, e rapidamente sobe as escadas da parte de trás do veículo, indo para o teto.

Lá em cima, com medo, chorando e preocupada, ela encara as estrelas no céu, ouvindo grunhidos das criaturas horrendas que dominaram a Terra da noite para o dia. Com sua faca em punho, ela permanece, como se aquele objeto fosse uma extensão de seu braço. O que realmente se tornou.

Em sua cabeça, se passavam flashbacks dos últimos meses normais de sua vida, ao lado de sua família e amigos. Esgotada, ela tenta liberar sua raiva soltando um alto grito de dor que ela carregava em sua alma. Guardando mágoas de um passado que se tornava cada dia mais distante e de pessoas que nunca mais voltariam.

Mas com Belinha era diferente. Ela trazia consigo a obrigação de protegê-la, por isso, nunca desistiria de procurá-la. Ao fechar seus olhos, a imagem da boneca que ela sempre carregava, e o casaco azul que estava vestindo, viajavam por sua mente. Uma garotinha tímida e tranquila, e bastante cuidadosa, pois nunca havia fraturado um osso sequer.

Ela estava sozinha, após o grande massacre que deu fim ao seu grupo. Mas não fim à sua esperança de que algum dia, sua vida voltaria ao normal. Ou pelo menos quase. O medo envenena seu sono, nubla os pensamentos e pressiona seu coração. O medo nos obriga a fazer coisas.

•••

Algumas horas depois, a garota acorda com o brilho da luz do Sol em seu rosto. Pega sua faca que estava um pouco distante e se assenta. Olha em volta do trailer, não encontrando nada ou ninguém, apenas corpos jogados ao chão. Desce as escadas e entra no carro. Pega sua mochila e coloca alguns mantimentos e coisas úteis que ela iria precisar durante sua jornada à procura de sua irmã.

Ela se lembrava como foi difícil encontrar um grupo que os aceitasse. Pois pessoas boas eram raras nesse novo mundo. Mas se você continuar pensando que todo mundo é inimigo, então inimigos são tudo que você vai encontrar. E agora estavam todos mortos. As pessoas boas sempre morrem. E as pessoas más também. Nesse novo mundo, ninguém sobrevive.

Alguns zumbis ainda vagavam pela floresta, e mesmo que a garota matasse alguns, sempre apareciam outros para atacá-la. E matar todos que aparecessem em seu caminho, só a deixaria mais cansada. Continuou andando por horas até encontrar um grupo de zumbis em seu caminho. Lutando contra todos aqueles walkers, estava Sabina.

Any ficou feliz em vê-la, pois era a primeira pessoa viva de seu acampamento que ela via nas últimas horas. Ela correu até a garota, e a ajudou a matar os zumbis que a tentavam morder. Assim que enfiou sua faca no último crânio, correu até a garota e a abraçou. Aliviada, por enfim ter encontrado alguém pela floresta.

- Quando o acampamento foi atacado eu não consegui encontrar ninguém. Passei a noite em uma árvore com vários zumbis grunhindo durante toda a madrugada. De manhã, eu fui atacada pelo Max. E eu precisei matar ele. Foi a coisa mais difícil que fiz. - Sabina confessou, se ajoelhando no chão ao lembrar de seu namorado. - Eu não tive escolha. - Any se abaixou em sua frente e a abraçou. Pois sabe que não é fácil matar quem amamos. ‎Sabina secou suas lágrimas e se levantou, dando a mão para que Any se levantasse também. - Onde está Belinha? Não me diga que... - A voz da garota não saiu, e no mesmo instante, Any começou a chorar também.

- Eu não sei! ‎Estava tudo tão escuro. Eu acho que ela morreu. Ela é só uma criança. Está sozinha. Com medo. Com fome. Não vai sobreviver sozinha nessa floresta. - Por mais difícil que fosse admitir, ela sabia que seria praticamente impossível encontrar a garota sã e salva. - Eu não quero perdê-la. É a única família que eu tenho.

- Nós vamos encontra-lá. Eu prometo. - Disse Sabina, a abraçando com força. A outra garota também sabia que provavelmente a menininha estava morta, mas queria confortar a amiga e também receber um abraço em troca. - Vamos procurá-la. Não importa o que aconteça, nós vamos encontrá-la. - Any logo concordou, suspirando fundo. Se desviaram dos corpos dos zumbis ao chão e continuaram andando juntas pela floresta à procura de Belinha.

Os dias eram difíceis após o início do apocalipse, mas não se engane. Por mais difícil que fosse, a vida não era ruim. Onde há vida, há esperança, heroísmo, benevolência e amor. Onde há vida, há vida. E nenhum deles queria se afastar disso.

𓂅

The Rain
@lilywritting | 2024

The RainDonde viven las historias. Descúbrelo ahora